Trabalhador polindo tubos de aço (Stringer/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de janeiro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 12 de janeiro de 2019 às 08h00.
O presidente dos EUA, Donald Trump, se vangloriou de ter feito uma multidão de trabalhadores de siderúrgicas americanas derramar lágrimas de alegria, agradecidos pelas medidas que ele tomou para garantir seus empregos.
No Brasil, o “Trump dos Trópicos”, como o presidente Jair Bolsonaro às vezes é chamado, está provocando a reação oposta nos siderúrgicos sindicalizados, o que pode desestabilizar um setor que começa a se recuperar lentamente de uma recessão que fechou quase 80 operações e provocou a perda de 47.000 empregos no fim de 2016.
Bolsonaro prometeu ampliar os investimentos em infraestrutura, recebendo elogios de executivos das siderúrgicas Usiminas e Gerdau, entre outras.
Mas os líderes sindicais dizem temer que o novo presidente, um admirador de períodos passados de governo militar, reduza ainda mais os direitos dos trabalhadores, já enfraquecidos pelas leis trabalhistas aprovadas no governo anterior.
“Bolsonaro já sinalizou que vai acabar com a organização dos trabalhadores, com o ativismo”, disse Sérgio César de Oliveira, líder sindical no estado de São Paulo com 30 anos no setor. “É o aparato do estado contra os trabalhadores.”
O discurso de Bolsonaro sugere que ele tentará abolir a Justiça do Trabalho no país e minar proteções sindicais, afirmam Oliveira e outros líderes sindicais. O Planalto não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário feitos por e-mail e telefone.
As preocupações dos sindicatos surgem em um momento em que as maiores siderúrgicas do país registram pequenas recuperações em termos de receita e preço das ações.
Ao mesmo tempo, a produção de automóveis, que cresceu 7 por cento no ano passado, ajudou nas vendas de aços planos e especiais.
Mas o setor não terá uma recuperação significativa enquanto os projetos de construção públicos e privados paralisados não avançarem, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil (IAB), o principal grupo de lobby do setor. Mais de 3.000 projetos de construção foram interrompidos nos últimos anos, disse.
Depois de se reunir no fim do ano passado com Paulo Guedes, ministro encarregado de impulsionar a agenda econômica de Bolsonaro, Lopes disse estar confiante de que o novo governo possa fazer os projetos fluírem e aprovar as reformas tributárias necessárias para tornar o setor mais competitivo.
O setor tem “uma carga tributária monumental, como se você tivesse fazendo uma maratona com uma bola de chumbo no teu pé”, disse Lopes. A organização prevê que a demanda doméstica por aço crescerá 6 por cento em 2019.
Os líderes dos trabalhadores, no entanto, continuam cautelosos em relação ao futuro, vendo a vitória de Bolsonaro como um repúdio aos 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores (PT).
Airton dos Santos, economista que atua como conselheiro de sindicatos siderúrgicos há 22 anos, disse que é natural que os sindicatos temam as ideologias pró-negócios defendidas pelo governo Bolsonaro. “Segundo o discurso do novo governo, tudo o que foi feito no passado estava errado”, disse.
O presidente aplaudiu a recente reforma trabalhista, que limita a capacidade dos trabalhadores de processar seus empregadores e acaba com a dedução obrigatória na folha de pagamento para ajudar a financiar as atividades sindicais.
E a nomeação de oito militares em cargos ministeriais não é vista como um sinal positivo pelos líderes sindicais que conheceram o regime militar das décadas de 1960 e 1970 e do início dos anos 1980.
Embora tenha criticado os líderes sindicais antes de tomar posse, dizendo que eles se aproveitavam do sistema, Bolsonaro não disse que tentaria eliminar o direito constitucional de greve.
Durante a ditadura, autoridades do governo vigiavam e perseguiam os trabalhadores considerados subversivos. Posteriormente, as greves de siderúrgicos e metalúrgicos desempenharam um papel fundamental no enfraquecimento do regime, lideradas em parte pelo ex-metalúrgico e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Geraldo Majela Duarte, outro veterano há 29 anos no setor que lidera um sindicato no estado de Minas Gerais, disse acreditar que os sindicatos precisarão ser agressivos para combater as mudanças daqui para a frente, mas disse não saber se seus companheiros estão prontos para a batalha.
“Nesses últimos anos parece que a grande maioria esqueceu um pouco de como fazer a luta," disse.