Economia

Trump vai expor países responsáveis por déficit comercial dos EUA

Trump quer assinar dois decretos que se concentram nas causas e nos culpados pelo déficit de mais de meio trilhão de dólares, em 2016

Trump: essa decisão ocorre uma semana antes de uma visita do presidente chinês, Xi Jinping (Carlos Barria/Reuters)

Trump: essa decisão ocorre uma semana antes de uma visita do presidente chinês, Xi Jinping (Carlos Barria/Reuters)

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AFP

Publicado em 31 de março de 2017 às 14h05.

O presidente Donald Trump orientará nesta sexta-feira sua equipe a identificar e nomear os países e os bens responsáveis pelo déficit comercial americano de 50 bilhões de dólares por mês, em uma clara mensagem a um grupo de países que inclui a China e o México.

Em 2016, o déficit comercial americana ultrapassou a astronômica soma mais de meio trilhão de dólares (mais precisamente 500,5 bilhões).

Altos funcionários da Casa Branca informaram que Trump quer assinar dois decretos que se concentram nas causas e nos culpados por esse déficit comercial.

Wilbur Ross, secretário de Comércio, disse que um dos decretos ordenará uma análise "país por país, e produto por produto" cujos resultados deverão ser reportados a Trump em um prazo de 90 dias.

Os analistas, disse Ross, se concentrarão em provas sobre"trapaças", comportamento inapropriado, acordos que não cumpriram os objetivos prometidos, relaxamento na aplicação de normas, problemas com taxas de câmbio e casos na Organização Mundial de Comércio (OMC).

O conjunto de informações obtidas com esse análise "será a base para a tomada de decisão" por parte do governo, disse Ross.

Essa decisão ocorre uma semana antes de uma visita do presidente chinês, Xi Jinping, o país em que Washington identifica como principal responsável pelo déficit.

"Não é necessário que se diga qye é a causa número um do nosso déficit é a China", disse Ross, embora tenha mencionado um grupo de "países que estarão potencialmente implicados".

Nessa lista inclui Canadá, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Irlanda, Itália, Japão, Malásia, México, Coreia do Sul, Suíça, Taiwan, Tailândia e Vietnã.

No entanto, Ross admitiu que a presença de um país na lista não representará automaticamente a adoção de represálias.

"Talvez seja muito duro dizer que alguém é vilão se está nos abastecendo com um produto que precisamos", admitiu.

"Às vezes, será simplesmente o caso de que alguém é melhor do que nós fazendo um produto, ou que possa fazê-lo mais barato. Não queremos dizer que todos os que estiverem na lista são vilões", acrescentou.

Revisar relações comerciais

Peter Navarro, um assessor de Trump e um dos responsáveis pelos projetos de decretos, disse que "isso é enorme. Estamos falando de aço, químicos, produtos agrícolas, máquinas".

Ross, um ex-integrante da direção do ArcelorMittal, disse na quinta-feira que os estrangeiros estavam vendendo seus produtos a preços artificialmente baixos no mercado americano, e portanto os EUA poderiam impôr tarifas à importação.

Em toda a sua campanha eleitoral, Trump prometeu rever todas as relações comerciais do país para buscar uma posição mais vantajosa, com o lema "Estados Unidos primeiro".

No entanto, muitos críticos afirmam que embora Washington carregue um pesado déficit comercial, nenhum país se beneficiou mais das atuais correntes do comércio mundial.

O segundo decreto que será assinado por Trump ordena o governo a analisar mecanismos para recuperar tarifas que não foram cobradas por falta de uma correta fiscalização de produtos manufaturados em outros países com subsídios do governo.

Navarro insistiu que as novas medidas estão dentro das regras previstas pela OMC, onde seguramente não faltarão vozes que denunciem a imposição de barreiras comerciais.

"Não há problema com isso. Suspendemos essas tarifas, mas não fizemos isso bem. A OMC não tem nada que dizer sobre a questão da incompetência", afirmou.

Guerra à Vespa?

Em Ottawa, o primeiro-ministro Justin Trudeau disse que a relação comercial com os Estados Unidos é de "extrema importância" para o Canadá.

Para Trudeau, o fluxo comercial entre os dois países tem impacto direto no emprego. "Muitos empregos no Canadá criam empregos nos Estados Unidos, e vice-versa", disse Trudeau à imprensa.

A Alemanha foi a primeira nação a reagir diante da possibilidade de medidas antidumping contra pranchas de aço da Alemanha e de outros seis países.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, disse que a adoção de medidas é um atropelo às regras mundiais de comércio.

A Itália ficou alarmada, já que as novas medidas planejadas por Washington podem afetar as vendas das populares motocicletas Vespa e de outros produtos.

"Trump declara guerra à Vespa", estampou o jornal Il Messagero, adotando um tom que se repetiu em vários órgãos da imprensa.

Essa nova disputa entre Estados Unidos e Europa ocorre em um cenário já marcado por uma controvérsia que se arrasta há anos sobre as dificuldades da carne europeia para ingressar no mercado americano.

Além das motocicletas, produtos típicos da Itália podem ser severamente afetados, como tomates, salames e presunto de Parma ou a água mineral San Pellegrino, agora propriedade da suíça Nestlé.

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