EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2010 às 13h59.
A indústria brasileira, segundo se divulgou recentemente, está produzindo menos; em outubro, ficou um tanto abaixo do que fez em setembro, embora ainda acima do desempenho de um ano atrás. Os Estados Unidos, oficialmente, estão em recessão - já estavam, mas agora fica permitido pelas autoridades dizer que estão. O preço do petróleo se arrasta abaixo dos 50 dólares o barril, o que parece ser um perigo; aliás, o petróleo é sempre um perigo, a 50 dólares ou a 150, sua cotação até poucos meses atrás. O mesmo acontece com o dólar - a situação era ruim porque estava muito baixo, agora é ruim porque está muito alto. As exportações, que já vinham caindo, continuam a cair. Dos fundos de investimento, em novembro, saiu mais dinheiro do que entrou. É o oitavo mês seguido em que acontece isso, mas agora os números são dados ao público com a voz e a cara de quem apresenta seus votos de pêsames num velório. As montadoras, que até outro dia deixavam o governo preocupado por venderem carros demais e com prazos longos demais, agora preocupam porque estão vendendo de menos - a ponto de receberem dinheiro público para ajudá-las nas operações de crédito junto aos clientes. Da bolsa, então, é melhor nem falar. É a marolinha.
Vai virar marolão? Nada de esperar previsões, por gentileza: os jornalistas desta revista, hoje, têm instruções de resistir ao máximo à inclinação, ou ao vício profissional, de prever seja lá o que for no mundo da economia, dos negócios e de quaisquer outras questões. Serve como nossa modesta colaboração para o esforço geral de evitar a propagação de coisas que não acontecem, ou que acontecem ao contrário, mas isso não vai mudar realmente grande coisa. Os analistas, os consultores, os economistas e os calculadores de risco continuam a toda, como se as análises, as consultas, as opiniões e os cálculos que têm fornecido ao longo dos últimos tempos, quase sempre na direção oposta aos fatos, estivessem perfeitamente corretos. O que se vai fazer? Eles também são filhos de Deus e, como todo mundo, têm de ganhar o pão de cada dia; não vão parar de falar só porque estavam errados. Como continuam a prever, suas previsões, de um jeito ou de outro, continuam aparecendo na imprensa, pois até hoje não foi possível estabelecer um método realmente satisfatório de escrever sobre economia sem ouvir os economistas. Talvez se consiga, no futuro, fazer alguma coisa a respeito - mas o que se tem, por ora, é a vida como ela é.
Não faltam, assim, diagnósticos sobre o que está acontecendo e, muito menos, prognósticos sobre o que pode acontecer daqui a pouco. Na média do que se diz, a queda da indústria em outubro foi severa. Nos últimos três meses de 2008 pode haver uma queda no PIB em relação ao trimestre anterior. Nos primeiros três meses de 2009, pode haver outra. O mercado de emprego, no ano que vem, será pior que o deste ano. Pode haver recessão em 2009, dependendo do que se entenda por recessão, ou um crescimento bem abaixo do que vinha sendo anunciado até pouco tempo atrás. Há, enfim, o proverbial "não está excluído", uma das expressões preferidas por nove em dez profissionais da análise econômica - e aí a coisa vai longe. "Não está excluído isso", "não está excluído aquilo"; na verdade, quase nada está excluído e muito pouco está incluído, o que, francamente, não deixa ninguém mais bem informado sobre coisa alguma.
A reação mais normal diante desse tipo de situação é a espera. Empresas e cidadãos passam a esperar pelos índices de atividade industrial de novembro. Esperam pelos indicadores do último trimestre de 2008. Esperam pelas vendas de Natal. Esperam pelos dados do primeiro trimestre de 2009. Esperam que chegue o mês de janeiro ou que passe o Carnaval. Esperam pelo aumento dos gastos do governo em obras públicas, como se promete diariamente. Esperam por uma melhora na oferta de crédito. Esperam pela posse de Barack Obama. Esperam pelo resgate de GM, Ford e Chrysler. O problema desse tipo de atitude é que enquanto se espera não se faz ou se faz pouco - e a questão que fica por resolver, aí, é definir em que ponto a inatividade deixa de ser prudência e passa a ser um risco. Não está disponível, no momento, uma fórmula segura para chegar a essa definição. O que dá para saber, com certeza, é que não virá nenhuma ajuda do amontoado de interpretações sobre os indicadores econômicos - e que não vão errar os que tomarem a decisão de continuar fazendo o que sabem fazer.
Fora isso, é ficar adivinhando se estamos no pós-marolinha ou no pré-marolão.