Robô digitando (maxuser/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 4 de março de 2017 às 08h00.
Última atualização em 4 de março de 2017 às 08h00.
São Paulo – A ascensão dos robôs e da inteligência artificial vai causar desemprego em massa?
Esse é um dos maiores debates do mundo econômico atual e um estudo publicado recentemente aponta motivos para pessimismo.
O autor é Daniel Susskind, da Universidade de Oxford, que há dois anos publicou o elogiado livro “O Futuro das Profissões” com seu pai, Richard Susskind.
Agora, Daniel mirou em alguns dos pressupostos da literatura acadêmica que tenta prever o efeito da tecnologia sobre o mercado de trabalho.
O argumento mais comum é que máquinas podem ser ensinadas a fazer tarefas de “rotina”, aquelas baseadas em regras explícitas que podem ser articuladas, mas não aquelas "não-rotineiras", que envolvem alguma inteligência que nós não sabemos como sistematizar.
Para Susskind, a tecnologia avançou tanto que essa distinção já não se sustenta e as máquinas não precisam mais copiar a lógica humana para funcionar.
"Como resultado, a inabilidade dos seres humanos para expressar como desempenham certas tarefas não é mais um constrangimento para informatizar essas tarefas", diz o texto.
Um bom exemplo é o ato de dirigir um carro, considerado até pouco tempo atrás algo definitivamente "não-rotineiro". Hoje, todas as empresas automobilísticas estão desenvolvendo carros sem motorista.
Susskind também nota que o modelo anterior pressupõe que como certas tarefas não podem ser automatizadas, o capital complementa o trabalho.
Mas no modelo novo que ele criou, o uso de capital avançado pode matar empregos e diminuir salários, que no limite vão a zero.
"O capital tradicional não pode realizar os mesmos tipos de tarefas que o trabalho, ele faz um outro tipo. Mas o capital avançado pode fazê-las", diz o texto.
Os mais otimistas notam que esse medo de que a tecnologia torne as pessoas obsoletas é comum há séculos, especialmente em momentos de grandes mudanças.
Mas no balanço, a história da economia acabou provando a necessidade constante do trabalho, com novas funções substituindo as que foram eliminadas.
Tyler Cowen, professor da George Mason University, escreveu em uma coluna recente na Bloomberg View que esse processo é muito duro e que a visão histórica não tem nada de reconfortante.
A revolução industrial criou muita riqueza e transformou o mundo, mas demorou décadas para que seus benefícios chegassem aos trabalhadores britânicos.
"A substituição dos empregos agrícolas, apesar de eventualmente ter sido uma dádiva para a humanidade, trouxe problemas significativos pelo caminho. Dessa vez provavelmente não será diferente, e é exatamente por causa disso que deveríamos nos preocupar".