Economia

Segunda fase de desinflação é mais difícil, com redução de núcleos, diz Campos Neto

Segundo ele, essa etapa é caracterizada pela necessidade de um esforço adicional para reduzir os núcleos de inflação

Campos Neto: É natural que, quando você chega a esse ponto, sociedade e classe política comecem a questionar qual é o nível de sacrifício que você quer fazer para atingir a meta (Pedro França/Agência Senado/Flickr)

Campos Neto: É natural que, quando você chega a esse ponto, sociedade e classe política comecem a questionar qual é o nível de sacrifício que você quer fazer para atingir a meta (Pedro França/Agência Senado/Flickr)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 5 de setembro de 2023 às 13h13.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 5, que o mundo está passando por uma "segunda fase" do seu processo de desinflação após a pandemia.

Essa etapa, explicou, é caracterizada pela necessidade de um esforço adicional para reduzir os núcleos de inflação, com uma taxa de sacrifício da economia também potencialmente maior.

"A gente tem esse last mile última milha, que está acontecendo em vários lugares do mundo e, no Brasil, também tem o last mile. Eu acho que é importante perseverar, porque, se não perseverar nesse momento, pode fazer com que o processo inflacionário volte", afirmou, em evento organizado pelo Julius Baer Group no período da manhã, em São Paulo.

Fique por dentro das últimas notícias no Telegram da Exame. Inscreva-se gratuitamente

Com a inflação mais baixa e a necessidade de um sacrifício adicional na economia para promover a convergência final à meta, Campos Neto considera que a sociedade começa a discutir se é ideal fazer esses sacrifícios para levar a inflação ao alvo.

"É natural que, quando você chega a esse ponto, sociedade e classe política comecem a questionar qual é o nível de sacrifício que você quer fazer para atingir a meta", afirmou Campos Neto.

Antes, o presidente do BC voltou a repetir que a pandemia ocasionou um forte aumento na demanda por bens, que ainda não retornou à tendência pré-pandemia.

Para Campos Neto, isso explica em parte a inflação persistente no mundo, já que a produção de bens consome mais energia. Ele também repetiu que a resposta de política fiscal e monetária à pandemia foi "muito intensa" no mundo todo.

Política fiscal dificulta processo

O presidente do Banco Central disse ainda que as autoridades monetárias do mundo estão fazendo os ajustes necessários para perseguir a última etapa do processo de desinflação, mas a política fiscal continua dificultando o processo. "A parte monetária fez o ajuste ou está fazendo, mas a parte fiscal, nem tanto", afirmou.

Para Campos Neto, o crescimento dos Estados Unidos, por exemplo, tem se mantido forte devido à política fiscal expansionista. Com a queda esperada para os gastos em 2024 e a o aumento de juros promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o presidente do BC afirma que pode haver uma desaceleração "contratada" no ano que vem.

Sobre os ajustes de juros no mundo, ele destacou que, ao contrário do Brasil, o mundo desenvolvido não havia testado seu sistema de metas antes da pandemia. Após a crise, mesmo os bancos centrais desenvolvidos passaram a preferir conduzir a política monetária como emergentes, elevando os juros mais para evitar perda de credibilidade, afirmou.

"O que a crise mostrou é que o mundo desenvolvido começou a se sentir como emergente, pensando que talvez seja melhor elevar um pouco mais os juros, porque, se tiver de parar e depois voltar, vai perder credibilidade", afirmou Campos Neto.

Percepção de desaceleração da China curiosamente não tem afetado commodities, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou que a percepção de desaceleração da economia chinesa não tem afetado os preços de commodities, que se mantêm elevados. Ele participou de evento organizado pelo Julius Baer Group na manhã desta terça-feira, 5, em São Paulo.

"Curiosamente, estamos tendo um decoupling descasamento da percepção de crescimento menor da China, sem afetar muito os preços de commodities", disse Campos Neto, destacando que os preços do minério de ferro, por exemplo, já voltaram a um nível próximo de US$ 115 a tonelada.

O banqueiro central argumentou, no entanto, que faz sentido o pouco impacto da expectativa de menor crescimento chinês sobre os preços de commodities agropecuárias, já que a maior parte da população do país asiático já ascendeu à classe média.

Sobre o crescimento chinês, Campos Neto afirmou que a questão é a magnitude da desaceleração. "O que as pessoas dizem é que, abaixo de 4%, seria um número em que, com o desemprego de jovens associados, as pessoas teriam aquele feel bad factor", comentou, chamando atenção para as preocupações com o mercado imobiliário chinês.

Segundo ele, as ações do governo chinês parecem dedicadas a evitar o colapso desse mercado.

Mais cedo, o presidente do BC afirmou que a atividade tem desacelerado na Europa e em alguns pontos da Ásia.

Acompanhe tudo sobre:Roberto Campos NetoBanco CentralInflaçãoMetas

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo