Coronavirus: pandemia deve fazer ritmo de toda a economia global diminuir (Carol Coelho/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 17 de março de 2020 às 14h17.
Última atualização em 17 de março de 2020 às 17h59.
As revisões de cenário feitas pelas instituições em meio à crise gerada pela pandemia de coronavíorus não param no Brasil. "E vão ser cada vez mais frequentes daqui para frente em função das incertezas externas e das domésticas, tanto políticas como econômicas", diz Maurício Oreng, economista do Santander, em audioconferência.
O banco anunciou nesta terça-feira, 17, uma série de revisões de expectativa, entre elas a do produto interno bruto (PIB) do ano, de 2% para 1%. "O choque global via demanda deve subtrair 0,6 ponto percentual do crescimento de 2020. Já na parte doméstica, paralisações de atividade devem descontar mais 0,4", diz Oreng.
O economista conta que a intenção inicial era publicar uma revisão na semana passada, quando os cálculos mostravam um crescimento de 1,5% para o país no ano, "mas o fluxo de notícias começou a evoluir muito rápido e precisamos revisar novamente na sequência".
O cálculo do Santander para o PIB leva em consideração duas retrações seguidas na atividade, no primeiro (-0,2%) e no segundo (0,4%) trimestre. A atividade voltaria a crescer no terceiro trimestre (0,3%) e terminaria os últimos três meses do ano com alta de 0,5% no período. A projeção para 2021 também mudou de uma alta no PIB de 2,5% para 2%.
"As hipóteses mais importantes que nos levam aos resultados: primeiro, cenário onde o surto tem impacto relevante, mas vai se dissipando ao longo do tempo, como aconteceu na China e como deve acontecer na Europa, atingindo a normalidade aqui no quarto trimestre", diz Oreng.
Pelo fato de um choque importante ser esperado na economia, a instituição tem usado em seus cálculos cenários similares aos vividos durante a greve dos caminhoneiros, que, em 2018, praticamente paralisou a economia no segundo trimestre. "Vai afetar empresas, setores, turismo", diz.
A Selic também foi alvo de revisões. O Santander avalia que o Brasil tem espaço para cortar juros, mas bem menos do que os Estados Unidos, onde o Fed reduziu a banda para perto de zero em dois anúncios emergenciais feitos em menos de duas semanas. O movimento de frouxamento monetário tem sido seguido por outros países.
O próximo passo a ser dado nesse sentido pelo Banco Central será conhecido na tarde da quarta-feira 18. "Acreditamos numa reação moderada, com anúncio de corte de 0,50 ponto percentual. Não dá para ser na mesma magnitude que nos EUA, porque os fundamentos no Brasil não são os mesmos de países desenvolvidos, nem a situação fiscal é tão robusta", diz Oreng. Ou seja, sem uma ação eficiente do lado fiscal, a política monetária também perde força.
Na prática, isso significa que não adianta tanto liberar mais dinheiro para as pessoas tomarem emprestado se os próprios consumidores estão mais contidos e, no momento, literalmente confinados.
A instituição espera ainda para este ano mais um corte de 0,25 ponto no início de maio, de forma que a taxa básica termine 2020 em 3,5% ao ano. Para 2021, a previsão é de 4%.
Para o câmbio, o banco revisou sua expectativa de 4,10 reais para 4,30 no fim de 2020. Para o ano que vem, manteve em 4 reais.
Sobre o pacote emergencial anunciado na segunda-feira pelo governo, como parte dos esforços para conter o impacto da pandemia no Brasil, Oreng diz que foi um estímulo "bastante comedido que reflete a situação fiscal restrita do país".
Em função do engessamento orçamentário da União, a maior parte dos 147 bilhões anunciados ontem pela equipe econômica é formada por adiantamentos de reduções fiscais. "Nessa magnitude, estimamos um efeito de 5 bilhões de reais, no máximo, no resultado primário", diz.
A expectativa do banco para o déficit primário do ano é de 140 bilhões de reais ante os 105 bilhões considerados anteriormente. Para 2021, a previsão vai para 75 bilhões.
No caso de a União precisar lançar mão de mais estímulos fiscais, a flexibilização da meta para o déficit primário do ano já é considerada pelo governo.
"Se o processo for feito de maneira moderada, focado no combate à doença, pode ser positivo, desde que seja mantido o teto de gastos", diz o economista.
Maurício Oreng lembra que os cenários acima consideram a aprovação da PEC emergencial, que traz gatilhos para conter o crescimento de despesas correntes na máquina pública.
A pauta, que já tinha um período curto para tramitar no Congresso, porém, teve uma audiência cancelada nesta terça por causa do regime de isolamento dos parlamentares, e não tem data para ser analisada.