Economia

Sucesso de Pernambuco também deve crédito a governo federal

PIB do Estado cresceu 5,1%, em média, desde 2007, e que garantiu a reeleição do governador em 2010 com cerca de 83% dos votos válidos


	Recife: vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco, Ricardo Essinger, avalia que a ajuda do governo federal foi fundamental para Pernambuco ter atingido o atual patamar de crescimento
 (Getty Images)

Recife: vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco, Ricardo Essinger, avalia que a ajuda do governo federal foi fundamental para Pernambuco ter atingido o atual patamar de crescimento (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2013 às 13h38.

Recife - Pernambuco convive há anos com um ritmo de crescimento econômico que poucas regiões do país puderam sentir. E a maior parte desse sucesso se deve ao impulso dado pelo governo federal com investimentos e obras e a uma dose de experimentalismo administrativo do governador Eduardo Campos.

Esse modelo vitorioso, que fez o PIB do Estado crescer 5,1 por cento, em média, desde 2007, e que garantiu a reeleição do governador em 2010 com cerca de 83 por cento dos votos válidos, deixa uma dúvida também: até que ponto a receita administrativa aplicada em Pernambuco pelo governador e pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos, pode funcionar para o país.

Ele apostou numa equipe jovem nos principais postos, secretários com pouca ou nenhuma vinculação política, um formato difícil de ser repetido na montagem de um ministério, considerando os acordos políticos necessários para governar.

É preciso, no entanto, ponderar o papel de Brasília no sucesso de Pernambuco. Tanto aliados como adversários políticos do governador argumentam que o crescimento conquistado nos últimos anos se deve à forte parceria com o governo federal.

O PSB foi integrante dos dois governos do também pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Campos foi ministro, e estava no governo Dilma Rousseff até três meses atrás. Isso certamente influenciou decisões políticas de Brasília, como a instalação da refinaria Abreu e Lima no Complexo de Suape.

O vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger, avalia que a ajuda do governo federal foi fundamental para Pernambuco ter atingido o atual patamar de crescimento e que o terreno era propício ao desenvolvimento, mas faz uma ressalva importante.


As contas do Estado estavam em dia, e o Complexo de Suape estava pronto para receber empresas. "Ele teve um cenário muito favorável, mas teve competência para aproveitar essa condições, poderia ser alguém que não tivesse essa competência", disse o empresário à Reuters.

Entre 2007 e 2012, a indústria, com crescimento de 6,1 por cento, teve papel importante no PIB de Pernambuco, que registrou ainda expansão de 5,4 por cento dos serviços e de 3,4 por cento da agropecuária.

"Estamos vivendo nosso segundo ciclo de industrialização. Tínhamos perdido nossas principais indústrias por decisões dos governos das décadas passadas", explicou o governador em conversa com a Reuters.

Âncora

Suape é o motor desse novo impulso da indústria, mas não é o único pólo de atração de novos investimentos. Na região norte do Estado, há um pólo farmacoquímico e vidreiro e está prevista a instalação de um complexo da Fiat para fabricação de automóveis.

Na região de Caruaru, a indústria têxtil está se renovando. No Vale do São Francisco, a fruticultura é o carro-chefe. E Vitória de Santo Antão tem atraído empresas de alimentos e bebidas.

"Suape é uma âncora", admite o secretário de Desenvolvimento, Márcio Stefanni. Aos 35 anos, o ex-funcionário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também preside o Complexo Industrial Portuário de Suape.

Graças ao complexo, muitas empresas se instalam em Pernambuco de olho na facilidade logística.


Segundo a secretaria, há 50 bilhões de reais de investimentos em andamento apenas em Suape e a maioria deve estar realizada em 2014. Desse total, porém, 34 bilhões de reais são referentes à refinaria Abreu e Lima, construída pela estatal Petrobras. Um amostra clara do impulso que decisões políticas do governo federal favoráveis deram ao Estado.

Mesmo os investimentos públicos de Pernambuco saltaram. Em Suape, por exemplo, até outubro deste ano foram aplicados 1,9 bilhão de reais em obras de acesso e infraestrutura. Desse total, 1,4 bilhão de reais saíram dos cofres do Estado.

Em 2007, a soma total dos investimentos públicos, inclusive com áreas sociais, era de aproximadamente 700 milhões de reais. Neste ano, a projeção é que se aproxime dos 3,5 bilhões de reais, cinco vezes mais.

Ainda assim, a situação fiscal de Pernambuco se manteve estável, o endividamento é de aproximadamente 44 por cento da receita e o gasto com funcionalismo também está na faixa de 44 por cento, abaixo do limite prudencial estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Apesar de ter pisado no acelerador do investimento público por acreditar que o Estado tem que induzir o crescimento, Campos não abriu mão da iniciativa privada para levar adiante projetos do governo.


