Donald Trump: presidente disse que a União Europeia começará a importar soja "especialmente do meio oeste" dos Estados Unidos, assim como gás natural líquido (Joshua Roberts/Reuters)
AFP
Publicado em 25 de julho de 2018 às 17h55.
Última atualização em 25 de julho de 2018 às 20h25.
Washington - Os presidentes de Estados Unidos e Comissão Europeia, Donald Trump e Jean Claude Juncker, anunciaram nesta quarta-feira um acordo para superar a guerra comercial travada entre Washington e Bruxelas por meio da imposição de tarifas recíprocas.
Após uma reunião de duas horas na Casa Branca, eles anunciaram a jornalistas uma série de decisões que abrangem os setores de agricultura, indústria e energia, sem especificar, contudo, sua exata magnitude.
Estados Unidos e União Europeia (UE) chegaram a um "acordo", disse Juncker, enquanto Trump afirmou que ambas as partes querem instaurar "tarifas zero" no comércio bilateral, com exceção dos automóveis.
Segundo uma fonte europeia, uma nova tarifa será instaurada pelos Estados Unidos sobre automóveis importados; um tema especialmente sensível para a Alemanha, onde 800.000 pessoas trabalham nessa indústria.
A UE aumentará "imediatamente" suas compras de soja americana, disse Trump, que em troca prometeu revisar as tarifas que impôs sobre o aço e o alumínio importados da Europa.
O presidente americano afirmou na Casa Branca, após sua reunião com Juncker, que as relações com aUE entraram em "uma nova fase".
"Chegamos a um acordo", disse Juncker, que no começo da entrevista no Salão Oval da Casa Branca havia declarado que Estados Unidos e UE, que representam a metade do comércio mundial, são "parceiros" e "aliados" e não "inimigos".
Qualificado por Trump como um homem "muito inteligente" mas, ao mesmo tempo, "muito duro", Juncker falou de "um fortalecimento da cooperação no setor de energia".
O ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, elogiou pelo Twitter esta "abertura" alcançada porque "pode evitar uma guerra comercial e salvar milhões de empregos".
Poucas horas antes, o presidente chinês, Xi Jinping, havia advertido Trump que ninguém sairia "vencedor" em uma guerra comercial lançada por Washington e que desatou medidas de represália contra produtos dos Estados Unidos.
Como prova de que esse pleito comercial já afeta os Estados Unidos, Washington havia anunciado nesta terça-feira uma ajuda emergencial de 12 bilhões de dólares para os agricultores prejudicados pelas medidas tarifárias aplicadas em represália por China, UE, México e Canadá.
Trump anunciou também que Estados Unidos e UE trabalham conjuntamente para reformar a Organização Mundial de Comércio (OMC). Ele se referiu especialmente à China, que acusa de violar direitos de propriedade intelectual e de forçar a transferência de tecnologia.
"Vamos trabalhar junto com os parceiros que compartilham nossas ideias para reformar a OMC e atacar o problema das práticas comerciais desleais; incluindo o roubo de propriedade intelectual, a transferência forçada de tecnologias, os subsídios industriais e as distorções criadas por empresas estatais", disse Trump.
Na véspera de seu encontro com Juncker, Trump insinuou que sua postura dura e as ameaças de tarifas sobre os automóveis levaram o líder europeu a negociar.
"O que a União Europeia está nos fazendo é inacreditável", disse. "As tarifas são o melhor (como resposta)!" - completou.
Para não aplicá-las, propôs que todas as partes "eliminem a totalidade das tarifas, as barreiras não tarifárias e os subsídios".
"Isso será realmente livre-comércio. Espero que façam isso, estamos prontos, mas não farão!" - acrescentou.
Gabando-se de que países afetados pelas tarifas "voam para Washington para negociar", Trump argumentou que sua dura estratégia acabará dando frutos e que "o resultado final valerá a pena".
Essa estratégia, no entanto, está longe de ser unânime no campo republicano, tradicionalmente favorável ao livre comércio.
"Não acredito que as tarifas sejam uma resposta adequada", disse nesta terça-feira o líder da bancada republicana na Câmara de Representantes, Paul Ryan.
Ryan é originário de Wisconsin, no estado onde está baseada uma das empresas mais emblemáticas do país, a fabricante de motos Harley Davidson, que na terça-feira anunciou uma forte redução de suas margens de lucros para 2018 como consequência da guerra comercial que afeta suas vendas no mercado da UE, onde mais crescia.