São Paulo - A economia da Rússia deve enfrentar uma recessão de 3,8% em 2015 e de 0,3% em 2016 - e isso se o preço do petróleo não cair ainda mais.
A pobreza, que foi de 40% da população em 2001 para 10% em 2010, deve subir para 14,2% - o que não acontecia desde as crises de 1998 e 1999. A inflação anualizada já chegou a 15% e deve cair só no ano que vem.
Os números estão em um novo relatório do Banco Mundial de 50 páginas, lançado nesta semana com o título "A Aurora de Uma Nova Era Econômica?". E esta nova era promete ser sombria graças a dois choques.
O primeiro foram as sanções em resposta às atitudes da Rússia na Ucrânia, como a tomada da Crimeia. Os países ocidentais restringiram o acesso a financiamentos internacionais e troca de tecnologias, causando uma enorme fuga de capitais e paralisação de investimentos.
O relatório prevê que o impasse geopolítico não será resolvido tão cedo e que as sanções devem continuar em vigor no ano que vem, podendo alterar definitivamente "a estrutura da economia russa e como ela se integra ao resto do mundo"
O segundo choque foi a queda abrupta do preço de petróleo de acima de US$ 100 o barril em julho para menos de US$ 50 em dezembro. A economia russa é altamente dependente desta commodity e o Banco Mundial não espera uma recuperação forte deste valor em nenhum futuro próximo.
O rublo perdeu quase metade do seu valor em 2014, pressionando a inflação. Com recapitalização, aumento de juros e uso de fundos, a Rússia conseguiu fazer uma estabilização bem-sucedida e evitar a recessão, mas por pouco tempo. O governo se comprometeu a cortar 10% do orçamento em todas as áreas (com exceção de segurança), mas isso não foi suficiente.
No começo deste ano, a Rússia perdeu o grau de investimento na avaliação das agências Moody's e Standard & Poor's (a mesma que recentemente deu um voto de confiança ao Brasil).
O desemprego também ainda não foi muito afetado: tradicionalmente, a economia russa se adapta a contrações mais com cortes de salários do que com demissões.
A alta porcentagem de funcionários no setor público também ameniza este efeito, mas o relatório alerta: a pobreza vai subir, e os mais vulneráveis serão os mais afetados.
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1. Vítimas do dragão
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1/8 (Getty Images)
São Paulo - Em 2009, o jornalista Clóvis Rossi
perguntou a
Henrique Meirelles como ele havia convencido Lula a aumentar os juros dias após sua posse em 2003. O então presidente do Banco Central respondeu: "Disse a ele que, no Brasil, a
inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos." Por enquanto, não estamos neste patamar, mas a situação é tudo menos confortável. Na semana passada, o
IBGE divulgou que o Brasil teve em janeiro sua maior
inflação mensal
em mais de uma década. Tudo indica que a taxa deve
fechar 2015 acima dos 7%, estourando o teto da meta - o que não acontece desde 2003. Economistas esperam que
mesmo com a recessão, o índice só vá começar a ceder em 2016. Mas pelo menos por enquanto, a distinção dos dois dígitos fica com dois vizinhos latino-americanos, duas nações africanas e dois países que estão basicamente em guerra um contra o outro. Veja a seguir qual deve ser a inflação anual nestes 6 países na mediana de economistas ouvidos pela Bloomberg e quais são as raízes do fenômeno em cada um deles:
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2. Venezuela
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2/8 (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Inflação estimada para 2015: 72,3% (pesquisa de nov/2014)
O que está acontecendo: o
pacote de camisinhas de 2 mil reais é só o último exemplo do quão longe chegou o caos econômico na
Venezuela, um dos
piores países do mundo para se fazer negócios. Anos de estímulo da demanda combinados com uma desorganização total do setor produtivo e uma moeda desvalorizada levaram a prateleiras vazias; e nada estimula a inflação mais do que a escassez. A recente queda do preço do petróleo arrasou com as finanças do governo e só piorou a situação, já que faltam recursos para comprar importados. Enquanto isso, o presidente Nicolas Maduro continua culpando forças ocultas pelos desequilíbrio econômicos, que tenta resolver com medidas "criativas" como controle de preços,
tomada de empresas e
cadastro biométrico para compra em supermercados.
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3. Argentina
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3/8 (Reprodução/Facebook)
Inflação estimada para 2015: 22,5% (pesquisa de jan/2015)
O que está acontecendo: nossos vizinhos portenhos não hesitaram nem um pouco em aumentar gastos e imprimir dinheiro mesmo durante períodos de bonança. O resultado foi um peso desvalorizado e uma inflação que deve resistir ao segundo ano seguido de recessão na
Argentina. As respostas de
Cristina Kirchner se resumiram a aumentar o controle do setor privado, tentar segurar a saída de dólar, instituir controles de preços e maquiar as estatísticas oficiais, que já não são consideradas válidas pelas instituições privadas.
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4. Ucrânia
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4/8 (Reuters)
Inflação estimada para 2015: 17,5% (pesquisa de dez/2014)
O que está acontecendo: instabilidade política, a perda da
Crimeia e o separatismo violento no leste empurraram a
Ucrânia para uma grave crise econômica. A queda de produção industrial e desvalorização de sua moeda, em especial, contribuíram para a maior taxa de inflação em 14 anos. Outro fator (este em comum com o Brasil) é o aumento dos preços de energia, resultado da decisão do governo de cortar subsídios que existiam há décadas.
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5. Gana
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5/8 (SXC.Hu)
Inflação estimada para 2015: 13,2% (pesquisa de nov/2014)
O que está acontecendo: a economia de
Gana vem crescendo bastante nos últimos anos, mas isso acelerou a demanda e pressionou a inflação. Uma moeda em desvalorização e um governo com problemas fiscais também não estão colaborando. A boa notícia é que a tendência é de queda: o
petróleo mais barato ajuda a segurar os preços, e a taxa projetada pela Bloomberg está no centro da meta do governo (13% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo).
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6. Rússia
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6/8 (Andrey Rudakov/Bloomberg)
Inflação estimada para 2015: 13% (pesquisa de jan/2015)
O que está acontecendo: a Rússia
está em um momento difícil, para dizer o mínimo. Em 2014, o país se viu atingido por uma tempestade dupla: de um lado, sanções ocidentais para pressionar
Vladimir Putin a deixar a Ucrânia em paz; do outro, uma queda brutal dos preços de petróleo, principal fonte de divisas do governo. O resultado foi uma recessão violenta e uma depreciação forte do rublo. A alta dos juros não foi capaz de conter o processo, e algumas das reações de Putin - como proibir a importação de alimentos da Europa - só pioraram o problema. A solução para acalmar os ânimos foi
diminuir o preço mínimo da vodca, que está agora em R$ 14,64 por litro.
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7. Egito
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7/8 (Amr Abdallah Dalsh/Reuters)
Inflação estimada para 2015: 10,6% (pesquisa de dez/2014)
O que está acontecendo: o
Egito é um dos países do mundo que
mais subsidiam energia suja. A redução deste apoio é importante para melhorar a situação fiscal do governo, mas leva a aumentos de preços no curto prazo. O Banco Central também vem cortando os juros, priorizando o crescimento ao invés do controle da inflação. A economia do Egito é muito dependente do
turismo e está patinando com toda a turbulência política desde a derrubada de Hosni Mubarak no início de 2011.
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8/8 (Getty Images)