Em Pernambuco está em vigência o maior contrato de Parceria-Público Privada (PPP) do país, de 4 bilhões de reais para realizar obras de saneamento na região metropolitana de Recife.

Desemprego

Apesar da pujança econômica verificada agora, há uma forte preocupação, nos meios empresariais e políticos, com o desemprego, que deve voltar a subir ao longo de 2014 com a conclusão de muitos investimentos. É o caso da refinaria Abreu e Lima, que deve dispensar dezenas de milhares de pessoas.

No avaliação do governo estadual, a maior parte dessa mão-de-obra, qualificada apenas para o segmento da construção civil, deve ser absorvida por novos investimentos privados, como a construção da unidade da Fiat, na cidade de Goiana.

Mas há um esforço conjunto com a Fiepe para qualificação da mão-de-obra para que os trabalhadores da construção civil possam ser aproveitados pelas indústrias que estão se instalando.

A aposta é que o desemprego aumente, mas não tanto para reavivar outros problemas sociais que estão ficando sob controle, como a criminalidade.

Quando Campos assumiu o governo, em 2007, Pernambuco era o lugar com maior número de homicídios, latrocínios e agressões corporais seguidas de morte de todo Nordeste.


Naquele ano, foram registrados pelos órgãos de segurança pública 4.556 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), sigla que unifica mortes decorrentes dos crimes citados acima, quase um terço do número registrado em todo Nordeste (17.067 ocorrências).

Em 2011, ano da última estatística nacional disponível, o número de óbitos por CVLIs em Pernambuco foi de 3.466, ainda alto, mas o suficiente para tirar o Estado da incômoda liderança, agora ocupada pela Bahia.

O governo estadual credita a melhora da segurança pública ao programa Pacto pela Vida, que estabeleceu metas para redução da criminalidade, criou estímulos salariais para policiais e renovou a cúpula dos agentes civis e militares.

Educação

Se na segurança pública os avanços colocam Pernambuco na vanguarda do combate ao crime, na educação ainda não foram suficientes para isso.

O governo tem se esforçado para melhorar o desempenho dos alunos e a estrutura das escolas, mas levando em conta o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) os resultados ainda estão abaixo da média nacional e do Nordeste.

Entre 2007 e este ano, Pernambuco aumentou os investimentos em educação em 216,6 por cento, subindo de 90,2 milhões de reais para uma previsão de 285,8 milhões de reais neste ano.


Mesmo assim, a nota do Ideb, do ensino médio, em Pernambuco foi de 3,1 em 2011, abaixo da média brasileira que foi de 3,4, mas um pouco acima da média da Região Nordeste, que ficou em 3.

O desempenho nas provas de matemática e língua portuguesa também estão abaixo da média nacional e do Nordeste. Mas o governo pernambucano acredita que os dados com base nas provas aplicadas em 2013 devem colocar o Estado num nível melhor no Ideb.

Para isso, Campos tem apostado na ampliação de uma rede de referência da educação estadual com foco no ensino de tempo integral e ampliação da rede de ensino técnico, que cresce com o auxílio do governo federal.

Social puxado pela economia

Mas a aposta de Campos para fazer as áreas sociais deslancharem é o desenvolvimento econômico, que funcionou como mola propulsora para melhoria de quase todos os indicadores sociais, mesmo que em alguns casos, como na educação, ainda tenha muito a ser feito.

Pessoas próximas ao governador dizem que ele privilegia o crescimento econômico apostando que isso puxará a melhoria no campo social.

O governador, no entanto, não concorda com essa avaliação e diz que esse argumento é usado pela oposição que tenta atingi-lo pelo aspecto social, já que não conseguem criticar a economia.


Para Campos, os avanços sociais da sua gestão só não são tão aparentes porque a divulgação dos indicadores nas áreas de educação, saúde e segurança são mais demorados do que as estatísticas econômicas.

"Quem diz que eu cuidei da economia e descuidei do social está errado", costuma argumentar.

Fato é que também na área social o maior impulso para redução das desigualdades decorreu dos programas do governo federal. E aí não só Campos, mas todos os governadores do Nordeste foram os que mais se beneficiaram das políticas de transferência de renda.

O Bolsa Família e outros programas federais foram responsáveis pela ativação de um mercado consumidor que não existia no Nordeste e com a geração recorde de empregos nos últimos anos o poder de compra da população cresceu.

Em resumo, os efeitos positivos dos anos Campos em Pernambuco são visíveis, popularmente aprovados e há boas experiências administrativas que servem de exemplo para a administração federal.

Mas o sucesso do socialista também precisa ser relativizado pela forte parceria firmada com os governos de Lula e Dilma, que descarregaram benesses políticas para Pernambuco, e pelo impacto das políticas de transferência de renda federais.

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