Dilma Rousseff: nomes do hipotético presidente em exercício Michel Temer para a área econômica também são cruciais (Ueslei Marcelino / Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de maio de 2016 às 19h06.
O placar de hoje no Senado deve ajudar a definir a reação do mercado do dia seguinte à votação do afastamento de Dilma Rousseff. O número mágico é 54 a favor do impeachment.
Igual ou acima desta marca, haveria maior segurança para os investidores de que a mudança política é irreversível, por ser o necessário para aprovar o impeachment definitivamente.
Os nomes do provável presidente em exercício Michel Temer para a área econômica também são cruciais. O investidor espera uma equipe com reputação suficiente para dar um choque de confiança logo na largada do novo governo.
Embora 41 votos hoje sejam suficientes para Dilma ser afastada temporariamente, o mercado tende a se sentir mais seguro com um placar bem mais alto, que iguale ou supere os 2/3 dos votos necessários no final do processo. “Um placar mais dilatado agora reduziria o temor de um resultado desfavorável ao impeachment na votação final”, diz Vladimir Caramaschi, economista-chefe do Credit Agricole Indosuez.
“54 votos é a linha divisória que vai estabelecer a percepção do mercado, porque é o número de votos que será necessário para consumação do processo”, diz Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria. Um número que ultrapasse esta marca será lido de forma bastante positiva, “levando à apreciação do real e ganhos de ativos brasileiros”, diz o analista.
“O marco é 54 votos”, diz Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores. O otimismo do mercado poderá ser ainda maior se o impeachment receber 59 ou mais votos, um número que o próprio PMDB estaria considerando possível segundo os jornais. No entanto, a reação é “assimétrica”, positiva no caso de placar alto e não tão ruim em caso de placar mais magro, diz Ribeiro. “Abaixo de 54, pode até haver alguma reação negativa do mercado, mas não muita, porque Temer vai assumir de toda maneira, o período até o julgamento é longo e a avaliação geral é de que Dilma dificilmente volta”, diz Ribeiro.
Caramaschi também considera que, independente do placar de hoje, caso a admissibilidade do impeachment passe, dificilmente Dilma recupera o mandato. A presidente vai perder “alavancagem” em termos de poder político e deve sofrer muita pressão para renunciar, diz o estrategista. Cortez, da Tendências, faz uma ressalva. No caso de um placar mais decepcionante, perto do mínimo de 41 votos, o mercado poderia sentir, com alta do dólar e queda da bolsa. Ele prevê, porém, um número mais folgado, próximo a 54.
Além de reduzir as chances de retorno de Dilma, o mercado reagiria bem a uma votação elevada hoje por ser um sinal de que Temer terá apoio no Congresso para as reformas, diz Markus Casal, operador da Ativa. “Saída de Dilma está bem precificada. Mas quanto maior o apoio ao impeachment, mais cairá o dólar”.
A reação dos mercados também vai depender da confirmação de uma equipe econômica forte, diz Caramaschi, do CA Indosuez. Ele prevê espaço adicional de valorização dos ativos brasileiros, com bolsa atingindo os 58.000 pontos e dólar caindo a R$ 3,30, com as melhores expectativas do mercado se confirmando no período pós-impeachment. No caso do câmbio, os leilões do BC são limitadores para o fortalecimento do real.
Caramaschi considerou positiva a possibilidade de Temer escolher Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, como presidente do BC, relatada hoje pelo jornal Valor. “Todos os nomes citados na mídia até agora são excelentes. Mas o Ilan, como ex-diretor do BC e economista de um dos maiores bancos do país, é visto como o nome que causaria maior impacto positivo sobre os investidores”. Mário Mesquita, do Plural, Carlos Kawall, do Safra, Eduardo Loyo, do BTG, Afonso Bevilaqua e Carlos Hamilton também têm sido citados como possíveis nomes para o BC e outros postos da equipe econômica.
João Paulo de Gracia Corrêa, superintendente regional de câmbio da SLW, considera que, se o dólar cair abaixo de R$ 3,45 após o impeachment, será um ponto para o mercado “recompor posição”. O fator decisivo para o mercado a partir de segunda-feira serão os primeiros passos do governo Temer, qual a capacidade que ela terá para implementar seu programa “Uma Ponte Para o Futuro”, diz Corrêa.
No caso do Ibovespa, Raphael Figueiredo, analista da corretora Clear, avalia que a tendência de alta também depende de o eventual novo presidente não decepcionar o mercado na formação de sua equipe. “Na quinta-feira, a presidente desce a rampa e o mercado festeja, a bolsa pode subir um pouco, mas o impeachment já é página virada. O que pode levar Ibovespa aos 57.000 é a oficialização dos nomes da equipe técnica de Temer, como Meirelles, por exemplo e outros. Essa será a grande referência para o mercado”.