Salário: dificilmente os empregadores darão aumentos acima do nível atual e, mesmo quando a inflação começar a diminuir, os reajustes salariais seguirão modestos (Raul Junior//Você S/A)
Da Redação
Publicado em 23 de fevereiro de 2016 às 14h32.
São Paulo - O reajustes salariais que entraram em vigor em janeiro não acompanharam a inflação acumulada e os trabalhadores tiveram perda real de 1,3% em seus salários no primeiro mês do ano.
O levantamento do projeto Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), revela que o reajuste mediano permaneceu em 10% pelo terceiro mês consecutivo em janeiro, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acelerou para 11,3%.
"Nas mesas de negociação existe uma tendência a buscar um número exato e, agora, parece que o 10% é o número mágico", afirmou o professor Hélio Zylberstajn, coordenador da pesquisa.
Segundo ele, dificilmente os empregadores concederão aumentos acima do nível atual e, mesmo quando a inflação começar a arrefecer nos próximos meses, os reajustes salariais seguirão modestos.
"Quando o INPC começar a ceder para baixo de 10%, será uma força puxando os reajustes para os 9%", estimou Zylberstajn. Janeiro foi o terceiro mês consecutivo em que os reajustes salariais ficam abaixo da inflação, o que não ocorria desde a crise financeira global de 2008.
Nos 12 meses encerrados em janeiro, os trabalhadores da extração e refino de petróleo foram os que tiveram perda real de salário mais significativa no país, de 3,9%.
A diminuição na renda é mais intensa que as registradas por outras categorias em anos anteriores. De acordo com o coordenador do levantamento, o motivo é a Operação Lava Jato e o consequente desmanche da cadeia de óleo e gás.
"O setor de petróleo parou no Brasil. Aí você tem a Petrobras e uma quantidade enorme de empresas que prestam serviços para ela. Em boa parte, os acordos ficaram só no zero a zero", afirmou Zylberstajn, em referência aos dissídios que apenas repõem a inflação do período.
Em segundo lugar na lista de salários que encolheram estão os trabalhadores do agronegócio da cana-de-açúcar, com perda real 1,3%, seguidos pela categoria de outros serviços, 0,9%.
Entre os Estados, aqueles em que os reajustes menos beneficiaram os trabalhadores foram Roraima (-1,3%), Espírito Santo, Amapá, Amazonas e Rio Grande do Norte (todos com -0,3%).
Por outro lado, o reajuste mediano foi positivo em 0,2% nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Bahia e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, o ganho real foi de 0,1%.
No âmbito das categorias, a de confecções e vestuário lidera a lista, com ganho mediano real de 1,2%, seguida por vigilância e segurança privada (1,0%), bancos e serviços financeiros (0,8%), indústria cinematográfica e fotografia (0,7%) e distribuição cinematográfica (0,5%).
CLT em novembro
O valor total de salários pagos aos trabalhadores com carteira assinada em novembro de 2015 ficou R$ 5,9 bilhões abaixo do registrado no mesmo mês do ano anterior.
Em novembro do ano passado, os empregados contratados sob regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) receberam juntos R$ 94,4 bilhões ante R$ 100,3 bilhões pagos no décimo primeiro mês de 2014.
O valor dessazonalizado é calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com base no volume de depósitos vinculados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Novembro é o terceiro mês em que a folha salarial calculada pela Fipe apresenta estabilidade. O valor total foi de R$ 94,4 bilhões em setembro e de R$ 94,5 bilhões em outubro do ano passado.
Para o coordenador da pesquisa, professor Hélio Zylberstajn, a sinalização mais importante é que, mesmo após um longo período de queda, a massa salarial dos celetistas não está crescendo.
Segundo ele, tanto o aumento do desemprego quanto a inflação elevada contribuem para diminuir a folha de pagamentos dos trabalhadores com carteira assinada no país.