Londres - A linha dura, que rejeita uma baixa contábil da dívida grega para manter o país na zona do euro, está disposta a pagar muito mais para expulsá-lo.
Uma “Grexit” (saída da Grécia) custaria aos credores quase 100 bilhões de euros (US$ 110 bilhões) a mais do que manter a Grécia na união monetária, calcula Alberto Gallo, diretor de pesquisa macroeconômica sobre créditos do Royal Bank of Scotland Group Plc. Zsolt Darvas, do Bruegel Institute, estima que cerca de 75 por cento da dívida não seria paga aos credores após um retorno ao dracma.
“O que isto nos transmite é que os responsáveis pela política econômica estão se orientando pela política em vez de seguir a economia racional”, disse Gallo.
O destino da dívida de 313 bilhões de euros da Grécia – a maior parte com outros governos europeus – emergiu como a questão fundamental no retorno do necessitado país à boa saúde financeira.
O FMI diz que a Grécia precisa de um alívio “muito maior” do que aquele que os credores têm considerado. Os líderes da zona do euro rejeitaram qualquer redução no valor nominal das obrigações.
Para o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, o custo é secundário. Ele e seus pares da zona do euro apresentaram uma proposta aos seus chefes em uma cúpula realizada no dia 12 de julho de suspender a Grécia da zona do euro, juntamente com a possibilidade de uma reestruturação da dívida.
“Não sei, neste momento ninguém sabe como isso vai funcionar sem uma redução”, disse Schäuble nesta quinta-feira à rádio alemã Deutschlandfunk. “E todos sabem que uma redução é incompatível com fazer parte do euro. Essa é a situação”.
‘Grande desconto’
Gallo calcula os custos da seguinte forma: uma “grande redução” para manter a Grécia na zona do euro custaria cerca de 130 bilhões de euros; uma combinação de cortes e facilidades das condições de pagamento custaria cerca de 40 bilhões a 50 bilhões de euros.
A conta mínima da Grexit, assumindo uma desvalorização de 40 por cento do dracma frente ao euro, seria de 227 bilhões de euros, disse ele.
Além disso, “é preciso adicionar outros custos indiretos, por exemplo, os custos colaterais de abrir um precedente” de saída para outros países, já que o euro deixaria de ser considerado irreversível.
Os credores teriam que realizar uma baixa contábil da maior parte da dívida se ela for redenominada na antiga moeda da Grécia, segundo Gianluca Ziglio, estrategista de renda fixa da Sunrise Brokers LLP em Londres.
A saída da zona do euro custaria aos credores cerca de 240 bilhões a 250 bilhões de euros, estimou ele.
A razão entre a dívida e o PIB da Grécia, uma medida comum da solvência de um país, está atualmente em cerca de 180 por cento.
O FMI, prevendo que ela chegue a um pico de 200 por cento nos próximos dois anos, considera necessário reduzir o valor nominal da dívida.
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1. Falando grego
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1/8 (Louisa Gouliamaki/AFP)
São Paulo - Há 5 anos, o debate sobre a crise da
Grécia gira em torno de duas questões: o país vai ou não sair do
euro? E quais seriam as consequências disso? O cenário institucional já mudou muito, mas o retórico é basicamente o mesmo, povoado por caricaturas de gregos preguiçosos, alemães autoritários, tecnocratas sem coração e políticos sinuosos. Não faltam simbolismos e lições de moral. Há quem lembre que a Grécia basicamente vive em um
estado perpétuo de crise da dívida. Os gregos rebatem com
episódios sombrios da história recente da
Alemanha. O teatro chegou a outro nível com a entrada em cena de
Yanis Varoufakis, ministro de Finanças grego, adepto de imagens fortes que frequentemente
o colocam em saias justas. Veja 7 metáforas sobre a crise da Grécia e o que elas explicam:
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2. O efeito dominó
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2/8 (Aussiegall/WikimediaCommons)
O efeito dominó é simples de entender: quando você tem várias peças enfileiradas e a primeira cede, é impossível de evitar que uma derrube a outra até que não sobre nenhuma de pé. A metáfora é usada amplamente desde 2010 para ilustrar o que aconteceria caso algum país saísse da zona do euro: o pânico e a especulação acabariam empurrando outras nações vulneráveis ao mesmo destino. Já em 2011, muito antes de sequer sonhar em virar ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis
explicou em seu blog o que vê de errado com essa metáfora: "com cada 'transição', o custo de 'resgatar' o próximo país aumenta ao mesmo tempo em que recai sobre um número menos de países. É uma dinâmica muito mais calamitosa do que a alegoria do dominó consegue capturar".
