Pedestres passam por prédios sendo demolidos na cidade de Hull, norte do Reino Unido (Simon Dawson/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2014 às 23h06.
Londres - A bússola tatuada em seu braço direito sugere uma vida no mar, embora John Rose nunca tenha trabalhado nas traineiras que alguma vez navegaram nas águas costeiras da cidade inglesa de Hull, no norte do país. Ele não tem um emprego estável há quase 30 anos.
Hoje com 52 anos de idade, Rose chegou à maioridade aproximadamente na época em que o porto pesqueiro que sustentava a cidade entrou em declínio.
A vida de bicos como DJ começou no início dos anos 1980, quando ele decidiu que não tinha esperanças de encontrar um trabalho regular.
Rose passa os dias tocando discos de vinil dentro de uma garagem alugada perto do porto. As notícias a respeito de uma recuperação econômica soam, para ele, como um disco quebrado.
“Nunca haverá uma recuperação”, disse Rose, enrolando um cigarro sem filtro com seus dedos tatuados com um “J” e um “R” e sua coleção musical empilhada ao redor. “Desde os anos 1970, quando eu era criança, as coisas só pioraram”.
Sua cidade natal, Hull, com uma população de cerca de 250.000 habitantes, tem uma taxa de desemprego de 13,5 por cento, a segunda mais alta taxa urbana do país depois de Hartlepool, de acordo com os números mais recentes do Departamento de Estatísticas Nacionais.
Hull e outras cidades do norte são uma mancha escura em um país cujo futuro é mais brilhante: a economia da Grã Bretanha poderá crescer 3,2 por cento em 2014, porcentual mais rápido entre os países do Grupo dos Sete, disse o Fundo Monetário Internacional em junho.
A recuperação mascara uma economia com duas velocidades, justapondo o sul rico e o norte pós-industrial.
A taxa de desemprego mais recente da região Nordeste, a mais alta do Reino Unido, é de 9,4 por cento, enquanto a do Sudeste, perto de Londres, é de 4,4 por cento.
Fechando as portas
Poucos lugares ilustram melhor a diferença do que Kingston upon Hull, nome completo da cidade. As lojas estão fechadas e desativadas no centro da cidade.
Dentro do paço municipal, de 100 anos de antiguidade, a recepcionista Deborah Precious, 59, jura que já viu o portão duplo de acesso às celas abandonadas, no porão, abrir sozinho à noite depois de ser trancado por ela.
Hull foi a segunda cidade mais bombardeada do Reino Unido depois de Londres na Blitzkrieg de 1940-1941. Muitas de suas docas marcadas estão agora fechadas, foram removidas ou estão assoreadas, embora o Porto de Hull ainda opere contêineres e cargas a granel.
Os cortes nos gastos públicos nacionais enfraqueceram cidades no norte do Reino Unido, juntamente com os salários em um baixo nível recorde.
O ganho semanal na região de Humber, no entorno de Hull, é de 490 libras (US$ 814) em média, o segundo mais baixo do Reino Unido depois da Irlanda do Norte.
Plano de empregos
A cidade poderá atenuar seus infortúnios dentro de 10 anos se os planos para atrair investimentos e criar empregos funcionar, disse o presidente da câmara municipal da cidade de Hull, Darryl Stephenson.
A câmara está buscando atrair até 7.500 empregos na próxima década. Em julho, a empresa de produtos para o lar Reckitt Benckiser Group Plc disse que investiria 100 milhões de libras em um centro de pesquisas em Hull.
Em 5 de agosto, o chefe do Tesouro britânico, George Osborne, prometeu bombear dinheiro novo em um plano para uma “potência do norte” que incluiria uma ferrovia de alta velocidade, melhoria dos ramais ferroviários e a transferência de poderes e fundos para as cidades.
Hull está excluída do projeto de 42,6 bilhões de libras do governo para construir uma ferrovia de alta velocidade conectando Londres com metrópoles como Manchester e Leeds, embora um relatório de julho aprovado por Osborne defenda uma nova linha ligando cinco cidades do norte.
Hull estaria no extremo leste da linha de passageiros e de carga, tendo melhor acesso a Londres.
Desafio da taxa
O Banco da Inglaterra, o BOE, tem um trabalho duro para estabelecer uma taxa de juros em um país cujas economias regionais variam de forma significativa. As taxas de juros estão em uma baixa recorde, de 0,5 por cento, desde março de 2009.
O presidente do BOE, Mark Carney, disse no mês passado que ainda não era hora de começar a remover os estímulos de emergência do Banco Central.
As taxas poderão subir em 2015, mostra uma compilação de projeções, o que torna mais difícil que empresas pequenas façam negócios em cidades como Hull.