Usuário de redes sociais: dados alternativos podem fornecer detalhes que os oficiais simplesmente não conseguem (Jaap Arriens/NurPhoto/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 26 de março de 2019 às 05h59.
Última atualização em 26 de março de 2019 às 05h59.
Apurv Jain usou alguns dados não convencionais para prever o rumo da taxa de emprego dos EUA: 1,2 bilhão de tuítes e 830 milhões de buscas na internet.
Como pesquisador da Microsoft em 2014, ele se inspirou em um comentário da ex-presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, de que as condições do mercado de trabalho poderiam estar piores do que as estatísticas oficiais indicavam. Então ele começou a buscar fontes não oficiais.
Ele analisou os tuítes de 230.000 usuários do Twitter que perderam ou conseguiram trabalho para entender o sentimento por trás dos números. Ele também descobriu que vasculhar seis anos de pesquisas na internet lhe permitiu prever alterações em um dos indicadores mais importantes do mundo: o relatório mensal do Departamento de Trabalho dos EUA sobre dados do mercado de trabalho.
Tudo faz parte de um mundo que cresce rapidamente: o dos dados alternativos, que "conseguem fornecer detalhes sobre a narrativa econômica de nosso país que os dados existentes do governo simplesmente não conseguem", disse Jain, 41, que agora é pesquisador visitante na Faculdade de Administração de Harvard. Ele apresentou suas descobertas na semana passada em uma conferência em Nova York sobre inteligência artificial e ciência de dados no trading.
Há anos os grandes bancos, fundos de hedge e outros agentes financeiros têm corrido para coletar e analisar todos os tipos de dados estatísticos a fim de obter vantagem nos mercados. Agora a concorrência está aumentando: os gastos no campo excederão US$ 7 bilhões no próximo ano, em comparação com US$ 4,3 bilhões em 2017, segundo estimativas da consultora do setor financeiro Opimas.
Os provedores também estão se proliferando e já somam mais de 400, de acordo com o grupo do setor AlternativeData.org. Um dos participantes do evento em Nova York foi Thasos Group, que vende análises de localização de telefones celulares para fundos de hedge que monitoram a saúde de redes de varejo e shoppings.
"Os shoppings acabaram se tornando um bom indicador para as vendas no varejo", disse o fundador Greg Skibiski, que observou que a informação previu a queda inesperada de dezembro, para o valor mais baixo em nove anos, e a recuperação de janeiro.
Fidelity Investments, Point72 Asset Management e Neuberger Berman estão entre as gestoras de recursos que compram dados alternativos e empregam cientistas de dados e quantitativos com o intuito de obter vantagem na previsão de movimentos do mercado.
Longe de Wall Street, as autoridades em Washington tentam acompanhar o ritmo. Historicamente, as agências governamentais dependeram de pesquisas com empresas e famílias para elaborar indicadores importantes. Mas algumas "não gostam de preencher pesquisas", disse Jain. "Então, simplesmente não respondem."
Outras fontes podem complementar os relatórios oficiais, que continuam sendo a base da medição econômica, embora as novas informações precisem ser cuidadosamente verificadas para garantir a continuidade.
"Os métodos tradicionais para coletar dados de empresas e famílias enfrentam desafios crescentes", segundo um relatório de coautoria do vice-diretor do Departamento de Censo dos EUA, Ron Jarmin, apresentado em uma reunião do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica. "Alguns desses desafios são a queda das taxas de resposta para pesquisas, os custos crescentes dos modos tradicionais de coleta de dados e a dificuldade de acompanhar as rápidas mudanças na economia. A digitalização de praticamente todas as transações do mercado oferece o potencial de reelaborar os principais indicadores econômicos nacionais."