Filas para carregar navios com soja devem ser de até 45 dias, disse André Pessôa, analista-chefe da consultoria Agroconsult (Germano Luders, EXAME)
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2013 às 20h56.
São Paulo - Grandes tradings do agronegócio estão mobilizando uma frota de navios para o Brasil com esperanças de encontrar um bom lugar na fila para carregar uma safra recorde de soja que ainda deve, em sua maior parte, demorar algumas semanas para chegar aos portos exportadores.
O preço do frete para navios tipo Panamax no mercado global já respondeu em antecipação à aproximação da abundante safra prestes a ser colhida na América do Sul. O índice de referência já subiu 15 por cento até o momento em 2013.
Duas embarcações programadas para chegar nos próximos dois ou três dias no porto amazônico de Itacoatiara devem ser as primeiras a carregar a soja da nova safra. No entanto, ainda mais embarcações estão previstas para chegar, muito antes de a oleaginosa alcançar os portos. A antecipação é causada por expectativas de uma corrida que deve entupir a infraestrutura brasileira e atrasar as exportações.
"A expectativa é de que tenhamos filas de até 45 dias", disse André Pessôa, analista-chefe da consultoria Agroconsult, de São Paulo. "A partir de fevereiro, nós viveremos este problema bastante intensamente." Caso chova, como aconteceu em 2010 durante o carregamento da enorme colheita brasileira de açúcar, os atrasos podem ser ainda maiores. Os portos do Brasil paralisam suas atividades em caso de chuva.
A consultoria FCStone estima que, entre fevereiro e maio, quando o Brasil se torna a maior fonte mundial de soja, o país só deve conseguir exportar um máximo de 22,7 milhões de toneladas.
Pessôa, da Agroconsult, estima que a capacidade máxima de exportação de soja do Brasil seja de cerca de 8 milhões de toneladas por mês, se todos os portos do país estiverem operando perfeitamente.
PREPAREM-SE PARA ESPERAR
Contudo, nesta temporada, a aguardada espera para carregar os navios foi premeditada por grandes importadores como a China, que busca estar entre os primeiros a levar os grãos de soja da safra nova disponíveis para exportação no Brasil.
"O custo de demurrage (um navio parado) é de 15 a 20 mil dólares por dia, então, se você fizer as contas, vale a pena pagar 20 ou até mesmo 30 dias de multa para ser o primeiro a carregar", disse o diretor do setor de soja de uma trading multinacional no Brasil. "Essa parece ser a estratégia dos chineses." A corrida negociação de soja nos portos deve ser a mais intensa durante março e abril, quando a maior parte dos 25 milhões de hectares no cinturão da soja estará em plena colheita.
Ainda faltam três semanas para a safra chegar aos grandes portos do Sul em volumes grandes para permitir o carregamento constante de navios, disseram operadores.
As tradings também levam em conta problemas na infraestrutura de armazenagem nos seus negócios.
Um estudo recente do IBGE estima que o Brasil tenha pouco menos de 58 milhões de toneladas de capacidade de armazenagem para lidar com o que poderia ser uma safra de 85 milhões de toneladas de soja nesta temporada.