Mansueto Almeida: economista-chefe afirma que a equipe econômica perdeu a credibilidade (BTG Pactual/Divulgação)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 12h29.
A expectativa do mercado nos últimos meses aponta que, após PIB acima do esperado por dois anos, o Brasil deverá registrar um crescimento menor em 2025 e 2026, além de uma taxa de juros elevada, próxima de 15% ao ano no fim deste ano. O cenário, no entanto, pode mudar caso o governo federal "acelere ou aprofunde" a agenda de ajuste fiscal, segundo Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da Exame).
"Vamos precisar ficar atentos, pois teremos dois anos de crescimento menor do PIB. Mas pode melhorar um pouco se o governo conseguir dar sinais mais claros de que vai acelerar ou aprofundar o ajuste fiscal", disse o economista no BTG Pactual Summit 2025, nesta quarta-feira, 12.
Almeida afirmou que um ajuste fiscal poderia alterar a trajetória da inflação e contribuir para que o Banco Central antecipe a redução dos juros. No entanto, ressaltou que essa possibilidade "não está no cenário base de ninguém".
"A expectativa hoje é de crescimento entre 1,5% e 2%, uma taxa de juros perto de 15% e uma inflação de 5,6%. Com isso, teremos uma taxa de juros real acima de 9%, o que vai prejudicar o crédito e limitar o crescimento", afirmou.
Caso o cenário não se altere, a projeção do ex-secretário do Tesouro Nacional é que a inflação comece a desacelerar com os juros elevados, permitindo que o Banco Central inicie os cortes apenas no fim deste ano ou no início de 2026.
"Esse governo deve terminar com um juro na casa de 12%. Com inflação de 4%, isso significa um juro real de 8%", explicou.
No fim de 2024, o governo apresentou ao Congresso Nacional um pacote fiscal com a promessa de gerar uma economia de R$ 327 bilhões até 2030. A medida, porém, foi considerada insuficiente para conter a relação dívida/PIB no médio prazo.
O anúncio, acompanhado da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, também foi visto como um erro e gerou mau-humor no mercado. Parte dos projetos foi aprovada pelo Congresso no fim do ano passado, mas outros, como o pacote fiscal dos militares, ficaram para 2025.
Almeida disse que a divulgação foi negativa por dois motivos: o primeiro é o cenário contrário a aprovação de um aumento de imposto para os mais ricos no Congresso para compensar a isenção do IR, que pode custar até R$ 50 bilhões, e o outro é pelo perfil inflacionário da medida, que pode aquecer ainda mais a economia.
"Tivemos uma onda de pessimismo no Brasil no final do ano, que pode ter sido até exagerada. Mas foi uma saída de capital pela falta de confiança no que poderia acontecer", disse.
Apesar da perspectiva de crescimento menor nos próximos anos, o Brasil não enfrenta um cenário de recessão como o registrado em 2015 e 2016, segundo Mansueto Almeida.
"Em 2015 e 2016 foi uma crise profunda, que o Brasil não passa agora", afirmou.
O economista lembrou que, além do desequilíbrio macroeconômico e fiscal, o país enfrentava na época problemas setoriais graves, como o endividamento da Petrobras, a crise das distribuidoras de energia e a devolução em massa de imóveis financiados.
"Hoje, nada disso está acontecendo. O setor de petróleo está muito bem. A Petrobras é uma empresa forte e bate recordes de geração de caixa. A Eletrobras é uma companhia privada e o investimento privado em energia cresceu significativamente nos últimos anos. Os leilões de linhas de transmissão continuam competitivos", disse.
O economista também destacou o avanço das concessões federais e o crescimento dos investimentos em infraestrutura, impulsionados por marcos regulatórios bem estabelecidos. Para ele, o país é melhor hoje do que há 10 anos.
"O que estamos passando agora é um momento de incerteza, sim, e de inflação alta, sim, mas é bem diferente de 2015 e 2016", concluiu.