Economia

Selic precisa cair para perto de 2%, diz ex-diretor do Banco Central

Para Luiz Fernando Figueiredo, presidente da Mauá Capital, recuo da economia exige um corte mais agressivo da Selic

Para Figueiredo, barulho político e o receio com a política fiscal impactam mais o câmbio do que a taxa de juros (foto/Divulgação)

Para Figueiredo, barulho político e o receio com a política fiscal impactam mais o câmbio do que a taxa de juros (foto/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de maio de 2020 às 08h13.

Ex-diretor de política monetária do Banco Central entre os anos de 1999 e 2003 e hoje presidente da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo diz que a instituição acelerou o passo com o corte de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros Selic. No entanto, para ele, há espaço para reduzir ainda mais. "Eu iria para próximo de 2% muito mais rapidamente. Mesmo sendo mais agressivo, o BC ainda está com uma postura mais cautelosa", afirma.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr, avalia esse novo corte da Selic?

Esse corte era mais do que esperado. Na verdade, hoje o mercado entende que precisamos de mais. Então, o que todos acreditam, e eu inclusive, é que virão novos cortes. Para dar uma ideia, a taxa de inflação no início do ano era projetada em 3,50%, 3,70%. Hoje, ela está muito mais para 1,5%. A nossa taxa de juros acabou ficando muito alta.

Qual é o espaço para novas quedas?

A taxa de juros deveria ir para perto de 2% neste ano. Na minha visão, o BC acelerou o passo acertadamente. E deixou a porta aberta para outro corte e, já na próxima, pode vir novo corte de 0,75 ponto porcentual, indo já para 2,25%.

A crise política influenciou a decisão?

Parece que não. A decisão do Copom já estava tomada antes dessa crise política, da saída do Sérgio Moro do governo. O BC se preocupa com a questão política só na dimensão em que isso tem impacto nas reformas fiscais que, no final, acabam tendo impacto na inflação lá na frente. É nessa direção que ele olha. Não é um fato ou outro que vá mudar a postura do Banco Central, mas um conjunto de coisas. De certa forma, essa crise política, que não chega a ser nova, já estava incorporada nas decisões.

Por que, na opinião do sr., o BC não foi ainda mais agressivo?

O Banco Central tem primado por ser cauteloso. Eu iria para próximo de 2% muito mais rapidamente, mas essa é um pouco a maneira segundo a qual o nosso Banco Central tem preferido atuar. Mesmo sendo mais agressivo, ele ainda está com uma postura mais cautelosa. E até difere de muitos bancos centrais pelo mundo, inclusive de países emergentes.

Essa queda acentuada deve aumentar a pressão sobre o dólar, que já se valorizou quase 42% frente ao real neste ano?

Essa é uma questão que todos os analistas têm levantado. Na prática, o câmbio tem ficado muito pressionado. Nossa moeda é, talvez, a pior do mundo em 2020. A nossa moeda foi por muitos anos dependente de uma taxa de juros mais alta. Hoje, essa dependência caiu brutalmente. O que tem afetado mais a nossa moeda tem sido esse próprio barulho político e o receio de que a política fiscal no futuro não seja responsável. Isso tem impactado no câmbio muito mais do que os juros mais baixos.

O BC tem conseguido responder com eficiência ao desafio que se apresenta desde a escalada da covid-19?

Com relação às questões de liquidez e de segurança do sistema financeiro, o BC está agindo muito bem, minha nota é muito alta com relação a isso. Não só pelo tamanho da expansão, que é da ordem de R$ 1,2 trilhões, mas porque o BC está fazendo de uma maneira inteligente para que não sejam desperdiçados recursos. Já na política monetária, mesmo com o passo de agora, eu acho que estamos muito lentos, dada a magnitude da queda de atividade e de demanda.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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