Economia

Para Stiglitz, o futuro da economia será "sombrio"

Ganhador do Prêmio Nobel de Economia acredita em "década perdida" ou, no melhor dos cenários, em um crescimento muito baixo para os Estados Unidos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 13h20.

São Paulo - Os indícios de recuperação da economia global nas últimas semanas não convenceram o professor Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e um dos palestrantes do EXAME Fórum, que acontece nesta segunda-feira em São Paulo. Stiglitz acredita que o futuro da economia será "sombrio", com uma "década perdida" nos Estados Unidos ou, no melhor dos cenários, um longo período de crescimento muito baixo.

Stiglitz afirmou que os sinais de que a economia americana não estava bem já podiam ser observados bem antes da crise. "A maioria dos americanos já vivia pior do que em 1999 ou 2000.", Segundo ele, economistas como Kenneth Rogoff, Jeffrey Sachs e Paul Krugman previram o estouro da bolha imobiliária porque a economia americana vinha crescendo com base no forte endividamento do consumidor. Empréstimos ruins dos bancos, mecanismos equivocados de redução de riscos e o pensamento de curto prazo das empresas levaram à quebra do banco Lehman Brothers, que certamente tornaram a crise mais abrupta.

Para ele, a reação também é equivocada. O governo está gastando muito dinheiro para tirar os Estados Unidos da crise - e gastando da maneira errada. Além disso, em breve será necessário começar a cortar gastos. "Agora a fonte de demanda acabou desaparecendo. A tempestade está apenas começando." Para ele, a economia não poderá contar com o aumento do consumo devido ao aumento do desemprego, nem com as exportações, porque a demanda mundial desabou. "Estamos aumentando o índice de poupança. O investimento será fraco, não teremos boas exportações como em 2008. Na verdade estamos em um círculo vicioso, com a economia fraca, o desemprego em alta e o aumento da inadimplência."

Para Stiglitz, a grande vantagem do Brasil é que, ao contrário do mundo desenvolvido, ainda há muito espaço para o Banco Central baixar os juros e até mesmo para o governo gastar mais e incentivar a economia.

Propostas

O economista disse que a visão do governo Bush de que a crise foi causada apenas pela construção exagerada de casas é muito simplista. Para ele, os bancos tomaram riscos demais. "Foram estruturas de incentivos ruins que levaram a esse pensamento de curto prazo. Havia problemas de governança corporativa. Havia bancos grandes demais. Havia incentivos para a tomada de risco porque os contribuintes pagariam a conta das eventuais perdas."

Ele também culpou as agências de classificação de risco por avaliarem bem os papéis hipotecários que os bancos estavam vendendo a investidores, sem que houvesse a regulamentação necessária para evitar esse tipo de postura das instituições financeiras. "As agências de risco acreditavam que era possível converter chumbo em ouro, transformaram hipotecas subprime em títulos de classificação A, permitindo que eles fossem vendidos aos fundos de pensão."

Stiglitz disse que o plano de socorro do sistema financeiro do presidente Obama é falho e obriga os contribuintes a pagar a conta pelos erros dos bancos. "Nossa dívida vai crescer devido a esse resgate financeiro. A crise será mais longa e profunda do que poderia ter sido, com consequências globais."

Mas o que é preciso fazer agora? "Precisamos de uma segunda rodada de estímulo",afirmou. "Mas há um consenso de que mesmo um grande estímulo não vai cuidar do problema. Quando acabar a recessão entraremos num período de desconforto, e não de forte crescimento."

Ele também propõe outras medidas: 1) criar políticas para evitar a existência de bancos grandes demais para quebrar no futuro; 2) aumentar a regulamentação do sistema financeiro; 3) usar os DES (direitos especiais de saque, a moeda do FMI) como moeda global; 4) implementar uma rede de proteção financeira para os países emergentes por meio do acúmulo de reservas globais; 5) aumentar o poder dos países emergentes no sistema financeiro global com a reforma do G20; e 6) estabelecer uma política monetária focada na estabilidade financeira.

Por último, ele defende que o governo tenha maior papel na economia. "As instituições que criamos na primeira metade do século 20 não estão preparadas para o século 21. Precisamos de uma nova estrutura para o sistema financeiro após a crise. Temos que achar um equilíbrio entre o mercado e o governo. As sociedades no mundo todo estão repensando isso, reconhecendo que uma economia mais próspera e justa exige esse equilíbrio com o governo."
 

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