Volvo: quando a fabricante de carros sueca estava com dificuldades no auge da crise financeira global, o governo em Estocolmo não fez nenhum esforço para ajudá-la (./Divulgação)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2017 às 18h10.
Estocolmo - O luxuoso SUV XC90 da Volvo tem um design puramente escandinavo. Mas os cabos vêm do Marrocos, os catalisadores da África do Sul, as chaves de couro de Portugal e as baterias híbridas plug-in da Coreia do Sul. Ah, e os donos são chineses.
Quando a fabricante de carros sueca estava com dificuldades para fazer frente às despesas no auge da crise financeira global, o governo em Estocolmo não fez nenhum esforço para ajudá-la, inclusive quando países como Alemanha e EUA apoiavam suas indústrias automotivas.
A Volvo acabou sendo vendida à chinesa Geely. Poucos anos antes, os políticos locais ficaram de braços cruzados quando a empresa foi vendida para a Ford.
A história da Volvo -- que tem fornecedores de cerca de 50 países -- reflete o caso de amor da Suécia com a globalização.
A maioria dos políticos suecos está convencida de que a concorrência global e o livre comércio são a chave para preservar o status de um dos países mais prósperos do mundo.
Esta é uma visão de mundo que vale a pena comparar com a do presidente dos EUA, Donald Trump, que culpa os acordos comerciais por deixarem grandes quantidades de operários mais pobres do que quando o mundo era menos globalizado.
No caso da Suécia, com a concorrência do exterior “nossas empresas foram forçadas a adotar novas ideias e novas tecnologias, ou correriam o risco de serem extintas”, disse Johan Norberg, escritor sueco especialista em globalização e membro sênior do Cato Institute em Washington. “Isto foi fundamental para o sucesso da Suécia.”
A Suécia moderna pode mostrar pouca piedade com empresas incapazes de competir, mas seu fabuloso estado de bem-estar, que ganhou forma com décadas de governos social-democratas, garante proteção aos seus trabalhadores se eles perderem seus empregos.
A abertura às mudanças ajudou a substituir antigas indústrias por gigantes internacionais como Hennes & Mauritz e Ikea.
A Suécia também surgiu como uma das maiores exportadoras mundiais de música e jogos de computador, tendo Spotify e Minecraft como nomes familiares graças a uma política pública agressiva que incentiva a propriedade no setor de computação. Tudo isso em um país pequeno, de apenas 10 milhões de habitantes.
Segundo Norberg, a solução não é fechar fronteiras, mas reformar a economia, por exemplo permitindo salários de nível de entrada mais baixos e desregulando novos setores.
Em relação ao comércio exterior, Trump precisa reconsiderar sua postura protecionista.
As dificuldades da indústria automotiva norte-americana são um bom exemplo: os esforços para proteger os trabalhadores da concorrência salarial simplesmente acabaram prejudicando sua competitividade, disse Norberg.
Esta é uma visão compartilhada pelo ministro da Indústria e Inovação da Suécia, Mikael Damberg.“É um erro os EUA virarem as costas para o mundo em relação ao comércio”, disse Damberg, em entrevista recente, em Londres.
“Se você pensa que é capaz de defender o velho mundo da tecnologia e da inovação, ao longo do tempo a tecnologia vai passar por cima de você.”
Quanto à Volvo Cars, seus proprietários chineses transformaram os prejuízos em lucros.
Após lançar uma série de novos modelos, no ano passado a companhia reportou aumento de 66 por cento no lucro operacional, para 11 bilhões de coroas, quando as vendas globais atingiram um recorde de mais de meio milhão de carros.
Seu luxuoso SUV XC90 ainda é construído na Suécia.