Temer: "se existia uma leniência do mercado com relação ao governo pela interinidade, agora ela deixa de existir" disse um economista da SulAmérica (Ueslei Marcelino / Reuters)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2016 às 15h37.
Porto Alegre - O principal desafio do presidente da República, Michel Temer, após sua confirmação no cargo, será garantir uma expectativa positiva com relação à economia no curto prazo, que seja capaz de abrir caminho para que ele avance nas reformas estruturais que são fundamentais para melhorar a situação fiscal brasileira.
Esta é a avaliação do economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa.
"Se existia uma leniência do mercado com relação ao governo pela interinidade, agora (com a deposição de Dilma Rousseff) ela deixa de existir", disse o economista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Segundo ele, Temer precisará mostrar uma capacidade grande de articulação da sua base para aprovar as medidas que serão encaminhadas ao Congresso.
Camargo Rosa ressaltou que este processo passa inevitavelmente pela melhora dos indicadores econômicos, principalmente do lado do emprego e da renda.
"Quanto melhor isso estiver, maior será o apoio político para as reformas. Então, ele (Temer) também vai depender dos resultados da economia no curto prazo, que ainda não estão visíveis", afirmou.
Na avaliação do economista-chefe da SulAmérica, se o governo conseguir de fato criar um sentimento positivo em relação ao cenário econômico, que seja percebido pela sociedade, haverá condições de aglutinar as forças políticas necessárias para tocar pautas como a reforma da Previdência, por exemplo. Caso contrário, há risco de uma "frustração grande" com relação à agenda de reformas.
"Tem alguns pontos que afetam a população e o consumo que ainda podem piorar antes de melhorar. Isso pode manter um ambiente ruim, mesmo se o PIB (Produto Interno Bruto) já der algum sinal positivo no fim deste ano. Tem que ver como o governo vai contornar isso", resumiu.
Camargo Rosa destacou ainda que será crucial que o governo deixe claro forma com que vai atingir as metas fiscais, tanto neste ano como no próximo. "Acredito que a ideia de que se recorrerá a impostos será colocada em xeque", disse.
A visão do mercado é de que, para o governo central entregar um déficit primário de R$ 139 bilhões em 2017, será preciso ter receitas adicionais. Uma saída, segundo o economista, seria elevar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina.