Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, no EXAME Fórum Rio (Reginaldo Teixeira/reginaldofoto/Site Exame)
Luiza Calegari
Publicado em 6 de novembro de 2017 às 11h09.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2018 às 18h02.
Rio de Janeiro – O Rio de Janeiro vive a “maldição do petróleo e da Petrobras”, disse o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, referindo-se às descobertas do pré-sal e à dependência financeira causada por elas.
“Esperar que o petróleo pague a conta é o fim de um governo”, afirmou ele, durante o EXAME Fórum Rio de Janeiro nesta segunda-feira (6). Para escapar dessa sina, o único remédio é um novo projeto estrutural para a cidade, diz.
Para Rabello, qualquer diagnóstico sobre o Rio precisa admitir que tanto a cidade quanto o Estado estão em “estágio terminal”. “Precisamos pensar um novo Rio de Janeiro, porque o velho morreu. O velho Rio morreu”, aponta.
Em sua palestra “Em busca de uma guinada para o Rio de Janeiro”, Rabello defendeu que o cerne da crise é o “casamento forçado pelo general Geisel” entre o Estado da Guanabara (que era a cidade do Rio quando foi Distrito Federal, em uma situação análoga à de Brasília hoje) e o Estado do Rio.
“Eu gosto de um general sincero. Ele simplesmente achava que era absurdo serem duas coisas diferentes. E, sem perguntar para ninguém, foi lá e casou a Guanabara com o Rio à força na delegacia de polícia. E, desde então, é difícil saber se estamos falando do Rio como Estado ou da capital. Existe uma crise de identidade”, argumenta ele.
“O Estado tem uma situação que vai requerer uma repactuação importante da maneira de se gastar dinheiro aqui. Precisamos parar com essa mania brasileira de achar que nós vamos aumentar alguma alíquota de imposto para que um sofrido pedaço da população brasileira pague pelo gasto público”, opina Rabello.
O presidente do BNDES acredita que o problema do Rio de Janeiro não é falta de recursos. Ele apontou que os desembolsos do banco de fomento para o Estado chegaram a atingir 36 bilhões de reais por ano em 2010, mas hoje não chegam a 3 bilhões de reais.
“Bilhão não faltou para o Rio. É que nós desperdiçamos. Se os desembolsos estão quase zerados é um problema de demanda. Não é que o BNDES não esteja liberando. São os empresários que não estão pedindo.”
Além de um novo planejamento estratégico, que ultrapasse os mandatos políticos, Rabello tem outras sugestões para recuperar “a auto-estima” do Rio de Janeiro. Em relação à segurança, que ocupa o centro das preocupações especialmente em relação à capital, ele sugere uma ampla reforma imobiliária.
“A violência nas favelas só vai terminar quando os moradores tiverem o título de propriedade dos seus imóveis, quando se sentirem donos do lugar. Custa menos de 15 dias do juro da dívida regularizar a situação imobiliária das comunidades que vivem nos morros. E uma medida assim seria um choque de riqueza, de soberania individual para essas pessoas”.
Ele também acredita que ressaltar a vocação da capital como pólo turístico e tecnológico vai contribuir para dar a "nova cara" do Rio de Janeiro. O petróleo e a logística marítima completam o novo direcionamento político-econômico da cidade, diz.