Economia

Rombos na conta corrente vão ficar em níveis recordes, vê BC

A conta corrente brasileira no próximo ano ainda vai amargar rombos históricos como em 2014, segundo o Banco Central


	Banco Central: BC piorou sua projeção de déficit na conta corrente do Brasil neste ano
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Banco Central: BC piorou sua projeção de déficit na conta corrente do Brasil neste ano (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2014 às 19h18.

Brasília/São Paulo - A esperada melhora gradual da economia global e a recente alta do dólar, que tende a beneficiar a balança comercial, não serão suficientes para desafogar a conta corrente brasileira em 2015, que ainda vai amargar rombos históricos como neste ano.

O Banco Central piorou, nesta sexta-feira, sua projeção de déficit na conta corrente do Brasil neste ano a 86,2 bilhões de dólares, sobre saldo negativo de 80 bilhões de dólares calculados até então. Se confirmado, será o maior rombo na série histórica do BC, tomando o lugar do déficit de pouco mais de 81 bilhões de dólares do ano passado.

Um dos fatores que levaram a essa piora foi a balança comercial, que o BC calcula agora que fechará 2014 com déficit de 2,5 bilhões de dólares, bem pior do que o superávit de 3 bilhões de dólares esperado antes, no que seria o primeiro saldo negativo desde 2000.

A estimativa de uma balança deficitária levou em conta a desvalorização de commodities com peso importante nas exportações brasileiras, como minério de ferro, e saldo negativo na conta petróleo.

A visão do BC sobre o comércio internacional do país é pior do que a de economistas consultados em pesquisa Focus da própria autoridade monetária, de saldo negativo de 1,6 bilhão de dólares neste ano.

O primeiro da nova equipe econômica do governo não deve ser muito melhor. O BC prevê para 2015 déficit em transações correntes de 83,5 bilhões de dólares, um pouco menor do que deve ser registrado neste ano, beneficiado por um pequeno superávit na balança comercial, de 6 bilhões de dólares.

"O impacto da desvalorização cambial (do real sobre o dólar) observada nos últimos meses tende a contribuir para que o câmbio médio de 2015 seja maior do que o de 2014", afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, acrescentando que a perspectiva de maior crescimento global de 2015 também tende a contribuir no comércio exterior.

Só entre setembro e novembro, o dólar subiu quase 15 por cento ante o real, que continua pressionado agora, na casa de 2,65 reais. O movimento vem em meio ao cenário de aversão a risco no exterior e com investidores à espera de medidas concretas que a nova equipe econômica --encabeçada pelos ministros indicados Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), além do presidente do BC, Alexandre Tombini-- deve tomar em breve para enfrentar o cenário de inflação elevada e baixo crescimento econômico.

"Esta (conta corrente) é uma evidência poderosa, em última análise, de que a taxa de câmbio real ainda não depreciou até o ponto onde vai ajudar as contas externas", afirmou em nota o diretor de pesquisas para mercados emergentes do Goldman Sachs, Alberto Ramos, para quem o valor justo do dólar seria de 3,1 a 3,2 reais.

O cenário do balanço de pagamento brasileiro fica ainda mais nebuloso diante das previsões do BC sobre o Investimento Estrangeiro Direto (IED), que não compensará o rombo na conta corrente.

O BC vê que o IED somará 63 bilhões de dólares em 2014, mantendo a projeção anterior, e 65 bilhões de dólares em 2015.

"O déficit em transações correntes não é nem um pouco confortável", disse à Reuters o economista-chefe da Canepa Asset, Alexandre Póvoa, que trabalha para 2015 com um cenário em que esse saldo negativo fique em torno de 3 por cento do PIB.

Póvoa avalia que a conta externa dos país está vulnerável porque há vários riscos espalhados no mundo abrangendo a alta dos juros nos EUA, incertezas sobre a China e a crise na Rússia. Se em meio a esses riscos houver maior aversão ao risco isso poderá afetar fluxos financeiros e, em situação extrema, o IED.

Novembro

No mês passado, houve déficit em transações correntes de 9,333 bilhões de dólares, recorde para novembro, influenciado pela balança comercial e remessas de lucros e dividendos ao exterior.

No acumulado em 12 meses encerrados no mês passado, o déficit em conta corrente do país ficou em 4,05 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), o mais alto desde dezembro de 2001 (4,19 por cento), informou o Banco Central nesta sexta-feira.

O rombo na conta corrente no mês passado não foi compensado integralmente pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED) que, no período, somou 4,644 bilhões de dólares.

O déficit nas transações correntes --que abrangem a importação e a exportação de bens e serviços e as transações unilaterais do Brasil com o exterior-- foi impactado pelas remessas líquidas de lucros e dividendos, que somaram 2,704 bilhões de dólares em novembro, ante 2,842 bilhões de dólares em igual mês do ano passado.

Também continuou pesando a balança comercial, com déficit de 2,351 bilhões de dólares, depois de ter mostrado superávit de quase 1,8 bilhão de dólares um ano antes.

Para dezembro, a previsão do BC é de um déficit de 6,2 bilhões de dólares na conta corrente do país com o exterior.

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