Alexis Tsipras, primeiro-ministro da Grécia: país enfrenta hoje duas reuniões cruciais, uma do Eurogrupo e uma cúpula com os chefes de Estado e de governo dos países da zona do euro (REUTERS/Paul Hanna)
Da Redação
Publicado em 7 de julho de 2015 às 10h23.
Atenas - A Grécia está nesta terça-feira com os olhos postos em Bruxelas, onde o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, tentará reiniciar as negociações com os credores, desta vez com o apoio de todos os líderes da oposição grega.
O presidente dos Gregos Independentes e aliado do governo, Panos Kamenos, afirmou hoje que "é a primeira vez que o povo grego vai a Bruxelas com união nacional, para pedir mais uma vez uma solução que leve o país ao crescimento, com um caminho fixo que demonstre que nas democracias é o povo quem decide e não os centros de poder".
Após uma primeira rodada frenética de conversas ontem entre Tsipras e líderes internacionais, a Grécia enfrenta hoje duas reuniões cruciais, uma do Eurogrupo (órgão que reúne os ministros de Economia e Finanças da zona do euro) e uma cúpula com os chefes de Estado e de governo dos países da zona do euro.
A vitória do "não" no referendo de domingo, além do roteiro assinado com os demais partidos do país, a exceção dos comunistas e dos neonazistas, devem dar força à equipe de Tsipras para negociar.
Mas as mensagens do outro lado não dão a entender por enquanto que tenha mudado o ambiente hostil com o executivo grego.
Segundo fontes comunitárias citadas pelo jornal "Kathimerini", 16 dos 18 países da zona do euro estariam a favor de deixar a Grécia sair da união monetária.
Um dos dois únicos países amigos poderia ser França, a julgar pelas palavras de hoje do primeiro-ministro, Manuel Valls, que afirmou que a Europa não pode assumir o risco de uma saída da Grécia da moeda única por razões econômicas, mas, sobretudo, por razões políticas.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, qualificou este cenário como uma questão de "egos", que deveriam ser deixado de lado para evitar o "grexit".
Mas nas ruas de um bairro central de Atenas, a euforia com o resultado do domingo deu lugar a um ar de fatalismo, à espera de uma "vingança" dos sócios, por terem dado uma mensagem contrária a que eles esperavam.
"Haverá um acordo, mas não fará com que a situação do povo melhore. Tanto em dracmas como em euros, o problema é o sistema, que deixa os ricos mais ricos e os pobres mais pobres", disse Kuluris, um comerciante de 60 anos.
No roteiro de negociação com os credores, publicaram junto com os partidos gregos pró-europeus na segunda-feira, se pede um acordo que satisfaça o financiamento do país com reformas baseadas em um critério fiscal de redistribuição justa, que fomente o crescimento e evite a recessão, e o compromisso de um debate sobre a sustentabilidade da dívida.
Segundo a imprensa local, a oferta que a Grécia poderia apresentar aos sócios se aproximaria da publicada pela Comissão Europeia depois da convocação do referendo, que, segundo o governo de Atenas, nunca tinha estado formalmente sobre a mesa de negociações.
Maria, trabalhadora do setor privado e mãe de uma menina de oito anos, acredita que a única coisa que a Grécia conseguirá é "um acordo que nos castigue ainda mais".
Em meio a uma política de controle de capitais, que se estenderá pelo menos até a próxima quinta-feira, a situação financeira da Grécia está em um momento delicado, ficando sem dinheiro e dependendo totalmente do Banco Central Europeu (BCE), como se fosse um paciente entubado.
O BCE decidiu ontem manter o volume de liquidez de emergência máxima que os bancos gregos podem pedir ao Banco da Grécia em 89 bilhões de euros, mas esclareceu que darão menos dinheiro por cada ativo que apresentarem como garantia.
Com isto o BCE evita que os bancos gregos quebrem definitivamente, mas aumenta a pressão em cima do governo para que chegue a um acordo com seus sócios europeus.
O governo acredita que se a cúpula de hoje em Bruxelas enviar uma mensagem positiva, que aponte para a reabertura das negociações entre a Grécia e seus credores, o BCE poderia voltar a abrir a torneira das injeções de liquidez, o que evitaria o colapso definitivo dos bancos.
Apesar da incerteza, os mercados financeiros continuam a reagir com relativa calma aos eventos na Grécia, como mostraram os fechamentos das bolsas ontem.
Na zona do euro as avaliações também começaram em nível técnico, dentro do chamado Grupo de Trabalho do Euro, assim como no Conselho do BCE, e em escala bilateral entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, que tiveram um jantar de trabalho ontem em Paris.