Sede do Federal Reserve em Atlanta: primeiro aumento de taxa de juros nos EUA desde 2006 é esperado para o mês que vem pela maioria dos investidores (thinkstock)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2015 às 20h24.
Para as commodities é como se o século 21 nunca tivesse acontecido.
Na última vez em que o índice Bloomberg Commodity de retornos dos investidores esteve tão baixo, o produto mais vendido da Apple era um computador desktop e você podia comprá- lo com francos franceses e marcos alemães.
O indicador que monitora o desempenho de 22 recursos naturais perdeu dois terços do valor em relação ao seu pico, nível mais baixo desde 1999.
Isso mostra que ele está de volta à estaca zero em relação ao chamado superciclo das commodities, nome dado ao apetite das fabricantes chinesas por carvão, petróleo e metais que gerou um mercado altista por cerca de uma década, até 2011.
“Na China, havia 1,3 bilhão de pessoas se industrializando -- nunca antes se havia visto algo nessa escala”, disse Andrew Lapping, vice-diretor de investimento da Allan Gray, que gerencia US$ 33 bilhões em ativos na Cidade do Cabo. “Mas simplesmente não tem como as coisas continuarem assim indefinidamente. Mal dá pra consumir tudo isso”.
Se a desaceleração do crescimento chinês, que agora caminha para o ritmo mais fraco em 25 anos, colocou o primeiro prego no caixão do superciclo, o Federal Reserve está prestes a martelar os últimos.
O primeiro aumento de taxa de juros nos EUA desde 2006 é esperado para o mês que vem pela maioria dos investidores, ajudando a empurrar o dólar cerca de 9 por cento para cima em relação a uma cesta de 10 principais moedas neste ano.
Isso apenas aumenta os problemas das commodities, a maioria delas precificadas em dólares, reduzindo o poder de compra dos consumidores internacionais de matéria-prima e tornando outros ativos que geram yields, como bonds e ações, mais atraentes para os investidores.
O índice Bloomberg Commodity leva em consideração os custos de rolagem e os ganhos com investimentos em mercados futuros para refletir os retornos verdadeiros.
Como comparação, um índice à vista que monitora os preços das matérias-primas atingiu a mínima dos últimos seis anos na sexta-feira e um indicador das ações industriais chegou ao nível mais baixo desde 2008 em 29 de setembro. As empresas que mais mergulharam no índice de mineração, que apresenta queda de 31 por cento neste ano, foram as produtoras de cobre First Quantum Minerals, Glencore e Freeport-McMoran.
Com a demanda recorde durante os anos 2000, produtoras de commodities como Total, Rio Tinto e Anglo American investiram bilhões em projetos de capital de longo prazo que deixaram o mundo inundado de petróleo, gás natural, minério de ferro e cobre justamente no momento em que o crescimento chinês está diminuindo.
“Sem dúvida cada empresa de commodity industrial alocou muitíssimo capital ao longo dos últimos 10 anos”, disse Lapping.
Afogando-se em petróleo
O petróleo está entre as commodities com maior oferta excessiva. Mesmo após os preços caírem 60 por cento em relação a junho de 2014, os estoques atingiram o nível mais alto da história, de quase 3 bilhões de barris, segundo a Agência Internacional de Energia.
Isso se deve à produção recorde nos EUA e a uma decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo de continuar bombeando acima de sua meta de 30 milhões de barris por dia para manter participação de mercado e forçar as produtoras com custos mais elevados a saírem do mercado.
Um movimento do Fed sobre os juros e a consequente valorização do dólar dificultarão a eliminação de excessos na oferta de matérias-primas. Os custos da mineração e da exploração de petróleo, muitas vezes pagos em outras moedas, encolherão em relação aos dólares recebidos com a venda de petróleo e metais nos mercados globais à medida que a taxa de câmbio dos EUA se apreciar.
O rublo russo caiu mais de 30 por cento em relação ao dólar no último ano, ajudando a manter a rentabilidade das produtoras de aço e níquel do país e permitindo que elas mantivessem os níveis de produção.
“O problema com as moedas menos valorizadas é que as operações que eram deficitárias há um ano de repente se tornaram rentáveis numa base monetária”, disse Charl Malan, que ajuda a gerenciar US$ 31 bilhões na Van Eck Global em Nova York. “Por que encerrá-las?”.
--Com a colaboração de Angelina Rascouet e Yuliya Fedorinova.