Economia

Saiba como será a PEC da Transição, que vai tirar despesas do teto para projetos do governo Lula

Um dos objetivos é pagar Auxílio Brasil de R$ 600. Programa voltará a se chamar Bolsa Família

Essa PEC deve definir um valor fixo para ser gasto acima do teto (Rodrigo Paiva/Getty Images)

Essa PEC deve definir um valor fixo para ser gasto acima do teto (Rodrigo Paiva/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 4 de novembro de 2022 às 09h16.

Última atualização em 4 de novembro de 2022 às 09h18.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) anunciada pela equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), será oficializada na próxima terça-feira. O texto irá trazer uma exceção ao teto de gastos, a regra que trava as despesas federais. A norma, porém, é apenas um dos passos necessários para o novo governo ajustar o Orçamento de 2023 às suas necessidades.

É necessário uma PEC porque o teto está cravado na Constituição. Essa PEC deve definir um valor fixo para ser gasto acima do teto. O objetivo, nesse caso, é evitar um descontrole das contas e garantir credibilidade à nova equipe. Agentes do mercado dizem que uma PEC “sem limite” teria uma repercussão péssima.

LEIA TAMBÉM: Alckmin é nomeado para comandar transição de governo

Cálculos internos do PT dão conta da necessidade de pelo menos R$ 200 bilhões em gastos extras no próximo ano, como O GLOBO mostrou. Ou seja, gastos que não estão contemplados na proposta orçamentária enviada pelo governo Jair Bolsonaro.

Imposto de Renda: Como ficará no governo Lula?

Serão R$ 70 bilhões apenas para o Auxílio Brasil, que voltará a se chamar Bolsa Família. Esse valor é o necessário para manter o benefício de R$ 600 em 2023 e cumprir a promessa de Lula de destinar um bônus de R$ 150 para famílias com crianças de até 6 anos de idade.

O valor que está na PEC é um extra, porque o governo Bolsonaro já reservou R$ 100 bilhões para o programa social — recurso suficiente apenas para um benefício médio de R$ 405. Ou seja, uma parte será paga dentro do teto e, outra parte, fora.

A PEC também vai autorizar gastos extras para outras rubricas, que serão detalhadas no projeto de lei orçamentária. Portanto, é necessário aprovar a PEC e mudar o projeto do Orçamento.

Como se trata de uma PEC, tecnicamente, não é necessário fazer uma justificativa formal para furar o teto de gastos. Porém, ministros do TCU já sinalizaram ao novo governo que não haverá impecilhos à essa PEC -- um dos motivos é que o próprio governo Bolsonaro já fez duas grandes alterações no teto, para as quais não houve questionamentos formais.

Além disso, é possível justificar que, sem a PEC, haveria um cenário de paralisia da máquina pública.

Entre essas despesas, estão o salário mínimo, que terá um ganho real, ou seja, acima da inflação. Deverá ser um percentual entre 1,3% e 1,4% acima da inflação, de acordo com o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), um dos principais auxiliares de Lula, cotado para o Ministério da Fazenda, responsável pelas discussões orçamentárias da transição.

O salário mínimo impacta as contas porque é usado como referência para aposentadorias.

O governo eleito quer ainda recompor diversas despesas do Orçamento. São despesas que estão subestimadas ou praticamente zeradas. Nessa lista, estão recursos para creches, para a merenda escolar, para o combate ao desmatamento, proteção à mulher, vacinas, zerar a fila do SUS, Farmácia Popular. Uma lista que será detalhada na segunda-feira.

Também serão reservados recursos para obras de infraestrutura, como rodovias. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes está com um orçamento que não é suficiente nem para manter as atuais estradas.

Por isso, a conta do que se convencionou chamar de waiver (ou licença) é alta. Tudo o “extra” será pago fora do teto, enquanto despesas ordinárias, como aposentadorias e salários, dentro da norma fiscal.

No caso do Auxílio Brasil, o governo Lula ainda vai precisar aprovar um projeto de lei (ou editar uma medida provisória nos primeiros dias de gestão, em janeiro) para garantir o valor de R$ 600.

Os economistas e políticos do PT esperam que, após a PEC ser aprovada, comece uma discussão mais profunda sobre a regra que vai substituir o teto de gastos de forma permanente. Essa regra só deve funcionar a partir de 2024.

As decisões desta quinta foram tomadas em reunião com a presença do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), coordenador da equipe de transição do governo Lula, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Aloízio Mercadante, um dos chefes da transição.

Agora, será necessário articular com lideranças do Congresso a aprovação das medidas.

Uma PEC é uma Proposta de Emenda Constitucional. Ela é discutida e votada em dois turnos em cada uma das casas do Congresso Nacional. Para ser aprovada, precisa do voto de três quintos dos deputados (308) e de senadores (49).

LEIA TAMBÉM:

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraGeraldo AlckminLuiz Inácio Lula da SilvaPEC do Teto

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor