Frank Breitenbach: “é tarefa do banco central assumir o controle da quantia de dinheiro” do sistema (Martin Leissl/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 17 de agosto de 2016 às 14h17.
Frank Breitenbach gostaria de desmontar o sistema financeiro global enquanto está dentro dele. E depois montá-lo novamente, mas sem bolhas de crédito, crises e resgates de instituições em apuros.
Uma ideia antiga ganha força renovada na Europa, à medida que o populismo avança e aumentam as preocupações sobre a estabilidade das instituições financeiras: retirar dos bancos o poder de criar dinheiro e devolver esse poder ao Estado. Com exclusividade.
A proposta é considerada interessante até por insiders como Breitenbach. Ele atua em Frankfurt como vice-presidente da KfW IPEX, estatal que fornece financiamento para exportação, e também como integrante da Monetative, iniciativa que defende a volta do sistema conhecido na Alemanha como Vollgeld ou "dinheiro inteiro".
“Há muita liquidez no mercado agora e a situação é mais ou menos a mesma que tínhamos logo antes da crise de 2008”, disse Breitenbach em entrevista em 12 de agosto, ressaltando que estava dando sua opinião pessoal e não a visão da KfW.
“Tenho a sensação de que outra crise financeira vai acontecer.”
A solução do Vollgeld seria dar aos bancos centrais controle completo sobre a oferta de dinheiro. Os bancos comerciais seriam obrigados a cobrir com depósitos 100 por cento de seus empréstimos – seja via poupança, capital próprio ou captação.
Ou seja, as instituições financeiras seriam proibidas de criar dinheiro do nada – tributo inerente ao modelo bancário de reserva parcial que predomina desde a Idade Média.
Para os defensores do Vollgeld, a mudança é necessária para impedir as ondas de crescimento acelerado do crédito que contribuíram para a última crise econômica – e provavelmente vão contribuir para a próxima.
Segundo esse raciocínio, os bancos centrais então conseguiriam garantir que a economia real tenha a liquidez necessária e não mais do que isso.
“A quantia de dinheiro que o banco central vai injetar no sistema deverá ser alinhada ao crescimento econômico”, disse Breitenbach. “É tarefa do banco central assumir o controle da quantia de dinheiro” no sistema, acrescentou.
Embora o Vollgeld tenha pouco apoio na Alemanha (segundo Breitenbach, sua organização tem cerca de 100 integrantes), a proposta ganha força em outros países.
Uma versão apresentada na Suíça obteve as 100.000 assinaturas necessárias para realização de um plebiscito sobre o assunto e espera-se que a votação ocorra em 2018.
Essa votação aconteceria 85 anos após a primeira versão do Vollgeld ser ventilada como parte do chamado Plano de Chicago de reformas bancárias, elaborado por economistas dos EUA, como Irving Fisher, logo após a Grande Depressão.
Essas ideias nunca foram implementadas, mas o crescimento arrastado e a falta de avanço da prosperidade desde a crise financeira de 2008 renovaram o interesse nas mesmas.
A contraparte do Vollgeld no Reino Unido é o Positive Money, um grupo que também defende que o banco central financie os gastos públicos. Uma versão dessa proposta tem o apoio de Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, que faz oposição ao governo.
Adair Turner, que já foi presidente da Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido, e o ex-economista-chefe do Deutsche Bank Thomas Mayer discutem ideias parecidas.
Nada disso quer dizer que o Vollgeld estreará tão cedo. Além das preocupações em relação à estabilidade com a implementação de um novo sistema, não se sabe se o público europeu terá mais confiança nos bancos centrais do que nos bancos comerciais.
Na Alemanha, o Banco Central Europeu é visto com especial ceticismo.