Economia

Três presidentes regionais do Fed alinham-se contra mais cortes

O presidente do Fed, Jerome Powell, pode fornecer alguma orientação quando falar na sexta-feira no encontro anual de banqueiros centrais em Jackson Hole

Fed: a ata da reunião de julho, publicada na quarta, mostra que autoridades estavam divididas quanto à necessidade de reduzir as taxas (Leah Millis/Reuters)

Fed: a ata da reunião de julho, publicada na quarta, mostra que autoridades estavam divididas quanto à necessidade de reduzir as taxas (Leah Millis/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 16h36.

Três presidentes regionais do Federal Reserve expressaram sua resistência à ideia de que a economia dos EUA precisa de juros mais baixos, o que prenuncia um debate agudo na reunião do banco central americano no próximo mês contra outras autoridades que defendem um novo corte de taxa.

Os investidores precificaram inteiramente uma redução de 0,25 ponto percentual na reunião de 17 e 18 de setembro, mas as vozes divergentes do Fed podem limitar as perspectivas para um movimento maior, defendido, entre outros, pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

O presidente do Fed, Jerome Powell, pode fornecer alguma orientação quando falar na sexta-feira no encontro anual de banqueiros centrais em Jackson Hole, Wyoming.

“Quando olho para onde a economia está, ainda não está na hora, não estou pronta para fornecer maior acomodação à economia sem ver uma perspectiva que sugira que a economia está enfraquecendo”, disse a anfitriã da conferência e presidente do Fed de Kansas City, Esther George, à Bloomberg Television. A entrevista foi gravada no final da quarta-feira para transmissão na quinta-feira.

George foi seguida pelo presidente do Fed de Filadélfia, Patrick Harker, que disse na quinta-feira que concordou com o corte recente de juros “com certa relutância” e gostaria de manter as taxas estáveis por algum tempo.

“Estamos agora mais ou menos no ponto neutro e acho que devemos ficar aqui por um tempo e ver como as coisas se desenrolam”, disse Harker em entrevista à rede CNBC.

O presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, também expressou sua oposição a cortes adicionais em 19 de agosto, em entrevista na TV Bloomberg.

George e Rosengren divergiram da decisão do Fed em 31 de julho de cortar as taxas pela primeira vez desde 2008. George falou antes do simpósio anual de políticas que este ano examinará os desafios enfrentados pela política monetária, um tópico oportuno, enquanto as autoridades avaliam a resposta apropriada à desaceleração do crescimento global e aos riscos de agravamento da guerra comercial.

A ata da reunião de julho do Fed, publicada na quarta-feira, mostrou que as autoridades do BC americano estavam divididas quanto à necessidade de reduzir as taxas.

A discussão colocou alguns membros preocupados com os conflitos comerciais, com a desaceleração do crescimento global e com a inflação demasiado baixa contra outros que viram dados econômicos fortes dos EUA como uma indicação de que empresas e consumidores estão resilientes às incertezas recentes.

A ata dizia que “vários” membros do Fed preferiam manter as taxas inalteradas, deixando claro que a oposição ia além de George e Rosengren.

“Flexibilizar a política não é uma escolha livre”, disse George. É bom lembrar, disse ela, que isso puxa a demanda e pode tornar a alavancagem mais atraente. Poderia criar mais riscos dependendo do ponto em que se pensa estar no ciclo.

Como Rosengren e Harker, George disse que a economia dos EUA estava desacelerando, mas ainda parecia estar em boa forma.

“Quando olho onde o desemprego está e olho onde a inflação está agora, acho que estamos em um bom lugar enquanto o consumidor puder continuar a puxar a economia para a frente”, disse George. “Obviamente, temos alguns segmentos mais fracos em nossa economia, mas na medida em que nossa previsão de crescimento é de cerca de 2%, acho que estamos bem.”

Os mercados financeiros têm sido voláteis nas últimas semanas, em meio a notícias sobre fraqueza econômica em vários países e renovadas tensões comerciais entre o governo Trump e a China. Dados divulgados na quinta-feira mostraram que as encomendas às fábricas nos EUA em agosto tiveram contração pela primeira vez desde setembro de 2009.

“Os mercados vêem como o resto do mundo está desacelerando. Eu acho que a incerteza nunca funciona bem nos mercados”, disse George. “Então, eu entendo porque você vê medo e incerteza agora. No entanto, essa não é a métrica que eu sinto que temos de focar. Temos um mandato claro e, penso eu, uma visão de longo prazo em que temos de nos manter concentrados.”

(Com a colaboração de Michael McKee e Kathleen Hays).

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