Rio: situação fiscal preocupante do estado ficou mais clara recentemente, quando precisou de resgate financeiro (Frédéric Soltan/Corbis/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 9 de dezembro de 2019 às 19h23.
Última atualização em 9 de dezembro de 2019 às 19h43.
São Paulo — Mais pobre, o Rio de Janeiro perdeu em 2018 para Santa Catarina o terceiro lugar no ranking de maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil, segundo projeção feita pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Como os resultados da economia dos estados são consolidados com bastante defasagem em relação aos da economia nacional, esse movimento poderá ser confirmado no ano que vem, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o resultado final de seu cálculo.
"O que me chama mais atenção nesses dados é que, de 2002 a 2018, o Rio foi o pior estado do país em termos de crescimento", diz Juliana Trece, pesquisadora do Ibre responsável pela projeção.
Nesse período, o PIB per capita do Rio cresceu 23,3%. O segundo estado que menos cresceu no indicador nesse intervalo foi o Rio Grande do Sul, com uma taxa bem superior, de 30%.
Na série histórica que começa em 2002, o Rio deixou de ocupar o terceiro lugar na lista — encabeçada pelo Distrito Federal, seguido de São Paulo — apenas três vezes nos últimos 16 anos: 2004, 2005 e 2007, anos em que foi empurrado para quarto lugar por Santa Catarina.
Em 2008, o Rio recuperou a terceira posição, onde se manteve até 2017.
Esse período de "bonança" pode ser explicado, segundo Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre/FGV, por alguns motivos. Um deles é o fato de o Brasil ter conseguido o direito à sediar as Olimpíadas de 2016. "A notícia veio em 2009. Dessa data até a realização do evento, o estado ganhou com investimentos públicos e privados", diz.
O levantamento mostra que, de 2002 a 2014, o PIB per capita do Rio avançou 34,8%. De 2014 a 2017, no entanto, seu PIB per capita recuou 8,5%.
Passado o efeito dos investimentos ligados às Olimpíadas, o estado passou a sofrer mais com as influências do resto do país — que viu a maior recessão de sua história recente em 2015 —, e com suas próprias insuficiências financeiras, causadas por contas pouco sustentáveis.
"Para além da corrupção pela qual o estado passou, para termos uma ideia, em 2017, o Rio gastou mais com Previdência de seus servidores do que com os setores de saúde e educação", diz Balassiano.
Vale ressaltar que, durante períodos de crise financeira nacional, o estado também recebe menos recursos vindos de ICMS, por exemplo, que representa grande parte das receitas estaduais. Marcel também inclui nessa conta a redução das receitas vindas do petróleo, importantes para o Rio, e cujo preço caiu bastante nos últimos anos.
A situação fiscal preocupante do Rio ficou mais clara recentemente, quando o estado precisou de resgate financeiro e aderiu ao Regime de Recuperação Fiscal dos Estados.
"Se continuar desse jeito, o Rio será ultrapassado não só por Santa Catarina, mas por outros estados também", diz Trece. Rio Grande do Sul e Mato Grosso são os próximos na fila para fazer a ultrapassagem.
As projeções para 2018 foram feitas com base no IBC-BR, publicado mensalmente pelo Banco Central, e só para quatro estados: Rio, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Por isso, não é possível fazer um ranking nacional.