Bolívares apreendidos pela Polícia (Polícia Civil/Divulgação)
João Pedro Caleiro
Publicado em 1 de julho de 2019 às 16h09.
Última atualização em 2 de julho de 2019 às 14h38.
Quando autoridades no Rio de Janeiro romperam o cadeado de uma caixa de aço com letras grandes que evidenciavam o suposto dono do cofre, o banco central do Iraque, encontraram uma pilha de dinheiro cujo valor não pagava nem o papel para a impressão das notas.
“A gente imaginava encontrar moeda iraquiana lá”, disse em entrevista o delegado Fabrício Oliveira, que participou da batida policial. "Mas, para nossa surpresa, encontramos a moeda venezuelana, na verdade uma moeda que hoje não vale mais nada."
Não tem valor até que a tinta seja removida e as notas reimpressas como dólares, disse. Do contrário, as notas de 100 bolívares - todas as 11.765 - valem míseros US$ 1.794. E esse valor diminui cada vez mais rápido com a impressão de dinheiro pela Venezuela para financiar um enorme déficit fiscal, principal causa da hiperinflação do país andino.
O cofre não pertence ao banco central do Iraque, que não utiliza essas caixas desde 2003, disse por telefone Abdul Kareem Hasan, diretor-geral do departamento de emissões e caixas-fortes do banco.
Autoridades brasileiras receberam informações de que uma empresa de transporte havia se recusado a enviar o cofre para os EUA a pedido de dois brasileiros, pois faltava a documentação necessária sobre a origem da caixa. Os homens foram presos na área portuária do Rio de Janeiro quando tentavam despachar o baú do tesouro por outra empresa, com a expectativa de receber US$ 180 mil pelo serviço, disse Oliveira. Mais de uma dezena de policiais armados e funcionários da Receita Federal estavam esperando por eles em veículos sem identificação.
"O que parece das informações que temos, essas notas de bolívar venezuelano são ideais para serem descoloridas com produtos químicos e reimpressas com o dólar encima, uma nota mais antiga da moeda", disse Oliveira. "Essa é a nossa principal linha de investigação, uma vez que essa caixa já estava sendo despachada para o estado de Arkansas nos Estados Unidos."
A divisão de repressão ao contrabando da Receita Federal diz que foi a Casa da Moeda do Brasil que vendeu o papel que a Venezuela usou para imprimir muitos dos bolívares apreendidos na quinta-feira. A Casa da Moeda disse em email que imprimiu bolivares em 2018, mas não nas denominações que foram apreendidas e que não fornece papel. Segundo o site da Casa da Moeda, mais de uma dúzia de países da América Latina e da África contrataram a instituição para fornecer produtos e serviços.
Autoridades brasileiras fizeram outras apreensões de bolívares nos últimos anos, incluindo uma no mesmo porto em 2017, quando foram encontrados 40 milhões de bolívares dentro de malas.
"As características da nota venezuelana permitem que seja matéria-prima para a falsificação de outras notas", disse André Rebolledo, especialista venezuelano em prevenção de lavagem de dinheiro. "Não tem valor, ninguém quer, então as pessoas compram para conseguir esse objetivo."