Economia

Sessão anual do Parlamento chinês foca no risco financeiro

A sessão do Congresso Nacional do Povo (CNP) confere, durante 10 dias, uma aparência de regime parlamentar ao sistema comunista do país

Xi Jinping: o evento reúne cerca de 3.000 delegados no Palácio do Povo, no centro de Pequim (Jason Lee/Reuters)

Xi Jinping: o evento reúne cerca de 3.000 delegados no Palácio do Povo, no centro de Pequim (Jason Lee/Reuters)

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AFP

Publicado em 3 de março de 2017 às 11h34.

Reduzir a dívida sem frear o crescimento é o desafio do regime comunista e tema central, a partir deste domingo, da sessão anual do Parlamento chinês, no momento em que o presidente Xi Jinping calibra seus poderes.

A sessão do Congresso Nacional do Povo (CNP) confere, durante 10 dias, ao sistema comunista a aparência de um regime parlamentar, mas não tolera a expressão pública de oposição.

Reúne cerca de 3.000 delegados no Palácio do Povo, na Praça Tiananmen, do centro de Pequim.

É realizado alguns meses antes do Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que acontece a cada cinco anos, e no qual vários dos sete líderes supremos do país (com exceção de Xi Jinping) vão se aposentar.

A sessão parlamentar vai medir as intenções de Xi, no poder desde 2012. "Este é um ano crucial para a China", aponta o especialista Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong.

O presidente Xi acumula mais poder do que todos os seus antecessores desde Deng Xiaoping, o arquiteto das reformas e abertura econômica no final dos anos 1970. Ele lançou uma campanha de combate à corrupção que expurgou centenas de milhares de autoridades.

Alguns observadores afirmam que esta campanha foi dirigida principalmente aos opositores da influência crescente de Xi, que está colocando os seus partidários em posições-chave.

Na ausência de eleições democráticas, o PCC está enraizado na crescente prosperidade do país, embora o crescimento do PIB caiu no ano passado para 6,7%, seu nível mais baixo em um quarto de século.

O primeiro-ministro Li Keqiang irá revelar no domingo, em seu discurso de abertura, a previsão do governo para o crescimento em 2017. Os analistas prevêem um intervalo entre 6,5% e 7%.

Advertência

O governo apoiou a economia nos últimos anos com o financiamento de infraestruturas e taxas de juro baixas, favorecendo a sobrevivência das empresas públicas, às vezes moribundas.

Esta política criou uma bolha especulativa em commodities e, especialmente, no setor imobiliário, com um aumento exponencial do preço por metro quadrado em algumas cidades

A explosão da bolha teria consequências catastróficas para a segunda economia mundial.

"A sessão deve confirmar que o governo vai afastar-se do apoio a curto prazo ao crescimento para se dedicar ao controle dos riscos financeiros", preveem os especialistas do escritório Capital Economics.

Um novo abrandamento do crescimento poderia atiçar a tensão social, acentuando a fuga de capitais para o exterior e influenciar o valor do yuan, que já atingiu mínimos em oito anos.

Não se espera que o regime mostre sinais de fraqueza antes do congresso do partido e ante o desafio representado pelo novo presidente americano Donald Trump.

Trump ameaçou durante a sua campanha eleitoral impor tarifas sobre as importações chinesas e se aproximar de Taiwan, que Pequim considera uma província.

Desde sua eleição, no entanto, a tensão parece ter diminuído, principalmente após uma conversa por telefone no mês passado entre os dois líderes.

Mas o presidente americano anunciou um aumento de quase 10% nosgastos militares. Um desafio para a China, que tem o segundo orçamento para a defesa mais elevado a nível mundial, atrás dos Estados Unidos. O orçamento de 2017 será apresentado durante a sessão do CNP.

Pequim poderiam aproveitar a reunião parlamentar para "fazer vibrar a veianacionalista", prevê Willy Lam.

O objetivo, segundo ele, é "advertir Washington para que não toque no tema de Taiwan e do Mar da China Meridional", cuja soberania é disputada pela China e outros países da região.

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