FED: pela primeira vez em 40 anos o ocupante do cargo em primeiro mandato não foi consultado a continuar (Carlos Barria/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de novembro de 2017 às 18h26.
Última atualização em 3 de novembro de 2017 às 06h45.
Após semanas de suspense o presidente americano, Donald Trump, finalmente escolheu o novo presidente do banco central do país, o Federal Reserve (Fed). O escolhido é o atual diretor do Fed Jerome H. Powell, que deve comandar a instituição a partir de 2018.
Ele substitui Janet Yellen, a primeira mulher a ocupar o cargo, nomeada por Barack Obama em 2013. A troca marca uma quebra de tradição: pela primeira vez em 40 anos o ocupante do cargo em primeiro mandato não foi consultado a continuar.
A jornada até o anúncio de Powell envolveu um processo aberto e pouco usual por parte do presidente americano e incluiu a discussão abertamente de seus pontos de vista sobre vários candidatos, um pedido aos senadores republicanos que votassem no candidato preferido e até um vídeo na rede social Instagram no qual Trump prometeu que “todos ficarão muito impressionados” com sua seleção.
Trump não fez nenhuma crítica a Yellen, ou à atuação do Fed, durante seu governo, mas atacou a política monetária de Obama e a própria Yellen durante a campanha no ano passado.
O presidente já a descreveu como uma “pessoa que defende taxas de juros baixas”. Yellen havia elevado a taxa pela primeira vez em quase uma década no final de 2015, e depois repetiu a dose quatro vezes.
Se tiver seu nome confirmado pelo Senado, Powell será o primeiro presidente do Fed em quatro décadas sem um diploma de economia. Republicano da velha guarda, o advogado trabalhou no Departamento de Tesouro americano e foi nomeado pelo ex-presidente Barack Obama para o banco central.
Antes disso, ele trabalhou nas empresas de investimento Dillon Read e Carlyle Group e tem um patrimônio de 75 milhões de reais.
Powell é diretor do Fed desde 2012, quando atraiu a atenção do governo Obama por seu trabalho nos bastidores para persuadir os republicanos do Congresso a aumentar o teto da dívida.
Ele apoiou a compra de 4 trilhões de dólares de títulos do Tesouro e de hipotecas do Fed para ajudar a economia americana a se recuperar da crise financeira de 2008 e sempre votou concordando com todas as decisões tomadas por Yellen, atual presidente do banco central americano, cujo mandato chega ao fim em fevereiro.
Isso significa que o Fed de Powell deve se parecer muito com o dos últimos anos, em que Yellen levou o banco com uma abordagem mais guiada pelo consenso e com decisões abertas, bastante diferente de outros presidentes das décadas de 1980 e 1990, que tinham opiniões consolidadas sobre política monetária, inflação e mudanças nas taxas de juros, como Alan Greenspan.
“Eu ficaria surpreso se Powell saísse do mandato do Fed como alguém conhecido por ter feito uma grande reforma no banco. É improvável que ele guie uma reforma no Red por meio de inovação na política monetária. Mas isso não significa que ele não será um bom presidente”, disse ao jornal The Wall Street Journal Charles Plosser, que foi presidente do Fed na Filadélfida até 2015 e trabalhou de perto com Powell.
Trump resistiu à pressão de uma parcela do partido Republicano que queria uma mudança mais drástica no Fed com a indicação. John B. Taylor, um economista da Universidade de Stanford, também estava na pequena lista do presidente, e teria levado o banco central em uma direção muito diferente.
O nome de Taylor foi apoiado por muitos conservadores, inclusive o vice-presidente Mike Pence. Ele tem sido um crítico em alta voz de algumas das medidas que Yellen e seu antecessor, Ben S. Bernanke, adotaram para conter a crise.
Substituir Yellen, que teve apenas um mandato à frente do banco, não tem precedentes na história recente. Todos os presidentes do Fed na história moderna que completaram o primeiro mandato, de quatro anos, foram reconduzidos para um segundo mandato. Os últimos três presidentes, inclusive, foram nomeados para mais quatro anos por um presidente do partido da oposição.
Durante a campanha eleitoral, Donald Trump criticou duramente Yellen por considerar que ela atuava “de forma política”. Entre as críticas estava a resistência de Yellen em aumentar os juros do país, o que, segundo Trump, inflava os dados econômicos e ajudava de forma direta o partido democrata, e sua candidata Hillary Clinton, na campanha contra ele.
Mas, nos últimos meses, o presidente americano mudou de opinião e manifestou respeito pelo “bom trabalho” realizado por Yellen à frente do banco central. Claro: os bons dados da economia que ele criticava agora jogam a seu favor.
É difícil dizer que a economista não teve sucesso em seu mandato. Sob sua administração, a taxa de desemprego fechou o mês de setembro em 4,2%, o patamar mais baixo em 16 anos, a economia americana está crescendo pelo nono ano seguido e o mercado financeiro bateu sucessivos recordes neste ano. Um dos principais desafios é a renitente inflação abaixo da taxa mágica de 2% para o país.
Isso fez com que, apesar de todos os bons indicadores, nesta quarta-feira o Fed decidisse as taxas de juros do país no intervalo de 1 a 1,25 ponto. Mas o banco já indicou que um aumento em dezembro está no radar. Taxas de juros mais altas nos EUA, como se sabe, mexem com todo o jogo financeiro global, levando para a economia mais segura do mundo investimentos que poderiam vir, por exemplo, para o Brasil.