Paulo Guedes, ministro da Economia, lidera a discussão sobre a proposta (Sergio Moraes/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 9 de fevereiro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2019 às 08h00.
São Paulo - Esta foi a semana em que começaram a ficar mais claros os detalhes da reforma da Previdência que será enviada ao Congresso Nacional pelo governo de Jair Bolsonaro.
Principal prioridade da equipe econômica, o projeto é visto como essencial para garantir a sustentabilidade do teto de gastos a partir de 2020 e garantir a solvência de longo prazo do país.
Após a eleição de Rodrigo Maia para presidente da Câmara dos Deputados e de Davi Alcolumbre para presidente do Senado Federal, o ano legislativo começou oficialmente e o governo entrou em campo.
O secretário da Previdência, Luiz Marinho, prevê que a proposta seja apresentada publicamente entre os dias 19 e 21 de fevereiro ou quando a saúde do presidente Jair Bolsonaro permitir, mas o debate já está esquentando.
Veja como o assunto evoluiu nos últimos dias:
A proposta vazada
Na segunda-feira, o jornal O Estado de S.Paulo publicou detalhes de uma minuta vazada da reforma, incluindo a fixação de uma idade mínima de 65 anos tanto para homens quanto para mulheres se aposentarem.
O tempo de contribuição mínimo para receber qualquer aposentadoria no INSS subiria de 15 para 20 anos, com o valor do benefício subindo de forma progressiva.
Benefícios assistenciais seriam desvinculados do salário mínimo e não poderia haver acumulação com pensões. Para trabalhadores rurais, a idade mínima de aposentadoria seria 60 anos .
O governo alegou que esta é uma de várias propostas em análise e que o martelo será batido apenas pelo presidente.
O timing
“O regimento vai ser respeitado. Não quero tensionar relacionamento com oposição e minoria. O tempo para votação é o tempo da maioria, mas vamos respeitar minoria”, afirmou Maia.
A previsão dele é que após ser apresentado, o texto poderia passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em três semanas, ser aprovada pela Câmara já em maio e passar pelo Senado em junho ou julho. A bolsa caiu e o dólar subiu no dia com a perspectiva de um processo estendido.
"O mercado financeiro estava muito afoito por uma aprovação rápida e ficou estressado com a possibilidade de que ela seja mais longa", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
A coordenação política
Maia diz que o governo vai trabalhar para garantir, em dois meses, que haja de 320 a 330 votos garantidos a favor da proposta. O mínimo necessário para aprovação em cada turno é 308 votos.
Ele diz contar com o apoio de prefeitos e governadores, inclusive da oposição, pois eles também enfrentam uma situação dramática para pagar as aposentadorias de servidores.
Mas restam dúvidas sobre a capacidade de articulação política do governo e sobre o compromisso com um texto mais duro do próprio presidente e de membros importantes como o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
"Tem muitos fios desencampados ainda, com duas pontas de estresse: qual será a reforma, e se a política e a economia estão coesas. Esperamos a reforma mais forte possível, e se começar com uma já fraca, o mercado não vai gostar", diz Vale.
A estimativa de economia
Na terça-feira, Guedes declarou que governo busca uma economia de pelo menos 1 trilhão de reais em 10 anos com a reforma da Previdência.
A equipe de economistas do Itaú fez os cálculos com base na proposta vazada e chegou a basicamente o mesmo número: economia de R$ 1,05 trilhão em 10 anos.
O projeto inicial do governo Temer previa uma economia de pouco menos de 800 bilhões de reais em uma década. A segunda versão, já suavizada, economizava cerca de 480 bilhões de reais no mesmo período.
A controvérsia militar
Uma das dúvidas da reforma era se ela afetaria os militares, que tem peso relevante tanto na composição do governo Bolsonaro quanto no déficit do sistema previdenciário brasileiro.
A equipe econômica sempre destacou a necessidade de liderar pelo exemplo e não deixar ninguém de fora, com apoio do General Hamilton Mourão, mas houve manifestações contrárias de líderes militares.
A ligação trabalhista
Uma matéria do jornal O Globo na quinta-feira (07) indicou que a reforma também poderia abrir caminho para mudanças na legislação trabalhista ao criar a "carteira de trabalho verde e amarela".
Promessa de campanha de Bolsonaro, ela daria ao trabalhador a opção de abrir mão de direitos em troca de uma suposta maior empregabilidade.
Ela poderia inclusive já estar vinculada a um novo sistema de capitalização nas aposentadorias, outra promessa de Guedes que poderia ser incluída na reforma e regulada posteriormente.
Apesar de já ter dito que a reforma inauguraria "um novo regime previdenciário e trabalhista", Guedes negou prontamente que vá juntar os temas: