ROYALE VILLE - A Rare Treat Of Elegance [Um Raro Brinde de Elegância] (Arthur Crestani/Divulgação)
João Pedro Caleiro
Publicado em 17 de abril de 2018 às 06h00.
Última atualização em 17 de abril de 2018 às 06h00.
São Paulo - A Índia é hoje a grande economia que mais cresce no planeta. No processo, milhões de pessoas deixam a pobreza e cidades são transformadas radicalmente do dia para a noite.
Mas isso muitas vezes exacerba desigualdades. Os 10% indianos mais ricos acumulam 55% da renda nacional, exatamente o mesmo nível do Brasil, segundo o último World Inequality Report.
Mostrar estes contrastes é a ideia da série "Sonhos Ruins de Cidade", de Arthur Crestani, um francês de 27 anos que estudou ciência política e planejamento urbano antes de se graduar em fotografia.
"A realidade se perde por trás da fachada brilhante de cidades 'globais' com a promessa de amenidades de 'padrão mundial' (...) Referências a Singapura, Dubai e países ocidentais estão em todo lugar. Elas ocultam as fraquezas gritantes, que infraestrutura e serviços públicos são inexistentes. No entanto apesar de suas limitações, esses projetos tem apelo para uma aspirante classe média urbana", diz ele em e-mail para o site EXAME.
A história de Crestani com a Índia começou em 2010, quando ele foi fazer um intercâmbio de um ano em Nova Delhi - cidade que viraria sua "segunda casa", entre visitas de trabalho e lazer, nos anos seguintes.
O processo da série urbanística começou com a coleta de material em várias feiras imobiliárias de Gurgaon, uma cidade-satélite a 20 quilômetros de Delhi que cresce rapidamente.
O fotógrafo digitalizou os catálogos e imprimiu reproduções em grandes cartazes de PVC que então instalou em locações chamativas.
Ele disse que o maior desafio foi prosaico - conseguir estabilizar os pôsteres diante de ventos - já que não faltou colaboração dos indianos.
"O novo tecido urbano de ilhas isoladas de prosperidade exclui a maior parte da população: são os imigrantes urbanos e aldeões retirados, que seguem vitais para a cidade. São as pessoas que você encontra nas ruas, em construções e em terrenos baldios. Eles também são parte da realidade que o discurso sobre a modernidade tende a apagar", escreve Crestani.
O objetivo declarado do fotógrafo é gerar em quem vê a série o mesmo senso de "empatia inquieta" que ele sentiu em relação aos seus fotografados. Veja as fotos com seus títulos originais e em tradução livre: