Repórter
Publicado em 11 de março de 2025 às 20h25.
Os Estados Unidos iniciarão a aplicação de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio para parceiros comerciais a partir desta quarta-feira, 12, uma decisão do governo de Donald Trump que atinge diretamente países como o Brasil — um dos maiores exportadores do produto para o território americano.
A medida, que revoga as isenções concedidas a alguns aliados históricos, reflete uma estratégia mais agressiva do governo Trump para proteger sua indústria e reduzir a dependência de metais estrangeiros.
Em 2024, o país se consolidou como o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, superado apenas pelo Canadá.
Durante o ano passado, o Brasil enviou 4,08 milhões de toneladas para os americanos, o que corresponde a 15,5% de todas as importações de aço realizadas pelos EUA, segundo o Departamento de Comércio dos Estados Unidos (DOC).
O aumento da dependência dos EUA pelo Brasil no setor também é expressivo: entre 2022 e 2024, houve um crescimento de 74% nas exportações de aço para os americanos, segundo dados da Administração de Comércio Exterior dos EUA e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil (MDIC).
Além do aço, o Brasil também é relevante na exportação de alumínio. Embora o impacto sobre esse setor seja menor, o país exportou US$ 796 milhões em alumínio para os Estados Unidos no último ano, com destaque para os produtos semimanufaturados, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
Apesar da posição de destaque nas exportações para os EUA, a nova rodada de tarifas não deve afetar o Brasil diretamente.
"Todos os concorrentes das empresas brasileiras estarão em situação de igualdade. Todos serão taxados da mesma forma. E também há fabricantes brasileiros que já estão nos Estados Unidos, fabricando aço lá. Então, para algumas empresas, a situação até vai melhorar", diz Paulo Feldmann, economista da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à EXAME.
É o caso da Gerdau, que possui 11 unidades de produção nos EUA. Com 35% das operações sediadas no país americano, a empresa deve evitar os custos adicionais enfrentados pelos exportadores.
De acordo com a Genial Investimentos, a medida deve ajudar a preservar a margem Ebitda da companhia, que está projetada para se recuperar após uma queda de 12,2% no quarto trimestre de 2024.
A possibilidade de aumentar os preços em 5% nos EUA pode impulsionar o Ebitda da divisão norte-americana em até 12%, segundo os analistas.
Mas o mesmo pode não ser verdade para outras empresas do setor. Segundo a Genial, aproximadamente 60% das exportações brasileiras de aço foram enviadas para os EUA, com 80% dessa quantidade proveniente de empresas não listadas, como Ternium Brasil e ArcelorMittal/CSP. Essas companhias devem enfrentar maiores desafios devido às tarifas impostas.
Para outras empresas listadas, o impacto será limitado, segundo analistas. A CSN, que tem uma exposição reduzida ao mercado americano, poderá sofrer um impacto nas novas vendas, mas o volume envolvido representa apenas 8% das exportações totais, com impacto mínimo no Ebitda.
A Usiminas, por sua vez, tem exposição direta quase nula aos EUA, com a maior parte das vendas destinadas à Argentina.
Para Feldmann, o consumidor também não deve sentir o peso das tarifas no bolso.
"O Brasil é um importante produtor de aço e de alumínio e, na maior parte, abastece o próprio mercado, que continuará comprando das empresas brasileiras e pagando provavelmente o mesmo preço. Isso não terá repercussão sobre a cadeia de valores", afirma o economista.
O Canadá, que responde por 24,2% das importações de aço e 79% das de alumínio para os Estados Unidos, e o México, terceiro maior exportador de aço para o país, devem ser os países mais afetados pela nova política de Trump.
Apesar de uma isenção temporária de tarifas para o Canadá até abril de 2025, a promessa de tarifas recíprocas para o mês seguinte aumenta a incerteza para os mercados norte-americanos e seus vizinhos do norte.
O México, por sua vez, com exportações de aço de US$ 3,1 bilhões em 2024, também se prepara para os efeitos das novas tarifas, buscando diversificar seus mercados e aumentar a presença em acordos comerciais com outras regiões, como a Ásia e a União Europeia.
Esta não é a primeira vez que Trump recorre a tarifas como medida de proteção à indústria americana. Durante seu primeiro mandato, em 2018, ele impôs uma tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, alegando motivos de segurança nacional.
Naquele momento, o Canadá e o México foram inicialmente excluídos das tarifas devido às negociações do USMCA, mas outros países, como o Brasil e a Coreia do Sul, receberam cotas de isenção, permitindo-lhes exportar volumes determinados sem enfrentar a tarifa.
A estratégia de Trump no período foi controversa, com diversos países buscando isenções ou negociando limites de exportação.
O Brasil, por exemplo, obteve uma cota que permitia exportar até 70% do aço semiacabado para os Estados Unidos sem a tarifa, mas a medida foi limitada com o tempo, com a redução de 30% nas cotas em 2020.
As tarifas do primeiro mandato de Trump tiveram impactos mistos: enquanto alguns setores industriais dos EUA se beneficiaram com o aumento na produção de aço, o setor automotivo sofreu com a alta nos custos de produção, o que resultou em perdas de empregos.
A retaliação internacional à época também foi significativa, com a União Europeia e a China impondo tarifas a produtos agrícolas americanos.
Nesta quarta-feira, os EUA divulgam o relatório sobre o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de fevereiro, com expectativa de alta de 0,3%, o que representa uma leve desaceleração, mas ainda acima da meta do Federal Reserve (Fed) de 2%.
A previsão é que a inflação anual fique em 2,9% e o núcleo em 3,2%, valores um pouco abaixo de janeiro, mas longe do objetivo do Fed.
O grande questionamento, segundo analistas ouvidos pela CNBC, é justamente sobre qual será o impacto das políticas tarifárias de Trump, que continuam a alimentar temores de uma inflação mais alta e crescimento econômico mais lento.
Para eles, apesar disso, o Fed pode optar por manter sua política de juros baixos, já que, historicamente, as tarifas tendem a causar aumentos pontuais nos preços, sem afetar a inflação a longo prazo.