Economia

Turbulência cambial mostra vencedores na América Latina

Em meio à pior desvalorização cambial nos mercados emergentes desde a crise global, alguns países podem manter as esperanças


	Câmbio
 (REUTERS/Bruno Domingos)

Câmbio (REUTERS/Bruno Domingos)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2015 às 17h34.

Em meio à pior desvalorização cambial nos mercados emergentes desde a crise financeira global, alguns países em desenvolvimento podem manter as esperanças.

Os países produtores de commodities da América Latina, que viram suas taxas de câmbio caírem a baixas recordes, poderão acabar sendo os maiores vencedores, pois dessa forma suas exportações se tornam mais baratas e atrativas.

As fábricas dos países tendem a se beneficiar após perderem sua vantagem competitiva nos mercados globais na última década pelo fato de os preços mais elevados de produtos como cobre e petróleo terem empurrado as moedas para cima e restringido a produção local.

O peso colombiano, após ajuste por negociação e inflação, caiu 25 por cento nos últimos 12 meses, segundo dados até julho do Banco de Compensações Internacionais.

No Brasil, o real registrou um declínio de 18 por cento segundo a mesma medida, enquanto a moeda do México perdeu 12 por cento.

A China, que estimulou a última onda de turbulências com a desvalorização da semana passada, viu o maior ganho -- 15 por cento -- quando ponderados o comércio e a inflação.

“Parte desses declínios agudos nas moedas dos mercados emergentes não são ruins, considerando o quadro de crescimento e o prêmio na ampliação das exportações”, disse Nicholas Spiro, diretor-geral da Spiro Sovereign Strategy, firma de consultoria de Londres. “Desde que isso não mine a estabilidade financeira”.

O empurrão no crescimento provocado pelas moedas mais fracas vem em um momento conveniente para a América Latina, pois a projeção é que a economia como um todo não registre expansão neste ano, o que seria o pior desempenho regional do planeta, segundo economistas consultados pela Bloomberg.

Os ganhos competitivos de uma taxa de câmbio efetiva real darão impulso a países como Colômbia e México, disse Ilan Solot, da Brown Brothers Harriman.

México, Colômbia

O setor industrial do México deverá tirar proveito de uma combinação de peso mais fraco e melhora do crescimento dos EUA, seu maior parceiro comercial, segundo Chris Chapman, trader da Manulife Asset Management em Londres.

“Trata-se de uma economia que vem trabalhando para levar as reformas adiante e que está bem posicionada para tirar proveito da maior força dos EUA”, disse Chapman, cuja firma supervisiona US$ 302 bilhões.

“De fato, boa parte da produção que anteriormente teria ido para o Canadá se realocou no México”.

O ministro da Fazenda da Colômbia, Mauricio Cárdenas, que em 2013 chamou a força do peso de “a mãe de todos os problemas”, comemorou a queda para uma baixa recorde deste mês.

“O país estava em uma tendência de valorização que gerava grandes dificuldades para a indústria, a agricultura e o turismo, e em meio à queda nos preços do petróleo é necessário que a economia tenha novas fontes de crescimento, que se ajuste a esse novo preço do dólar”, disse o ministro a repórteres no dia 13 de agosto em Cartagena.

Desvalorização do yuan

A China ajudou a provocar essa última parte da queda cambial internacional com uma desvalorização surpresa do yuan depois que a valorização da taxa de câmbio, de 2005 para cá, minou sua competitividade.

A segunda maior economia do mundo não pode restaurar sua vantagem nas exportações desvalorizando muito mais o yuan, segundo Edwin Gutierrez, que ajuda a gerenciar US$ 13 bilhões como chefe de dívida soberana de mercados emergentes da Aberdeen Asset Management Plc.

O tiro sairá pela culatra porque provocará ondas de desvalorização entre seus concorrentes nas exportações, disse ele.

Pode demorar, mas uma moeda mais fraca e mais competitiva é uma mudança bem-vinda para os países que viram seus setores industriais encolherem nos últimos anos, segundo Mario Castro, estrategista da Nomura Holdings Inc. em Nova York.

“Uma verdadeira melhora será vista em alguns anos depois que esses países se organizarem e seus setores industriais estiverem em boa forma para exportar”, disse Castro.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaBloombergCâmbioEmpresasMoedas

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto