Economia

Salvar vidas é "pré-requisito" para salvar empregos, dizem OMS e FMI

A economia mundial foi atingida pelo vírus, já que mais da metade da população do planeta vive sob alguma forma de confinamento para retardar a pandemia

São Paulo: cidade está vazia por causa do isolamento social determinado na busca de conter a disseminação do coronavírus (Germano Lüders/Exame)

São Paulo: cidade está vazia por causa do isolamento social determinado na busca de conter a disseminação do coronavírus (Germano Lüders/Exame)

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AFP

Publicado em 3 de abril de 2020 às 20h20.

Última atualização em 3 de abril de 2020 às 20h20.

Os chefes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) insistiram nesta sexta-feira que salvar vidas é um "pré-requisito" para salvar os meios de subsistência, chamando a pandemia de "uma das horas mais sombrias da humanidade".

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disseram que a covid-19 precisa ser controlado primeiro antes de reativar a economia, apesar de admitirem que é difícil encontrar o equilíbrio certo.

A economia mundial foi atingida pelo vírus e paralisações associadas, já que mais da metade da população do planeta vive sob alguma forma de confinamento para retardar a propagação da pandemia de coronavírus.

A covid-19, que surgiu em dezembro na China, matou mais de 53.000 pessoas e mais de um milhão deu positivo para o vírus.

"Todos os países enfrentam a necessidade de conter a propagação do vírus à custa de paralisar sua sociedade e sua economia", escreveram Tedros e Georgieva em um artigo conjunto no jornal britânico The Daily Telegraph.

"Salvar vidas ou salvar meios de subsistência? Controlar o vírus é, em qualquer caso, um pré-requisito para salvar meios de subsistência".

Ambos explicaram que em muitos países, especialmente os mais pobres, os sistemas de saúde não estão "preparados para uma investida" de pacientes com coronavírus e instaram os estados a priorizarem os gastos com saúde.

"O curso da crise global da saúde e o destino da economia mundial estão intrinsecamente entrelaçados. Combater a pandemia é uma necessidade para a economia se recuperar", escreveram eles.

"Nosso apelo conjunto é que, em uma das horas mais sombrias da humanidade, os líderes devem dar um passo em direção às pessoas que vivem em mercados emergentes".

O artigo ressalta que 85 países estão buscando financiamento de emergência do FMI e que a instituição com sede em Washington está dobrando sua capacidade de resposta a emergências de US$ 50 bilhões para US $ 100 bilhões. A capacidade total de empréstimo do FMI é de US$ 1 trilhão.

"Estamos em recessão"

Georgieva afirmou que a recessão global decorrente do coronavírus já é uma realidade e que será "bem pior" que a crise financeira de 2008/2009, mas que escala e duração vão depender as ações tomadas pelos países. "Em toda minha vida, esse é o momento mais sombrio enfrentado pela humanidade", definiu, durante coletiva de imprensa conjunta com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, na Suíça.

Segundo Georgieva, o principal risco agora é de ondas de falências de empresas e demissões em massa, que podem atrasar a recuperação econômica. Neste contexto, ela revela que mais de 90 países já entraram com pedidos de ajuda financeira no Fundo, uma demanda nunca verificada antes.

"Temos US$ 1 trilhão disponíveis e estamos comprometidos a usar o que for necessário contra o vírus", disse, reafirmando que a instituição está pronta para proteger a economia global.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que mais de 1 milhão de casos da covid-19 já foram registrados em todo o mundo, com mais de 50 mil mortes.

"Mas sabemos que essa é muito mais que uma crise de saúde. Estamos cientes das profundas consequências da pandemia", ressaltou, acrescentando que este é um momento "sem precedentes, que demanda uma resposta sem precedentes".

Países emergentes

Georgieva reiterou a necessidade de ajudar países emergentes e em desenvolvimento, que, segundo ela, foram duramente atingidos pela crise.

"Os sistemas de saúde já são frágeis e agora foram fortemente atingidos economicamente. O FMI está dando alta prioridade a eles", destacou.

Georgieva ressaltou que a instituição estuda dobrar os recursos de financiamento emergencial, de US$ 50 bilhões para US$ 100 bilhões. "Também estamos procurando maneiras de fornecer liquidez adicional", disse a diretora, que exortou os bancos centrais de economias avançadas a ampliarem as linhas de swap para os emergentes.

A economista búlgara também salientou a urgência em fornecer assistência aos países mais pobres. Ela afirmou que Reino Unido, Japão, China e outros governos ricos já ajudaram o Fundo de Alívio de Contenção de Catástrofe, destinado aos membros mais vulneráveis.

"E, junto com o Banco Mundial, estamos advogando aos credores dos países mais pobres por alívio no pagamento de dívidas", revelou. O governo chinês é um dos que estão engajados nesses esforços, disse ela.

Em especial, Georgieva demonstrou preocupação com a África, que, embora tenha um número reduzido de casos de coronavírus, comparado ao resto mundo, também dispõe de menos recursos para lidar com a pandemia. "É importante fornecer apoio financeiro substancial à África", disse.

(Com AFP e Estadão Conteúdo)

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