Economia

Desemprego sobe para 12,9% em maio com queda recorde na população ocupada

É o mais baixo nível da ocupação desde o início da pesquisa, em 2012; movimento jogou para fora 7,8 milhões de pessoas, das quais 5,8 milhões eram informais

 (Eduardo Frazão/Exame)

(Eduardo Frazão/Exame)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 30 de junho de 2020 às 09h06.

Última atualização em 30 de junho de 2020 às 11h39.

No trimestre terminado em maio, a taxa de desemprego subiu para 12,9% ante os 11,6% registrados no trimestre móvel até fevereiro, levando o contingente de desempregados a 12,7 milhões, um aumento de mais 368 mil pessoas, informou o IBGE nesta terça-feira, 30. 

Esse movimento jogou para fora da população ocupada 7,8 milhões de pessoas, uma queda de 8,3% no montante de ativos. Desses, 5,8 milhões eram informais, ou seja, trabalhadores sem carteira assinada ou registro de pessoa jurídica (CNPJ).

De abril a maio, o número de empregados no setor privado sem carteira assinada também caiu, com a saída de 2,4 milhões de pessoas do mercado, o que representa um recuo de 20,8% na força de trabalho do segmento.

Já os trabalhadores por conta própria diminuíram em 8,4%, ou seja, 2,1 milhões de pessoas. Com isso, a taxa de informalidade caiu de 40,6% para 37,6%, a menor desde 2016, quando o indicador passou a ser produzido, diz o IBGE. A queda numérica no número de informais não é um bom sinal, destaca o instituto:

"Significa que essas pessoas estão perdendo ocupação e não estão se inserindo em outro emprego. Estão ficando fora da força de trabalho”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, em material de divulgação.

Pela primeira vez desde desde o início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2012, menos da metade das pessoas com idade para trabalhar está ocupada no Brasil. O contingente caiu para 49,5% no trimestre encerrado em maio, um recuo de cinco pontos percentuais em relação ao encerrado em fevereiro.

 

A taxa de subutilização da mão de obra também bateu recorde, chegando a 27,5%: "ou seja, mais de um quarto dos trabalhadores revelam não ter renda suficientes para dar conta do seu padrãoi de consumo ou necessidades mensais", nota André Perfeito, da Necton. O número é 4,0 pontos pontos porcentuais maor em relação ao trimestre anterior (23,5%) e 2,5 p.p em relação a 2019 (25,0%).

Esse número engloba 30,4 milhões de pessoas disponíveis para trabalhar mais horas (subocupados) e que desistiram de buscar emprego por acharem que não vão conseguir encontrar (desalentados).

Outro efeito dessa debandada de profissionais da força ativa do país que precisa ser analisado com cuidado é sob a renda dos trabalhadores, que no trimestre atingiu seumaior nível desde o começo da série. A saída de informais (trabalhadores que ganham os menores rendimentos) do mercado acabou jogando para cima o rendimento médio habitual, explica o IBGE. O indicador subiu 3,6% no período, chegando a R$ 2.460.

Privado com carteira assinada

O contingente de empregados no setor privado com carteira assinada (não conta trabalhadores domésticos) também teve uma redução importante na força de trabalho, atingindo o menor nível da série. Foram 2,5 pessoas a menos nesse mercado do trimestre findo em fevereiro até o que terminou em maio, uma queda de 7,5%.

Entre ocupados e desocupados, mas que gostariam de trabalhar, o contingente teve uma queda de 7,4 milhões (-7%), atingindo 98,6 milhões de pessoas em relação ao trimestre encerrado em fevereiro.

Já o número de trabalhadores domésticos, estimado em 5 milhões de pessoas, teve uma queda de 18,9% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro. São 1,2 milhão de trabalhadores a menos no mercado de trabalho, diz o IBGE.

Reação vai demorar

Dificilmente o mercado vai voltar a um nível de força de trabalho igual ao período pré-pandemia ainda neste ano, diz Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre FGV): "Raramente um choque dessa magnitude se dissolve completamente, a gente chama isso de "histerese".

O termo é usado por economistas para descrever efeitos duradouros vindos de choques como os provocados pela pandemia do coronavírus. Histerese é a tendência de um sistema de conservar determinadas características geradas por um impulso mesmo na ausência do estímulo que as gerou.

No caso da taxa de desemprego no Brasil, isso significa que ela ainda vai sofrer um tanto antes de começar a baixar, mesmo com a tendência de reação de alguns setores da economia já sendo visto em dados que medem a atividade.

A expectativa do Ibre é que a taxa de desemprego chegue ao fim de 2020 em 18,7%. Esse número, no entanto, deve ser revisto para baixo ainda hoje, segundo Duque.

“Notamos que a jornada média vai compensar boa parte da queda de atividade”, disse o pesquisador nesta segunda-feira a Exame. Em outras palavras, o economista nota que o programa do governo de ajuda à folha evitou uma queda maior do desemprego. Além disso, “os informais também estão trabalhando menos”, diz.

Em meio a recordes, por que taxa de desemprego não é recorde?

Em meio a tantos recordes - queda da população ocupada, de desalentados e de subutilizados -, a taxa dedesemprego não é a maior da história. Em abril de 2017, um ano após o fim da última recessão brasileira, chegou a 13,14%.

Já é sabido que, desta vez, as consequências da crise sanitária da covid-19 na economia brasileira serão mais graves do que há quatro anos. Então, por que de desocupação não reflete isso?

Como o economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV, explicou hoje mais cedo nos comentários de um post no Twitter, isso acontece justamente por causa da saída recorde de pessoas da força de trabalho:

"Ou seja, as pessoas estão perdendo o emprego mas desistem de procurar por trabalho. Com isso o desemprego não sobe (lembrando que o desempregado tem que estar procurando por emprego). Mas a população não economicamente ativa dispara", diz.

https://twitter.com/ottoni_bruno/status/1277943011054424064

 

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