Economia

Secretário diz que extensão do auxílio precisa ser pensada "mês a mês"

Para Adolfo Sachsida, recuperação econômica vai surpreender, e queda de 4,7%, prevista pelo governo e mais otimista que previsão do mercado, é possível

Adolfo Sachsida: "Se nós já estamos saindo do pior, se eu garanto a extensão desse auxílio por três meses, por três meses tenho que gastar R$ 50 bi independentemente do que aconteceu com a economia" (Jefferson Rudy/Agência Senado)

Adolfo Sachsida: "Se nós já estamos saindo do pior, se eu garanto a extensão desse auxílio por três meses, por três meses tenho que gastar R$ 50 bi independentemente do que aconteceu com a economia" (Jefferson Rudy/Agência Senado)

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Agência O Globo

Publicado em 22 de junho de 2020 às 16h28.

Última atualização em 22 de junho de 2020 às 17h09.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, defendeu nesta segunda-feira que a prorrogação do auxílio emergencial seja avaliada "mês a mês", seguida de uma unificação de programas sociais. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a defender a prorrogação do benefício no valor atual de 600 reais por até três meses.

Nesta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro descartou a manutenção do auxílio emergencial no valor de 600 reais por mais de três meses.

Em live com investidores, Sachsida afirmou ainda que espera que a recessão neste ano seja menos intensa que o inicialmente previsto, e disse que a previsão de retração de 4,7%, projetada pelo governo e mais otimista que as projeções do mercado, já é possível.

"Eu vi algumas pessoas defendendo estender o auxílio emergencial por três meses. Não, pera aí, vamos mês a mês. Nós já estamos saindo do pior. Se nós já estamos saindo do pior, se eu garanto a extensão desse auxílio por três meses, por três meses tenho de gastar 50 bilhões de reais independentemente do que aconteceu com a economia. Acho que essa não é a melhor decisão", afirmou o secretário.

No início do mês, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, durante reunião do Conselho de Governo, a previsão de pagamento de mais duas parcelas do benefício, criado para mitigar os efeitos da crise do coronavírus sobre trabalhadores informais.

O programa foi concebido com a previsão de pagamento de três parcelas de 600 reais a trabalhadores de baixa renda. Diante da necessidade, o governo já programou o pagamento de mais duas parcelas com valores menores, de 300 reais.

"O presidente já lançou e comunicou isso: que, por dois meses, nós vamos estender o auxílio emergencial", disse Guedes, na ocasião.

Na declaração desta segunda, Sachsida sinalizou que o formato para essa prorrogação ainda não está definido:

"O ministro Paulo Guedes já anunciou e o próprio presidente da República (também anunciou), que nós teremos uma certa extensão desse programa. Está sendo decidido o valor ainda, e o número de parcelas."

De acordo com o secretário, a estratégia seria pagar mais uma parcela do benefício e, em seguida, partir para uma mudança estrutural, que envolveria a unificação de programas sociais em um novo plano chamado Renda Brasil

"Vamos olhando mês a mês. Esse mês está garantido, está sendo pago o auxílio emergencial aos informais. Mês que vem, a situação melhorou, vai ter mais um pagamento. Mas, acho eu, que o fundamental é nós retornarmos a um ajuste estrutural. Ou seja, vamos olhar os programas sociais que existem no Brasil e vamos fortalecer esses programas sociais", afirmou o secretário, que vê nessa reforma a agenda prioritária para o pós-pandemia.

Para Sachsida, os dados preliminares de maio e junho indicam que a recuperação depois do período mais grave da pandemia parece ser mais forte que o inicialmente projetado pelos técnicos da equipe econômica.

Segundo o secretário, informações sobre o consumo de combustíveis, por exemplo, indicam que a atividade se recuperou mais forte do que o esperado em maio, após a recessão mais grave registrada em abril.

"Aqui a gente tem de reconhecer quando a gente erra. O ministro Paulo Guedes sempre falou que o Brasil ia surpreender o mundo com o retorno. Acho que por isso ele é ministro e eu sou secretário. Eu até falei com ele: "Ministro, sei não, hein?". Mas olhando os dados que estou tendo acesso nos últimos dois meses, acho que o ministro estava certo e eu estava errado. Abril claramente foi o fundo do poço. Maio é melhor que abril e junho é melhor que maio", afirmou Sachsida.

Hoje, a previsão oficial do governo para o desempenho econômico neste ano é de retração de 4,7%. O número é mais otimista do que o de analistas do mercado, que esperam queda do PIB de 6,5%.

"Os dados estão vindo melhores que nós imaginávamos. São dados ruins. Agora, quando você olha a previsão de mercado, era pior ainda. Boa parte das pessoas que estão no mercado previu uma queda acima de 6,5%, todas elas estão tendo de rever, e estão revendo para baixo (retração menos intensa). Eu confesso que o nosso (queda de) 4,7% está ficando possível, e passo a passo nós vamos sair dessa", disse Sachsida.

O secretário defendeu que o governo trabalhe em programas de empregos. Ele não entrou em detalhes, mas o governo estuda formas de desonerar a folha de pagamentos para baratear o custo do trabalho. Uma reformulação da lei de falências também será necessária no pós-pandemia.

Sachsida prevê ainda que o Congresso retomará a agenda de reformas, começando pela reformulação dos programas sociais.

"Talvez eu queime minha língua aqui, mas vou fazer um anúncio para todos que estão nos ouvindo. Eu acho que, de julho deste ano a dezembro do ano que vem, vão ser os 18 meses que vão ficar conhecidos na história da economia brasileira como os 18 meses de reformas. Eu estou extremamente confiante que a nossa articulação política melhorou muito e nós vamos ter sucesso para implementar essas reformas", disse o secretário.

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