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3. O castelo de cartas
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3/8 (Arealast/Wikimedia Commons)
No seu post de 2011, Varoufakis comparou a zona do euro com um grupo de alpinistas de tipos físicos diversos na beira de um abismo e ligados por uma única corda. De repente, acontece um terremoto e um deles (a Grécia) começa a cair; o segundo mais próximo também acaba cedendo, e assim sucessivamente, aumentando cada vez mais o peso sobre os remanescentes. A dúvida é se os mais fortes (a Alemanha) vão continuar tentando puxar o grupo para cima ou se vão cortar a corda. Em fevereiro deste ano, já como ministro, Yanis escolheu uma metáfora mais simples e popular: a do castelo de cartas. "O euro é frágil, é como construir um castelo de cartas. Se você tirar a carta da Grécia, os outros entram em colapso", disse ele em entrevista para um canal italiano.
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4. O vírus Ebola
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4/8 (Cynthia Goldsmith/AFP)
Outra metáfora comum nos discursos sobre efeitos em cadeia na economia global é a da doença: o "contágio" financeiro. No caso da Grécia, o uso mais notório foi feito por Angel Gurria, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) ainda em 2010. Em entrevista para a Bloomberg, ele disse: "isso não é uma questão de contágio. O contágio já aconteceu. Isso é como o
ebola. Quando você percebe que tem, precisa cortar a sua perna para sobreviver". Curiosamente, a doença só voltaria para as manchetes mundiais no início do ano passado. O novo surto em países da África Ocidental como Sierra Leoa e Libéria já matou até agora mais de 10 mil pessoas.
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5. Afogamento simulado
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5/8 (Mark Wilson/Getty Images)
O afogamento simulado é uma técnica de tortura que consiste em despejar água sobre um pano ou toalha colocado no rosto de alguém imobilizado. Muitos oficiais americanos evitar classificar como "tortura" o método, amplamente utilizado na guerra contra o terror. O escritor Christopher Hitchens
aceitou se submeter a técnica para dar seu veredicto (conclusão: é tortura sim). Varoufakis foi o primeiro a chamar de "afogamento simulado fiscal" as políticas duras de austeridade que a União Europeia exigiu como contrapartida dos seus pacotes de resgate. Em uma
entrevista recente para a revista alemã Der Spiegel, ele disse que os torturadores são os "tecnocratas do trio FMI-BCE-Comissão Europeia enviados para implementar e monitorar um programa destrutivo" e defendeu a analogia: "Conseguiu capturar sua atenção, não é mesmo? Então funcionou."
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6. Cavalo de Tróia
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6/8 (Domínio público/Giovanni Domenico Tiepolo)
Desde que o partido de esquerda Syriza chegou ao poder no final de janeiro, a Grécia está na corda bamba, tendo que se mostrar aberta a negociações sem recuar da promessa de mudar fundamentalmente os acordos de resgate. No dia 19 de fevereiro deste ano, os gregos
enviaram uma carta para o grupo de ministros de Finanças da UE pedindo formalmente uma extensão de 6 meses do programa atual. A resposta dos alemães,
vazada para a imprensa, tinha o seguinte trecho: "a proposta [grega] representa um cavalo de tróia, com o objetivo de garantir uma ponte de financiamento acabando com a substância do programa atual". Diz a lenda que após 10 anos de luta, os gregos deram um cavalo gigante como sinal de trégua aos troianos. O presente foi aceito e colocado no centro da cidade; no meio da noite, os soldados escondidos na estátua de madeira saíram e tomaram o território inimigo. Em tempo: dias depois da polêmica, os gregos enviaram uma lista de reformas prometidas e
conseguiram uma extensão de 4 meses do programa atual.
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7. A perna amputada
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7/8 (.)
Muita coisa mudou desde que a crise da Grécia estourou em 2010. Nas negociações atuais, uma tática da Alemanha para melhorar sua posição de barganha tem sido sinalizar que a
Europa já não deve temer tanto assim uma possível "Grexit". Há cerca de duas semanas, uma
matéria do Financial Times afirmou que alguns oficiais alemães estão propagando a "teoria da perna amputada, segundo a qual a Grécia deve ser cortada como um membro gangrenado para poupar o resto do corpo da zona do euro". Outros continuam adeptos da metáfora do dominó - quando o primeiro cai, fica difícil segurar o processo.
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8. A pistola dágua
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8/8 (Zoom Zoom / Wikimedia Commons)
A última metáfora da lista vem, novamente, do ministro Varoufakis. Em meados de janeiro, ele disse que o
programa de compra de títulos do Banco Central Europeu para estimular a economia europeia e evitar a deflação equivale ao de "uma pistola d'água sobre um incêndio na floresta". Em entrevista
publicada no seu blog, ele aliviou para o presidente do BCE,
Mario Draghi, que sofreu constragimentos políticos e legais para agir de forma mais rápida e incisiva: "Não tenho dúvidas de que ele entende que o que está fazendo é muito pouco, muito tarde. Mas ele acha que uma pistola d'água é melhor que nada. Se há um fogo devastador, ele gostaria de usar o canhão d'água, e gostaria de ter usado antes, mas não foi permitido". Algum efeito, a pistola deve estar tendo - o otimismo com a economia europeia aumentou sensivelmente nas últimas semanas, e o crescimento está próximo do
maior nível em 4 anos.