Chipre: de Moscou, o ministro de Finanças cipriota defendeu o direito de seu país negociar com a Rússia sua participação no resgate do sistema financeiro da ilha. (REUTERS/Yorgos Karahalis)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 14h20.
Moscou - A segunda rodada de negociações entre Rússia e Chipre sobre a participação de Moscou no resgate da ilha terminou nesta quinta-feira sem resultados, apesar de Nicósia ter afirmado que não deixará de negociar com os russos mesmo com a oposição da União Europeia (UE).
A Rússia parece ter aberto um parêntese em suas consultas bilaterais com o Chipre enquanto espera a concretização dos novos detalhes do resgate que está sendo negociado em caráter de urgência entre Bruxelas e Nicósia.
Com o governo cipriota correndo para aprovar um plano alternativo para arrecadar os US$ 5,8 bilhões de euros exigidos pela UE para fornecer mais US$ 10 bilhões ao resgate, o ministro das Finanças do pequeno país europeu, Mijalis Sarris, quase não deu sinais de vida durante sua segunda jornada na capital russa.
Sarris chegou ontem em Moscou para pedir uma prorrogação do crédito de US$ 2,5 bilhões de euros que Rússia deu ao Chipre em 2011 e também para sondar o interesse das empresas e do governo russo em comprar ativos estatais cipriotas, uma alternativa para injetar liquidez nos esgotados cofres da ilha.
O Chipre joga suas cartas em Nicósia, Bruxelas e Moscou, enquanto a Rússia e a Comissão Europeia, cuja delegação é liderada por seu presidente, José Manuel Durão Barroso, reúnem-se hoje e amanhã na capital russa para tratar agenda própria, ofuscada pela crise do país mediterrâneo.
Bruxelas pressiona para que o Chipre apresente o mais rápido possível uma solução que afaste o fantasma da quebra de seu sistema financeiro, mas o país ainda não chegou a um acordo que deixe todos satisfeitos, entre eles as empresas e cidadãos russos que têm contas na ilha.
O medo de espantar os investidores e magnatas russos que durante anos fizeram florescer com seu dinheiro o opaco sistema bancário cipriota é o que, na opinião de muitos analistas, provocou a rejeição de alguns setores no Chipre a taxar com um imposto extraordinário os depósitos bancários.
Após uma primeira jornada de negociações russo-cipriotas sem resultados, na qual Sarris se reuniu com seu colega russo, Anton Siluanov, e com o vice-primeiro-ministro, Igor Shuvalov, Moscou também não esclareceu hoje sua participação no resgate à ilha.
O governo russo quer que a UE leve em conta seus interesses na hora de negociar o resgate da ilha. Em Bruxelas, no entanto, a responsabilidade pela formulação das regras do resgate foi colocada nas mãos dos cipriotas.
A Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, deram hoje um ultimato ao Chipre: qualquer plano alternativo deve proteger a sustentabilidade de sua dívida, por isso não veem com bons olhos que a Rússia conceda novos empréstimos a Nicósia.
De Moscou, o ministro de Finanças cipriota defendeu o direito de seu país negociar com a Rússia sua participação no resgate do sistema financeiro da ilha.
Em entrevista telefônica para o canal de televisão pública cipriota, Sarris afirmou que as decisões tomadas na semana passada pelo Eurogrupo levara o país "ao desastre", por isso Bruxelas "não tem direito de impedir" Nicósia de solicitar "ajuda de outras partes".
O ministro das Finanças da ilha, no entanto, descartou um novo empréstimo da Rússia, mas indicou que a ajuda pode ser feita por meio de investimentos no setor bancário, energético ou no Fundo de Investimento Solidário, proposto hoje pelo governo do Chipre como modo de arrecadar dinheiro para o resgate.