Vitória de Trump levanta a possibilidade de guerra comercial entre EUA e China (Getty Images/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 17h07.
Última atualização em 14 de novembro de 2016 às 18h09.
São Paulo - O tablóide chinês Global Times respondeu a algumas ameaças de Donald Trump, eleito na semana passada o novo presidente dos Estados Unidos.
"Se ele listar a China como manipuladora do câmbio e colocar altas tarifas sobre importações chinesas, a China vai tomar medidas de resposta", diz o editorial publicado ontem.
A China e acordos comerciais como o NAFTA estiveram entre os principais alvos do candidato republicano, que defendeu a aplicação de uma tarifa de 45% sobre as exportações chinesas caso o país continue “estuprando” os EUA com o que considera práticas injustas e ilegais.
"Se Trump impuser uma tarifa de 45% sobre as importações chinesas, o comércio China-EUA será paralisado. A China então terá uma abordagem de 'olho por olho'. Uma leva de pedidos da Boeing será trocada pela Airbus. As vendas do setor automotivo americano e de iPhones sofrerão um revés, e as importações de soja e milho serão suspensas. A China também pode limitar o número de estudantes chineses estudando nos EUA", diz o texto.
O Global Times é publicado pelo principal jornal oficial, o People's Daily, e toda a imprensa chinesa é controlada de perto.
O tablóide não representa a posição oficial do governo mas costuma refletir, ainda que com linguagem mais estridente, o que pensam altos escalões do governo, como admite até o seu editor.
O time de transição de Trump afirmou que ele conversou com o presidente chinês Xi Jinping na noite desse domingo, quando eles estabeleceram "um senso claro de respeito mútuo".
O editorial conclui com uma sugestão de que talvez o "o cenário de guerra comercial seja uma armadilha montada por parte da mídia americana para fazer o novo presidente tropeçar".
Trump X China
O único economista acadêmico na equipe de campanha de Trump foi Peter Navarro, autor de livros e um documentário culpando a China pelo declínio do setor manufatureiro americano (veja entrevista).
Ninguém sabe até que ponto Trump irá adiante com suas promessas, já que ele vem adotando um tom mais cauteloso desde que foi eleito.
Um sinal importante será a composição de sua equipe, com destaque especial para a posição de representante para o comércio.
O presidente americano dispõe de várias prerrogativas para fechar a economia, mas iniciativas mais ambiciosas podem ser travadas pelo Legislativo, controlado por um Partido Republicano historicamente mais alinhado com a defesa do livre comércio.
"Se as tarifas sobre importações do México e da China forem elevadas em 35% e 45%, respectivamente, a tarifa efetiva média dos EUA subiria 11 a 12 pontos percentuais, de 1,5% para cerca de 13%, nível não visto desde a Segunda Guerra Mundial", diz um relatório lançado ontem pelo Goldman Sachs.
A inflação também deve subir com a combinação entre restrições ao comércio, deportação em massa, restrição à imigração e expansão fiscal - todas prometidas por Trump.
As empresas americanas também seriam muito prejudicadas com uma guerra comercial:
"Eu imagino o que pode acontecer, por exemplo, com o balanço patrimonial das empresas americanas que operam no Sudeste Asiático caso sejam impostas barreiras unilaterais pra exportações da China para os EUA. Vai matar o Walmart, machucar o Starbucks, prejudicar a Apple" disse Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia em Nova York, em entrevista para EXAME.com logo após a eleição.