Trump: o próximo encontro do G20 acontecerá em junho no Japão (Drew Angerer/Getty Images)
Reuters
Publicado em 13 de maio de 2019 às 15h39.
Última atualização em 14 de maio de 2019 às 09h22.
Washington — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira, 13, que se encontrará com o presidente chinês, Xi Jinping, no mês que vem, e que espera que suas discussões sejam "muito proveitosas", conforme a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo se intensifica.
Mais cedo, a China anunciou tarifas de importação mais altas a uma série de produtos norte-americanos, incluindo vegetais congelados e gás natural liquefeito, um movimento que seguiu a decisão de Washington de elevar suas próprias alíquotas sobre 200 bilhões de dólares em importações chinesas. Trump havia alertado Pequim para não retaliar.
O presidente dos EUA disse que se encontrará com Xi em uma cúpula do G20 no Japão, no fim de junho.
"Estamos lidando com eles. Temos uma relação muito boa", disse Trump em comentários na Casa Branca. "Talvez algo aconteça. Vamos nos reunir, como vocês sabem, no G20, no Japão, e será, eu acho, uma reunião produtiva."
Trump, que abraçou o protecionismo como parte de uma agenda "EUA Primeiro", acrescentou que ainda não decidiu se vai avançar com as tarifas sobre cerca de mais 325 bilhões de dólares em importações vindas da China.
A China, por sua vez, disse nesta segunda-feira que planeja estabelecer taxas de importação variando de 5 a 25 por cento sobre 5.140 produtos dos EUA, numa lista que soma 60 bilhões de dólares. Pequim afirmou que as tarifas entrarão em vigor em 1º de junho.
"O ajuste da China nas tarifas adicionais é uma resposta ao unilateralismo e ao protecionismo dos EUA", disse o Ministério das Finanças do país asiático. "A China espera que os EUA voltem ao caminho certo do comércio bilateral e das consultas econômicas e se encontrem com a China no meio do caminho."
A perspectiva de que Estados Unidos e China estejam entrando em uma disputa sem barreiras que poderia inviabilizar a economia global tem abalado os investidores e levou a uma forte liquidação nos mercados de ações na semana passada.
As ações globais caíram novamente nesta segunda-feira, com os principais índices de ações de Wall Street recuando mais de 2 por cento. O iuan chinês caiu para o nível mais baixo desde dezembro.
"Está claro que há muito nervosismo nas negociações comerciais entre os EUA e a China e preocupação de que esteja realmente se deteriorando significativamente, e isso está impactando todas as áreas dos mercados", disse Kristina Hooper, estrategista-chefe de mercado global da Invesco.
Trump intensificou seus ataques verbais contra a China na sexta-feira, depois que dois dias de negociações comerciais de alto nível em Washington terminaram com ambos os lados em um aparente impasse.
O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse à CNBC que as negociações estão em andamento e que estava trabalhando sobre quando vai viajar a Pequim.
Trump acusou a China de rejeitar compromissos assumidos durante meses de negociações comerciais, algo negado por Pequim.
Segundo os EUA, a China tentou excluir, de um acordo prévio, compromissos de alteração de suas leis que criariam uma nova política sobre temas que variam desde propriedade intelectual até transferências forçadas de tecnologia. Isso causou um grande revés nas negociações.
No meio das negociações da semana passada, Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses de 10 para 25 por cento. A mudança afetou 5.700 categorias de produtos do país asiático, incluindo modems de acesso à internet, roteadores e dispositivos similares.
Pequim disse nesta segunda-feira que "nunca se renderá" à pressão externa e a mídia estatal chinesa manteve um ritmo firme de comentários, reiterando que a porta para as negociações estava sempre aberta, mas afirmando que a China defenderá seus interesses nacionais e sua dignidade.
Em um comentário, a TV estatal disse que o efeito das tarifas norte-americanas sobre a economia chinesa era "totalmente controlável".
Nesta segunda-feira, a China disse que as políticas dos EUA estão ameaçando a existência da Organização Mundial do Comércio, estabelecendo uma série de queixas em uma "proposta de reforma" da OMC publicada pela organização em seu site.
Trump disse que não tem pressa para finalizar um acordo com a China. Ele novamente defendeu a elevação das tarifas pelos EUA e disse que não havia razão para os consumidores norte-americanos pagarem os custos.
Economistas e consultores do setor, no entanto, afirmam que são as empresas dos EUA que pagarão os custos e, provavelmente, os repassarão aos consumidores. Os gastos do consumidor respondem por mais de dois terços da atividade econômica norte-americana.
As tarifas dos EUA desencadearam no ano passado retaliações por parte da China, que impôs taxas de 25 por cento a 50 bilhões de dólares em produtos dos EUA, incluindo soja, carne bovina e suína.
Em nota, economistas do Goldman Sachs disseram que novas evidências mostraram que os custos das tarifas de Washington sobre a China no ano passado caíram inteiramente sobre empresas e famílias dos EUA, sem uma redução clara nos preços cobrados pelos exportadores chineses.
Os economistas acrescentaram que os efeitos das tarifas ultrapassaram notavelmente os preços cobrados pelos produtores norte-americanos que competiam com os bens afetados pelos impostos.
Nesta segunda-feira, Trump disse que seu governo planeja disponibilizar cerca de 15 bilhões de dólares em auxílio para produtores agrícolas norte-americanos que possam ser atingidos por tarifas da China.
Os prêmios para embarque de soja em junho no Brasil avançaram nesta segunda-feira a 92 centavos de dólar por bushel, com o mercado reagindo à guerra comercial entre Estados Unidos e China, que deve aquecer a demanda pelo produto brasileiro, informou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Em meio a uma queda nos preços na bolsa de Chicago e uma alta do dólar frente ao real, o prêmio para exportação em junho via Paranaguá, importante porto brasileiro, ampliou-se em quase 10 centavos ante o valor de sexta-feira, atingindo o maior nível desde 7 de dezembro.
Dessa forma, o prêmio mais do que compensou a queda diária de quase 7 centavos do contrato de julho em Chicago, utilizado como referência para embarques de soja em junho no Brasil.
O acirramento da guerra comercial pressionou o mercado em Chicago, onde operadores esperavam um acordo comercial que não aconteceu. Em vez disto, as duas maiores economias do mundo anunciaram mais tarifas mútuas, o que mexeu com os prêmios no Brasil.
Com os EUA subindo tarifas e a China retaliando, aumenta a expectativa de maior demanda chinesa por soja brasileira, informou à Reuters o Cepea, da Esalq/USP.
A situação lembra o que aconteceu no ano passado, quando os chineses aumentaram fortemente as importações de soja do Brasil por conta das tarifas aplicadas ao produto norte-americano.
Em 2018, o Brasil exportou um recorde de cerca de 84 milhões de toneladas de soja, produto que é o principal da pauta de exportações do país.
Em novembro do ano passado, o prêmio sobre Chicago atingiu mais de 2 dólares por bushel, na esteira da forte demanda pelo produto brasileiro, em uma época em que o Brasil já quase não tinha mais soja para o exportar.
Atualmente, produtores brasileiros ainda têm grandes volumes para embarcar, uma vez que a colheita terminou recentemente.
Apesar da alta no prêmio, o produtor está relutante ainda em negociar mais soja, segundo o Cepea, com a tabela do frete do governo inviabilizando muitos negócios.
De acordo com avaliação do Cepea, uma nova alta do prêmio poderia influenciar fortemente os preços no mercado físico de grãos, trazendo um descolamento maior entre os valores no Brasil e em Chicago, e ao mesmo tempo impulsionando vendas de agricultores.