Selic: ficou em um dígito apenas em duas ocasiões desde a adoção do regime de metas para a inflação (thinkstock/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de julho de 2017 às 10h27.
São Paulo e Brasília - A promessa de condução responsável da política econômica e a meta de inflação menor nos próximos anos são os argumentos da equipe econômica para defender que a queda do juro básico para o patamar de um dígito na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom) será "diferente" da que foi vista nos governos Lula e Dilma. Na ocasião, após cair para um dígito, a Selic subiu logo em seguida.
A expectativa do mercado é que a Selic seja reajustada dos atuais 10,25% ao ano para 9,25%. A taxa ficou em um dígito em apenas duas ocasiões desde a adoção do regime de metas para a inflação, em 1999. Primeiro, no governo Lula, quando operou quase um ano abaixo de 10%, até junho de 2010. O segundo momento aconteceu por um ano e meio até o fim de 2013, quando o Brasil experimentou o menor juro recente: 7,25% no governo Dilma. Nos dois casos, a volta da inflação levou a uma correção de rota.
Agora, a equipe econômica argumenta que o quadro poderá ser diferente. Primeiro, porque o regime de metas de inflação foi ajustado com a adoção de referências mais rígidas. Até 2018, a meta será de 4,5%. Depois, passará a 4,25% em 2019.
Outro fator que dá respaldo ao juro baixo é a própria política econômica. Com a chegada de Michel Temer, alguns procedimentos do governo que influenciam a inflação foram alterados. A política de preços dos combustíveis, por exemplo, foi radicalmente trocada e os valores passaram a reagir rapidamente à oscilação do mercado. Isso diminui o risco de manobras, como a contenção de preços no governo Dilma.
"A situação atual é completamente diferente da última vez em que os juros ficaram em um dígito. No governo Dilma, o ciclo de expansão estava no limite, a hora era de baixar juros e se insistiu no sentido contrário. Agora o que se discute é que o Banco Central foi lento demais, poderíamos estar com juros na casa dos 7% ao ano. O excesso de prudência postergou a recuperação econômica", diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES.
Mônica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia, em Washington, concorda que o Banco Central perdeu janelas importantes logo que a nova equipe assumiu, para reduzir os juros. "Tendo em vista o tamanho da recessão, foram excessivamente conservadores, quando se olha a taxa de juros real, demorou demais para cair, o BC estava sendo mais conservador do que precisava."
"O País tem quase 14 milhões de desempregados, há enorme capacidade ociosa na indústria. Estamos quase em uma depressão e surpreende os juros ainda estarem nesse patamar", diz José Luiz Oreiro, da Universidade de Brasília (UnB).
Em Brasília, o juro de um dígito é recebido com especial comemoração diante da crise que ameaça Michel Temer. Mas o cada vez mais difícil andamento das reformas é tido como ameaça e o BC reconhece a incerteza como "fator de risco principal para a trajetória da inflação".
Uma estimativa do site MoneYou e da Infinity Asset Management aponta que, com os juros básicos em 9,25% ao ano, os juros reais no País ficariam em 3,71%, em 12 meses. Economistas ouvidos pela reportagem são mais pessimistas e preveem juros reais ainda acima de 4%.
A diferença só vai cair quando as reformas estruturais forem feitas, diz de Bolle. "Sem mexer em tributação e na questão fiscal, nada feito. O teto dos gastos não basta, teria de ter havido a reforma da Previdência.