Fábrica da Ford em São Bernardo do Campo: governo de Cristina Kirchner não aceita medidas para beneficiar apenas as montadoras instaladas no Brasil (Julia Carvalho/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2014 às 21h26.
Brasília - O impasse nas negociações entre Brasil e Argentina para destravar o fluxo de comércio bilateral, sobretudo no setor automotivo, tem como principal razão a exigência de reciprocidade dos argentinos nas medidas sob avaliação pelo governo brasileiro. O governo de Cristina Kirchner não aceita medidas para beneficiar apenas as montadoras instaladas no Brasil. Quer a garantia dos mecanismos de financiamento às exportações de automóveis ao Brasil.
Na avaliação dos vizinhos, as propostas do governo Dilma Rousseff beneficiam somente a venda de veículos produzidos no lado de cá da fronteira. Em crise cambial, e com dificuldades para exportar seus produtos, os platinos buscam "pegar uma carona" nas medidas de blindagem das transações bilaterais.
O governo brasileiro propôs criar um mecanismo de financiamento às exportações brasileiras para o vizinho, mas o governo de Buenos Aires incorporou às negociações metas para a integração produtiva com o objetivo de beneficiar, principalmente, os fabricantes de autopeças argentinos. No Brasil, calcula-se que as montadoras deixaram de ganhar US$ 250 milhões no primeiro trimestre deste ano. Até o fim do ano, o "prejuízo" poderia ultrapassar US$ 1 bilhão, informaram fontes graduadas ao 'estado'.
Uma nova tentativa de fechar um acordo foi frustrada nesta terça-feira, 29. Em reunião com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Mauro Borges (Desenvolvimento), os ministros argentinos da Economia, Axel Kicillof, e da Indústria, Débora Giorgi, debateram alternativas e soluções por várias horas em Brasília. Representantes da indústria automobilística dos dois países também participaram do encontro.
A reunião não foi conclusiva e um novo encontro com técnicos dos dois países foi agendado para os dias 6 e 7 de maio, em Brasília. O Brasil esperava receber da Argentina uma resposta à proposta apresentada na semana passada de usar o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para viabilizar as linhas de crédito a ser ofertadas por bancos privados no Brasil para financiar o importador argentino nas compras brasileiras. Para colocar em prática as operações, as instituições financeiras querem garantias de que receberão de volta o financiamento.
A ideia do governo brasileiro é fazer as operações dentro do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), um sistema de compensação de pagamentos em vigor por acordo dos dois bancos centrais. Em caso de inadimplência do país vizinho, o FGE seria o garantidor final. Na reunião de hoje, foi criado um grupo de trabalho para chegar a uma solução na próxima semana.
Os dois países também darão início a um cronograma de negociação para a renovação do acordo automotivo bilateral. A Argentina quer uma maior importação do Brasil de autopeças locais. O governo e setor automotivo brasileiro insistem em prorrogar os acordo sem aumentar as exigências de importação como contrapartida para que o Brasil possa exportar para a Argentina sem tributação.
Um interlocutor do setor privado, que tem participado das negociações, disse ao Broadcast que as negociações para melhorar o comércio e a integração produtiva bilateral não terão efeito nas vendas das empresas se não houver um fortalecimento do mercado doméstico dos dois países. O raciocínio é que não adianta integração se não houver demanda pelos automóveis. "Não adianta integração se o mercado cair", argumentou.