Economia

Sem acordo, Estados Unidos ameaçam a China com mais tarifas

Analistas se mostram céticos sobre a possibilidade de os EUA conseguirem forçar uma mudança estrutural na maneira de comércio e produção chinesas

EUA-China: parte do eleitorado de Trump foi afetado pelas novas tarifas às importações chinesas (Damir Sagolj/Reuters)

EUA-China: parte do eleitorado de Trump foi afetado pelas novas tarifas às importações chinesas (Damir Sagolj/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de maio de 2019 às 09h38.

Washington - Os Estados Unidos e a China encerraram o dia de ontem sem acordo para as negociações comerciais que vinham travando, com a decisão do presidente Donald Trump de elevar, de 10% para 25%, as tarifas para US$ 200 bilhões em importações chinesas. A elevação das tarifas foi anunciada pelo americano na segunda-feira e, desde então, o presidente deu declarações em sentidos opostos - que ora animaram e ora desanimaram os investidores. Ontem, Trump disse estar preparado para uma longa batalha.

Desde o meio-dia de ontem (horário de Brasília), o aumento de tarifas passou a vigorar e o presidente americano voltou a subir o tom. Pelo Twitter, Trump defendeu sua estratégia belicosa de negociação com os chineses e mencionou um processo para imposição de "tarifas adicionais" de 25% sobre os US$ 325 bilhões restantes de produtos chineses.

"As tarifas tornarão nosso país muito forte, não mais fraco. Basta sentar e assistir!", escreveu o presidente americano. Há uma semana, antes de Trump anunciar a elevação de tarifas, chineses e americanos pareciam estar caminhando para uma solução do conflito.

A China chegou a ameaçar retaliar Washington nesta semana, sem detalhar quais medidas seriam aplicadas a empresas e importações dos Estados Unidos. Mas o dia acabou em clima mais ameno, apesar de ainda sem sinal de solução. A elevação de tarifas não afeta embarques que tenham partido da China antes do prazo. Na prática, isso dá aos dois países mais algumas semanas para tentar fechar um acordo comercial sem que o custo da elevação de tarifas seja imediatamente repassado aos produtos.

Os negociadores chineses viajaram para Washington para conversas com os americanos na quinta e sexta-feira, depois da ameaça de Trump. Ontem, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, afirmou que as conversas com os chineses nos últimos dias foram construtivas. O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, afirmou que as negociações correram "razoavelmente bem".

"Ao longo dos últimos dois dias, Estados Unidos e China mantiveram conversas francas e construtivas sobre o status das relações comerciais entre os dois países. A relação entre o presidente Xi (Jinping) e eu mesmo é muito forte, e as conversas para o futuro continuarão. Enquanto isso, os Estados Unidos impuseram tarifas à China, que podem ou não ser removidas dependendo do que acontecer com relação a futuras negociações!", concluiu Trump, no Twitter.

Queixas

Os Estados Unidos argumentam que a China está envolvida em inúmeras práticas injustas relacionadas a tecnologia e propriedade intelectual nos EUA e têm travado uma guerra comercial com o país asiático para forçar mudanças estruturais. A queda de braço, que incluiu subsequentes rodadas de tarifas americanas sobre os produtos chineses, teve uma trégua no fim do ano passado, quando Trump e Xi concordaram em negociar.

De um lado, analistas se mantêm céticos sobre a possibilidade de os EUA conseguirem forçar alguma mudança estrutural e legislativa na maneira de comércio e produção chinesas. De outro, o sucesso da guerra travada com a China pode ser crucial para a sobrevivência política de Trump. Isso porque parte da base eleitoral do americano sofreu impacto pela imposição de tarifas às importações chinesas, como os produtores de soja. Mas o presidente Trump não quer chegar a um acordo que mostre fragilidade do lado americano.

Até o momento, não há novas rodadas de negociação entre os dois países agendadas. O presidente dos Estados Unidos afirmou ontem que as conversas continuam, mas sem pressa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ChinaEstados Unidos (EUA)Guerras comerciaisTarifas

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo