Economia

Tarifas dos EUA sobre aço deixam Brasil em desvantagem

O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, tendo enviado ao país 4,7 milhões de toneladas em 2017

Aço: "México e Canadá serem isentados das tarifas é muito ruim para o Brasil", disse o presidente da AEB (Domingos Peixoto/Site Exame)

Aço: "México e Canadá serem isentados das tarifas é muito ruim para o Brasil", disse o presidente da AEB (Domingos Peixoto/Site Exame)

R

Reuters

Publicado em 8 de março de 2018 às 21h54.

São Paulo - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira que em 15 dias vão entrar em vigor tarifas de importação de aço e alumínio e que México e Canadá, parceiros do país no Nafta, serão isentos.

O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, tendo enviado ao país 4,7 milhões de toneladas em 2017.

Veja a seguir comentários de especialistas no mercado siderúrgico e de comércio internacional:

Ministro Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Marcos Jorge (Indústria, Comércio Exterior)

"As medidas causarão graves prejuízos às exportações brasileiras e terão significativo impacto negativo nos fluxos bilaterais de Comércio, amplamente favoráveis aos Estados Unidos nos últimos 10 anos, e nas relações comerciais e de investimentos entre os dois países.

Os produtos do Brasil não causam ameaça aos interesses comerciais ou de segurança dos EUA. Ao contrário, as indústrias de ambos os países são integradas e se complementam. Cerca de 80 por cento das exportações brasileiras de aço são de produtos semiacabados, utilizados como insumo pela indústria siderúrgica norte-americana. Ao mesmo tempo, o Brasil é o maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (cerca de 1 bilhão de dólares, em 2017), principalmente destinado à produção brasileira de aço exportado àquele país.

As medidas restritivas às importações de aço e alumínio são incompatíveis com as obrigações dos EUA ao amparo da Organização Mundial de Comércio (OMC), e não se justificam, tampouco, pelas exceções de segurança do GATT 1994.

Ao mesmo tempo em que manifesta preferência pela via do diálogo e da parceria, o Brasil reafirma que recorrerá a todas as ações necessárias, nos âmbitos bilateral e multilateral, para preservar seus direitos e interesses."

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)

"Claramente México e Canadá serem isentados das tarifas é muito ruim para o Brasil, que é o segundo maior exportador de aço para os EUA. Brasil e outros países vão reduzir exportações para os EUA e México e Canadá, que é o maior exportador da liga para o país, vão manter seu mercado e ganhar mercado do Brasil. O Brasil não tem peso econômico ou político hoje para enfrentar os EUA.

Mas o grande receio é se o Trump gostar da brincadeira e ele definir tarifas para outros setores. Ele está partindo do pressuposto que o mundo está organizado em cartel contra os EUA. Não tem nenhum parâmetro técnico que justifique esses 25 por cento. O mundo estava globalizado e agora ele está desglobalizando.

O Brasil pode acompanhar o que a União Europeia vai fazer... Nesse sentido, as tarifas podem acelerar as negociações entre Mercosul e UE. Nos próximos dois meses deveremos ter novidades."

Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr)

"A decisão de Trump tem componente de cumprimento de promessa de campanha eleitoral, mas podemos perceber na semana passada em Washington uma certa insatisfação do governo americano com a morosidade na solução do problema do excesso de capacidade mundial de aço, que está sendo discutida no âmbito da (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) OCDE.

A estratégia do governo americano de excetuar apenas Canadá e México, que são parceiros no Nafta, e não União Europeia e Coreia do Sul, que são parceiros militares, por exemplo, nos dá expectativa de que agora a gente possa fazer as solicitações de exclusão do país (Brasil) em uma primeira instância ou de pelo menos exclusão do bloco de semiacabados.

A indústria americana não tem autosuficiência, precisa de semiacabados, eles não vão poder colocar capacidade nova da noite para o dia. O Brasil exportou em 2017 4,7 milhões de toneladas de aço para os EUA, das quais 3,8 milhões foram de semiacabados. Já o Canadá exportou 5,7 milhões, das quais 5,5 milhões de toneladas eram de produtos acabados. O México exportou 3,2 milhões de toneladas para os EUA, das quais 2,3 milhões de produtos acabados... Por isso, acreditamos que poderemos ter o atendimento das nossas solicitações.

Com o fechamento do mercado americano, haverá desvio do fluxo de comércio que ia para lá. O Brasil tem que estar atento."

Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço

"Por enquanto está todo mundo muito nervoso, sem saber o que vai falar. No momento, não tem nada que nos leve a crer que vai haver perturbação ao mercado brasileiro... O aço só vai vir para cá se o preço lá fora for mais baixo que no mercado interno. Todos as declarações do Trump até agora não causaram movimentos nos preços internacionais do aço. Não existe chance de haver uma inundação de aço importado no Brasil se não tiver prêmio (diferença de preços entre o mercado interno e externo) que permita isso.

Se placas (produto semiacabado) forem excetuadas das tarifas, seremos pouco atingidos pelas tarifas. Os exportadores de placa do Brasil para os EUA são CSA (Ternium) e Pecém (CSP), a CST (ArcelorMittal) está no limite da capacidade de laminação de bobina a quente. O Brasil exporta muito pouco para os Estados Unidos, a Usiminas por exemplo exportou para os EUA 4 por cento dos 15 por cento da produção que exportou no ano passado."

Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

"As medidas vão afetar 3 bilhões de dólares em exportações brasileiras de ferro e aço e 144 milhões em exportações de alumínio. Isso equivale a uma massa salarial de quase 350 milhões de reais e impostos da ordem de 200 milhões.

Os EUA querem resolver um problema econômico, de baixa competitividade da indústria americana, alegando riscos à segurança interna e internacional do país.

Consideramos que o governo brasileiro deve utilizar todos os meios disponíveis para responder à decisão americana, inclusive no âmbito do sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que, em caso de vitória, nos daria direito à retaliação.

Ao adotar as medidas, os EUA vão violar pelo menos três normas da OMC. O governo americano impõe medidas de forma unilateral sem respeitar as regras de investigação para a adoção de medidas de defesa comercial, discrimina o produto estrangeiro em detrimento do produzido nos EUA e amplia a tributação da importação para além das alíquotas acordadas pelo próprio país na OMC."

Acompanhe tudo sobre:acoBrasilDonald TrumpEstados Unidos (EUA)ImportaçõesProtecionismo

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto