eua-desemprego-getty-jpg.jpg (.)
João Pedro Caleiro
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 14h17.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2017 às 14h24.
São Paulo - Acontece amanhã, dia 03, a primeira divulgação da taxa de desemprego americana após a chegada de Donald Trump ao poder, apesar dos números ainda serem do período Obama.
A expectativa é de poucas mudanças em relação aos 4,7% registrados em dezembro - mas o presidente já deixou claro que não confia no que é divulgado.
"Não acreditem nesses números espúrios", disse Trump a apoiadores no ano passado. Em várias ocasiões, deu estimativas próprias variando entre 25% e 42%.
Na semana passada, um repórter perguntou qual era a taxa para o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, e ele respondeu que o presidente estava mais focado em melhorar a vida das pessoas do que em estatísticas.
Steven Mnuchin, indicado de Trump para Secretário do Tesouro e ainda não confirmado, disse nas suas audiências que "a taxa de desemprego não é real. Eu viajei no último ano. Eu vi isso."
A questão é que não existe apenas uma taxa de desemprego, e sim seis - todas calculadas pelas mesmas pessoas, com os mesmos padrões e a mesma periodicidade.
As diferentes taxas
A mais usada desde a Segunda Guerra Mundial, e atualmente em 4,7%, considera a porcentagem de pessoas que procuraram emprego e não encontraram nas últimas 4 semanas.
Se foram considerados aqueles que procuraram e não acharam emprego no último ano, mas não nas últimas 4 semanas, o número sobe para 5,7%.
É essa que passaria a ser enfatizada nos comunicados oficiais, de acordo com uma reportagem recente do Washington Examiner.
A medida mais abrangente é daqueles que gostariam de ter emprego de período integral mas só encontram aqueles de meio período, que está próxima de 10%.
Bernie Sanders, que disputou a indicação à presidência pelo Partido Democrata, defendia em sua campanha que essa era a "taxa real".
Narrativas
Os economistas já olham para todos esses números de qualquer forma, mas mudar a ênfase teria o efeito psicológico de fazer o problema parecer maior.
A discussão também importa porque entre os planos de Trump estão promover cortes de impostos e um grande programa de infraestrutura.
Se a economia já estiver sólida e próxima do pleno emprego, como dizia Obama, mais estímulos tendem a causar alta da inflação e necessidade de juros mais altos.
A narrativa que Trump quer enfatizar é que o mercado de trabalho ainda tem espaço a ser ocupado: ele diz que há "96 milhões de pessoas que querem um trabalho e não conseguem".
Esse é o contingente de pessoas fora da força de trabalho, que soma atualmente 62% da população do país, três pontos percentuais a menos do que quando Obama assumiu. A dúvida é até que ponto essa queda é conjuntural ou estrutural.
Esse grupo inclui donas de casa, estudantes e outras pessoas que podem não estar trabalhando por escolha - mais um sinal de prosperidade do que de problema.
Isso sem falar nos aposentados, um grupo que só cresce na medida em que a população envelhece, o que acontece em todo o mundo desenvolvido (e no Brasil).