Parque em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul (Ricardo Stricher/Arquivo PMPA)
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de maio de 2015 às 15h56.
São Paulo - "Até executivos ocidentais bons em geografia teriam dificuldade de achar Surat, Foshan ou Porto Alegre em um mapa. Mas na próxima década, cada uma dessas cidades deve contribuir mais para o crescimento econômico global do que Madrid, Milão ou Zurique".
A provocação é de Richard Dobbs, James Manyika e Jonathan Woetzel, trio de diretores do McKinsey Global Institute, braço econômico e de pesquisa da consultoria McKinsey, uma das maiores do mundo.
Eles publicaram um artigo na semana passado no Financial Times e estão nas livrarias com o livro "No Ordinary Disruption" ("Rompimento Incomum", em tradução livre), sobre 4 forças globais que estão quebrando paradigmas econômicos.
Uma delas é a caminhada do centro de gravidade da economia global dos mercados avançados em direção aos emergentes. Outra força é o movimento dentro desses emergentes, das grandes cidades em direção às médias.
Isso acontece porque o mundo vive o maior processo de migração da história humana, e ele é do campo para a cidade. A população urbana global cresce a uma taxa de 65 milhões de pessoas por ano (7 Chicagos, ou todo o Reino Unido).
Esse movimento não ocorre por acaso. As pessoas sabem que é nas cidades que está o dinheiro, e sua concentração nelas aumenta produtividade, trocas, conhecimento e inovação, em um processo de escala que se retroalimenta.
De forma geral, cada 20% de aumento na taxa de urbanização de um país dobra sua renda per capita. O Brasil viveu o grosso desse processo entre as décadas de 50 e 90, mas China e Índia só começaram a tirar o atraso desde então.
E com isso, conseguiram reduzir dramaticamente a pobreza de suas populações - que combinadas, somam praticamente um terço da humanidade.
De 2012 a 2025, a contribuição das megacidades dos países emergentes (como São Paulo e Lagos, na Nigéria) para o crescimento global deve ir de 5% para 11%. Já a participação das cidades médias destes mesmos países deve saltar de 22% para 50%.
"No Brasil, por exemplo, o estado de São Paulo tem um PIB maior que o da Argentina, mas a competição é brutal. Novos atores no mercado brasileiro podem se dar melhor no Nordeste, a parte mais populosa e pobre do país, onde cidades em ebulição como João Pessoa e Natal crescem a uma taxa 50% maior do que a média nacional", dizem os autores.
Em um ranking divulgado recentemente pelo instituto Brookings e o JP Morgan Chase, o primeiro lugar mundial em performance econômica nos últimos anos ficou com Macau, a Las Vegas chinesa, que já ultrapassou a Suíça como o maior PIB per capita do mundo.
Em seguida vem três cidades turcas - Izmir, Istambul e Bursa - seguidas por Dubai e três cidades chinesas - Kunming, Hangzhou e Xiamen.
Mesmo com a desaceleração econômica, a China emplacou metade do top 15 das cidades que mais crescem - e você provavelmente nunca ouviu falar na maioria delas.
Tianjin, a 120 quilômetros de Beijing, tinha em 2010 um PIB de US$ 130 bilhões, mais ou menos do tamanho de Estocolmo, capital da Suécia. O trio da McKinsey estima que até 2025, a cidade terá um PIB de US$ 625 bilhões - igual ao da Suécia inteira.
Claro que esse movimento também traz toda uma nova série de problemas já velhos conhecidos das metrópoles: favelização, poluição, falta de transporte, violência, etc. Pelo menos para os autores, os ganhos superam os riscos:
"Historiadores econômicos mostram que por centenas de anos, pessoas morando em cidades experimentaram um padrão de vida de 1,5 a 3 vezes melhor do que seus companheiros no campo".
Em tempo: Porto Alegre vocês já conhecem, mas vale lembrar que Surat fica 290 quilômetros ao norte de Mumbai e responde por dois quintos da produção têxtil da Índia.
Já Foshan é uma das maiores cidades da área de Guangdong, na China, e tem mais de mil plantas industriais que fabricam pias, vasos sanitários e azulejos exportados para o resto do mundo.