Guerra comercial: ao todo, os EUA cobraram tarifas de US$ 250 bilhões em importações chinesas, de aço e alumínio a móveis de bambu e malas. (Thomas White/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de outubro de 2018 às 15h54.
Nova York - O governo Trump diz que as tarifas sobre as importações chinesas vão trazer a produção de volta para as fábricas dos Estados Unidos, mas algumas empresas de pequeno e médio porte que voltaram a produzir em território norte-americano dizem que as tarifas estão prejudicando, e não ajudando, seus negócios.
A Kent International, uma empresa de bicicletas, abriu uma fábrica em Manning, na Carolina do Sul, em 2014, para começar a montar algumas das bicicletas que vende para a Walmart e outros varejistas. Atualmente, emprega cerca de 167 pessoas. A Kent planejava expandir a instalação no próximo ano importando tubos de aço cortados na China para pintura e soldagem. A empresa planejava contratar mais 30 a 40 trabalhadores para a fábrica, que monta cerca de 300.000 das cerca de 3 milhões de bicicletas vendidas anualmente pela empresa em todo o mundo.
"Quando começamos a ficar sabendo das tarifas e estávamos confiantes de que os tubos de corte estariam sujeitos às tarifas, paramos", disse Arnold Kamler, proprietário majoritário da empresa e seu executivo-chefe há mais de 30 anos. Em vez disso, ele está viajando para a Tailândia, Vietnã, Camboja, Filipinas e Taiwan para encontrar novos fornecedores de produtos atingidos por tarifas impostas à China. "Não estamos trazendo empregos para a América com isso", disse Kamler. "Estamos trazendo empregos para diferentes países do Sudeste Asiático."
A administração Trump diz que as tarifas são projetadas para combater o que vê como práticas comerciais injustas que dão às empresas chinesas vantagem sobre suas contrapartes nos EUA. Alguns fabricantes norte-americanos estão relatando aumento na receita, à medida que as tarifas forçam os clientes a repensar as cadeias de suprimento.
Na Allied Technologies International, fabricante de peças em Tualatin, Oregon, com 57 funcionários, os pedidos aumentaram 30% em relação ao ano passado. "Há um choque de preços por causa das tarifas e, mais importante, há um risco na cadeia de suprimentos", disse o CEO da Allied, Thomas Biju Isaac.
As mais recentes tarifas, uma taxa de 10% sobre US$ 200 bilhões em importações chinesas, incluindo bicicletas e partes de bicicletas, entraram em vigor em setembro e devem subir para 25% no fim do ano. Ao todo, os EUA cobraram tarifas de US$ 250 bilhões em importações chinesas, de aço e alumínio a móveis de bambu e malas. A China respondeu com tarifas sobre US$ 110 bilhões em exportações dos EUA.
Empresas que trouxeram fábricas de volta para os EUA dizem que as tarifas estão aumentando seus custos e tornando-as menos competitivas. "É difícil fabricar coisas aqui", disse Manville Smith, vice-presidente da JL Audio. "Seria bom se nosso governo nos ajudasse, não nos prejudicasse."
Smith e outros fabricantes menores disseram que estão em desvantagem sob as atuais regras tarifárias. Os produtos acabados fabricados na China que usam os mesmos componentes muitas vezes podem entrar nos EUA vindos da China sem pagar essas taxas. Assim, um alto-falante chinês evita as tarifas, mas um montado na fábrica da JL Audio na Flórida enfrentará um imposto de 25% sobre peças-chave no ano que vem. Um alto-falante europeu também evitaria as tarifas, mesmo se usasse componentes chineses.
Os bens intermediários, ou peças e matérias-primas usadas para fazer um produto acabado, representam cerca de metade dos US$ 250 bilhões em importações chinesas sujeitas a tarifas, de acordo com o Instituto Peterson de Economia Internacional.
Produtos acabados da China podem perder sua vantagem sobre os produtos fabricados nos Estados Unidos com componentes chineses se a Casa Branca seguir com sua ameaça de colocar mais US$ 267 bilhões em tarifas sobre importações chinesas, uma medida que até agora evitou limitar o impacto sobre os consumidores norte-americanos.
O escritório do Representante Comercial dos EUA se recusou a comentar o assunto.
Empresas atingidas pelas tarifas não estão simplesmente aumentando os preços para compensar os custos adicionais. Alguns proprietários de empresas dizem que estão adiando os planos para expandir sua presença nos EUA, analisando desistir de algumas linhas de produtos ou a transferência da produção para o exterior.
"No geral, a produção no curto prazo nos EUA está pior por causa das tarifas", disse Harry Moser, fundador da Reshoring Initiative, uma organização sem fins lucrativos que ajuda os fabricantes a tomar decisões sobre a realocação da produção. O presidente Trump "está 100% certo em trabalhar para reduzir o déficit comercial e trazer empregos industriais para os EUA", disse Moser, mas "achamos que ele não escolheu a ferramenta ideal para alcançar esse objetivo".
Empresas que buscam evitar o custo adicional das tarifas são más notícias para fabricantes de peças dos EUA, como a Mitchell Metal Products, sediada em Merrill, Wisconsin. No ano passado, Mitchell ganhou o primeiro National Reshoring Award, concedido pela Reshoring Initiative e pela Precision Metalforming Association. A empresa, que existe há 64 anos, venceu licitações para fabricar peças usadas em camas, móveis e equipamentos para gramados e jardins, mostrando que está dentro do limite de 20% do custo total de compras feitas de fornecedores estrangeiros. Mas a matemática jogou contra a empresa, que tem pouco mais de 80 funcionários, depois que os preços domésticos do aço subiram 40% ou mais em resposta às tarifas sobre metais importados no início deste ano.
"Desde o início das tarifas, nós não ganhamos um único prêmio de realocação", disse o presidente e co-proprietário da companhia, Timothy Zimmerman, que teme que os negócios reconquistados possam ser perdidos. "Eu não durmo bem à noite." Fonte: Dow Jones Newswires.