Economia

S&P diz não ver políticas econômicas consistentes no Brasil

Lisa Schineller comentou que vai ser difícil o governo adotar medidas significativas de cortes de gastos devido justamente ao clima político em Brasília


	Congresso Nacional, em Brasília: Lisa explicou que a S&P prevê três anos seguidos de resultado primário negativo (a partir de 2014) e que mesmo assim existem riscos para o cumprimento das metas estabelecidas pelo governo
 (Jorge Silva/Reuters)

Congresso Nacional, em Brasília: Lisa explicou que a S&P prevê três anos seguidos de resultado primário negativo (a partir de 2014) e que mesmo assim existem riscos para o cumprimento das metas estabelecidas pelo governo (Jorge Silva/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2015 às 14h13.

Nova York e São Paulo - A diretora-gerente de ratings soberanos da Standard & Poor's (S&P), Lisa Schineller, afirmou que não vê uma entrega de políticas econômicas de forma consistente por parte do governo brasileiro.

Durante conferência pela internet, em diversos momentos ela citou a revisão nas metas de superávit primário, além das dificuldades nas negociações com o Congresso.

Lisa comentou que vai ser difícil o governo adotar medidas significativas de cortes de gastos devido justamente ao clima político em Brasília, além da rigidez na estrutura do Orçamento.

"A forte queda nas receitas é uma das causas da inabilidade de atingir as metas fiscais, em função do contexto econômico, e aumenta o desafio de lidar com a rigidez estrutural no médio prazo. Os membros da equipe econômica estão comprometidos com isso, mas, dado o contexto político, vemos muitos riscos para que isso seja executado", afirmou.

Lisa explicou que a S&P prevê três anos seguidos de resultado primário negativo (a partir de 2014) e que mesmo assim existem riscos para o cumprimento das metas estabelecidas pelo governo.

"Nós esperamos uma resposta lenta em direção à construção de um superávit primário, com uma lenta retomada do crescimento, mas temos de ver como as coisas vão progredir no Congresso", disse.

Ela afirmou ainda que, se o contexto fosse diferente, as medidas mais estruturais anunciadas pelo governo no primeiro semestre (como a mudança nas regras de pensão por morte e seguro-desemprego) poderiam ter melhorado o sentimento em relação ao Brasil.

O mesmo poderia ter sido observado com o programa de concessões em infraestrutura, mas os desdobramentos da operação Lava Jato, da Polícia Federal, e o desempenho muito ruim da atividade econômica acabaram impedindo isso.

"A capacidade de executar as políticas econômicas e fortalecer as perspectivas de crescimento é o que afeta o rating, e nós vemos uma capacidade menor de fazer isso hoje do que antes", afirmou Lisa. Mesmo assim, a diretora ressaltou que a S&P não fala em nenhum momento sobre um risco de solvência do Brasil.

Ela também foi questionada sobre o espaço muito curto entre a atribuição de uma perspectiva negativa para o rating brasileiro, em 28 de julho, e o corte da nota, em 9 de setembro.

Lisa reconheceu que o intervalo foi rápido, mas disse que a agência já tomou medidas semelhantes em prazos ainda menores antes.

"Houve uma mudança importante em termos de para onde a trajetória fiscal deve se mover nos próximos anos. Nós havíamos pressuposto metas fiscais mais fracas, mas considerando que haveria uma solução", admitiu.

Lisa ainda apontou que, geralmente, em ratings no grau especulativo, uma decisão após a atribuição de uma perspectiva (negativa ou positiva) ocorre dentro de um ano, mas deixou claro que não existe nenhum prazo predeterminado para uma nova decisão sobre a nota do Brasil.

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