Joaquim Levy, ministro da Fazenda (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2015 às 21h18.
Desde que Joaquim Levy começou a perder sua aura de superministro, em maio, o risco Brasil e o dólar aceleraram a alta que já vinham experimentando nos meses anteriores.
Nesta manhã, notícias renovando os sinais de enfraquecimento do ministro da Fazenda levaram o dólar a passar de R$ 3,80 e os juros futuros a superar 15% em alguns contratos.
O Tesouro cancelou um leilão de títulos, em sinal de que a rolagem da dívida começa a ser dificultada pela tensão no mercado.
Foi a 1ª vez que o Tesouro cancelou uma oferta de prefixados desde fevereiro de 2014. Para Carlos Kawall, ex- secretário do Tesouro e economista do Banco Safra, a decisão do Tesouro “tirou um pouco a pressão do mercado, mas não toda. Problema é que a pressão vem de uma crise séria, que tem elementos políticos”.
Para Kawall, o Tesouro poderá ter de ofertar títulos mais curtos ou aumentar a oferta de LFTs, papéis pós-fixados aos quais o governo sempre recorre em épocas difíceis. “É o papel da crise.”
As especulações sobre o enfraquecimento de Levy, com jornais noticiando que ele sinalizou possibilidade de deixar a Fazenda se não tiver apoio, têm ajudado a amplificar o nervosismo do mercado.
“A saída dele seria desastrosa”, diz Kawall, embora ele observe que, seja com a continuidade de Levy, seja com outro ministro, deve continuar difícil aprovar o ajuste fiscal no Congresso.
Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset, observa que a continuidade da turbulência no mercado pode levar o Tesouro a pagar juros maiores ou ter de encurtar o prazo dos títulos.
A colocação de LFTs poderia trazer alívio, mas não seria a solução, que depende de uma saída para a crise político- econômica.
Além das especulações sobre o enfraquecimento de Levy, também a decisão do Copom de manter a Selic em 14,25%, embora esperada pela maioria dos analistas, ajudou a pressionar os juros futuros longos e o dólar hoje.
Portella observa que uma parte do mercado achava que o BC deveria ter elevado a taxa para segurar o impacto da alta do dólar sobre a inflação.
Por ora, apesar da pressão, o Brasil não enfrenta risco de insolvência.
A alta do dólar até ajuda o BC, que compensa a perda com swaps com os ganhos representados pelas reservas cambiais.
Porém, no longo prazo, o País precisa frear a escalada dos gastos, que é incompatível com o desempenho da receita, sob risco de a capacidade de solvência do país ser questionada pelos investidores.
“É preciso cair a ficha”, diz Kawall, repetindo frase dita por Levy.
--Com a colaboração de Carla Simões Brasília, Patricia Lara em Sao Paulo e Marisa Castellani em São Paulo.